SÉRIE Desafios 2026. Antônio Carlos Pela: “O empresário precisa ser participativo e enfrentar o futuro como ele se impõe”

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Antonio Carlos Pela: 81 anos entre o desafio e o sonho de empreender
(Andre Lessa/Agência DC News)
  • Do pequeno vendendor de arame com seu pai, ao empresário que vendeu ativos para Gerdau, Antônio Carlos Pela multiplica também conhecimento
  • Entusiasta da tecnologia, o conselheiro da ACSP não tem medo do que está por vir, ao contrário, se mostra animado com o futuro
Por Felipe Nogueira Porto Seibel

[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
Esta reportagem faz parte da série especial Desafios 2026, iniciativa da AGÊNCIA DC NEWS que coloca no centro da agenda as discussões capazes de impulsionar o desenvolvimento econômico do país e da cidade de São Paulo. Puxando o debate estão o presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Roberto Mateus Ordine e o presidente do Conselho Superior da instituição, Rogério Amato, além dos oito integrantes da Diretoria Executiva da ACSP, entre eles Antônio Carlos Pela, membro do Conselho Diretor, do Conselho Deliberativo e da Diretoria Institucional da associação. Pela, empresário com trajetória marcada por decisões estratégicas e visão de futuro, aprendeu que prosperar no Brasil exige mais do que competência: é preciso compreender a realidade do país e navegar em meio a suas complexidades estruturais. “O empresário precisa ser otimista, participativo e enfrentar o futuro como ele se impõe”, afirma. Segundo ele, esse é o único caminho: “Ou a gente se adapta ou morre”. Em um cenário de burocracia pesada, carga tributária elevada e insegurança jurídica, o empresário que deseja crescer, disse ele, precisa antecipar mudanças, planejar com cuidado e estar preparado para aproveitar oportunidades, mesmo em um ambiente que, muitas vezes, parece inóspito para a iniciativa privada.

Ao longo de sua trajetória, Antônio Carlos Pela enfrentou desafios concretos do setor produtivo. Começou vendendo arame na pequena fábrica do pai e, com o tempo, expandiu empresas industriais e incorporadoras, culminando na venda de sua fábrica para o Grupo Gerdau – um marco que consolidou sua experiência e abriu novas frentes de atuação. E tudo isso enquanto, segundo ele, lidava com a insegurança jurídica de um país que sempre se coloca como a nação do futuro, embora, na prática, enfrente esses mesmos desafios há décadas. “Se a gente tivesse uma legislação clara, seria muito mais fácil, mas não temos segurança jurídica nenhuma!” Na ACSP, Pela atua em projetos que buscam modernizar o ambiente urbano e fortalecer a economia local, mostrando como experiência prática se traduz em políticas concretas. E, aos 81 anos, observa o horizonte econômico com o mesmo olhar curioso que o trouxe até aqui. “Tem profissões do futuro vindo aí, que a gente nem sequer sabe quais são”, disse. Com o mantra de observar, analisar e só então agir, Pela se mantém preparado para antecipar tendências e orientar novos empreendedores.

Com esse olhar atento e gentil, Pela me recebeu em sua casa em uma tarde de julho. A atmosfera era acolhedora: ao lado dele, a esposa, D. Margareth, com quem compartilha mais de 50 anos de casamento, transmitia orgulho e alegria; quatro cães brincavam livremente, enquanto os netos corriam pelo espaço entre risadas e lanches. Em meio a tudo isso, Pela permanecia atento a cada detalhe. “Você tem que estar presente”, disse ele, resumindo um mantra que guia tanto sua vida pessoal quanto profissional. Hoje, mesmo aposentado, participa diariamente de reuniões do Conselho de Política Urbana, Conselho de Segurança, além de marcar presença nos encontros do Conselho Superior da ACSP, uma bateria pesada de eventos, mas que ele garante fazer com prazer. No cerne das discussões, temas como as fachadas ativas de prédios no Centro e projetos para revitalizar a cidade. Tudo isso enquanto atende jovens empreendedores sedentos por conselhos. “O comércio mudou drásticamente”, disse ele, que faz das suas palavras a prática diária. “A gente tem que se adaptar. Minha geração teve que fazer isso! Eu chamo os netos pra me ajudarem com o celular”. Confira a entrevista.

Escolhas do Editor

AGÊNCIA DC NEWS – Para começar, conte-nos sobre onde você nasceu e como era o lugar na sua infância. 
ANTÔNIO CARLOS PELA – Eu sou nascido em São Paulo, meus avós foram imigrantes italianos que vieram para cá para trabalhar inicialmente na terra, depois se tornaram pequenos comerciantes. Meu pai nasceu nesse meio. Chegaram em Santos e vieram para São Paulo, se estabelecendo ali em Santana. E meu pai foi criado dentro desse espírito, dentro dessa família italiana… Aproveitando as dificuldades materiais daquele tempo – na época da Segunda Guerra, eu nasci em 1944, – meu pai se tornou pequeno industrial, trabalhando no setor de máquinas, máquinas gráficas, máquinas de grampear etc., que atendiam o setor gráfico. E foi com isso que ele criou a mim e meus irmãos.

AGÊNCIA DC NEWS – Vocês são em quantos irmão?
ANTÔNIO CARLOS PELA – Três irmãos. Nós perdemos, infelizmente, muito cedo a nossa mãe, eu tinha seis anos de idade. Meu pai ficou viúvo e eu fui morar um tempo com uma tia que vivia em Ribeirão Preto. Foi lá que fiz os primeiros anos de escola pública. Quando meu pai conseguiu recompor a vida dele, fiz os primeiros anos de escola pública. Quando meu pai se casou, me deixou no Liceu Coração de Jesus, onde eu fiz o primário e e o médio. Saindo do Coração de Jesus, completei os estudos no Martiniano de Carvalho. Depois, fui para o Eduardo do Prado fazer Eletrônica, porque dizia que naquela época Eletrônica era o máximo. Fiz dois anos de Eletrônica, não me adaptei, fui fazer Contabilidade, onde me senti melhor. Me senti contador. Depois, entrei no Mackenzie e fiz Economia e Administração. Essa foi minha graduação – depois, complementei com aqueles cursos semestrais na Fundação Getúlio Vargas. 

AGÊNCIA DC NEWS – E você frequentava a empresa do seu pai nessa época?
ANTÔNIO CARLOS PELA – Eu sempre acompanhava meu pai nas coisas que ele tinha para fazer. Na época da faculdade, comecei a trabalhar vendendo as coisas para o meu pai. Então, percorria as ruas, saindo de pastinha na mão mesmo, ia fazendo tudo isso.

Aspas

A gente tem que ter otimismo. Acho que é uma das coisas que a gente precisa para vencer na vida

Aspas
Antônio Carlos Pela

AGÊNCIA DC NEWS – Em Santana? 
ANTÔNIO CARLOS PELA – Não, ele já estava no Brás. Depois foi um pouco mais acima, ali na rua São Leopoldo e montou uma fabriquinha, uma fabriquinha até boa. Ele tinha uns 20, 30 funcionários. E quando eu me formei na faculdade, cheguei para o meu pai e falei: “olha, eu vou tentar percorrer alguma coisa por minha conta.” E fui procurar um emprego, procurei um emprego no ramo bancário e fui trabalhar no Investbank, que era um banco de negócios presidido pelo ex-ministro Roberto Campos. Foi ali que iniciei minha vida profissional enquanto estudava – trabalhei no Investbank durante os quatro anos, até o banco ser vendido. Quando fechou, eu falei: “não quero trabalhar com meu pai novamente.” Mas meu pai chegou para mim e falou: “olha aí você está se desenvolvendo e eu preciso de você.” Então, fui junto com meu irmão mais velho, que já estava trabalhando lá. Sou o segundo filho – tinham ainda minhas irmãs, duas meninas que não trabalhavam conosco.

AGÊNCIA DC NEWS – E como essa experiência inicial, no chão da fábrica, moldou seu olhar para o negócio?
ANTÔNIO CARLOS PELA – Então, a indústria cresceu. Meu pai fabricava máquinas de grampear. E o interessante é que os compradores dessas máquinas consumiam muito arame para fazer a grampeação. Ele comprava arame dos produtores e vendia. sabe? Um pequeno comércio. Um dia, um senhor apareceu querendo vender arame para ele. Fomos lá ver a “fabriquinha” dele, aqui na Lapa, perto daqui, e meu pai acabou comprando essa fábrica!

AGÊNCIA DC NEWS– Uma reviravolta?
ANTÔNIO CARLOS PELA – Pois é! Era uma novidade para nós, não tínhamos know-how nenhum. Mas, queríamos expandir. Era bem diferente do mercado de máquinas. Máquinas, você vende uma, duas… e depois só dá manutenção, vende peças… Mas o arame era de consumo! Consumo mensal, recorrente! Isso nos chamou muita atenção. Daí, começamos a dar uma atenção melhor na fabricação de arames. Eu mesmo saía, vendia. Até tenho uma passagem engraçada… A gente fazia vários tipos de arame, mas tinha o galvanizado, sabe? Aquele de cerca.

AGÊNCIA DC NEWS – O farpado?
ANTÔNIO CARLOS PELA – Não farpado, o liso (risos)! Primeiro vem o liso, depois põe a farpa. E retrefilar é afinar o arame, esticá-lo de novo. Começamos a fornecer para a indústria de cadernos, para o espiral. Em pequenas quantidades, no começo. Um belo dia, fui visitar um cliente nosso, o senhor Ferreira, me lembro como hoje, um senhor gordo, mais velho… Cheguei lá, perguntei se tinha gostado do arame. Ele disse: “Gostei sim! Vou lhe fazer um pedido, menino!” Eu pensei: “Opa, que bom!” E ele me fez um pedido de cinco toneladas!

AGÊNCIA DC NEWS – E aí?
ANTÔNIO CARLOS PELA – Na hora, eu saí da empresa dele meio tonto, sem saber o que fazer (risos)! Voltei pra nossa empresa e falei: “peguei esse pedido, e agora? O que vamos fazer?” A gente produzia umas 15, 20 toneladas por mês, no máximo. Um pedido de cinco toneladas era 30% da nossa produção! Decidimos: “vamos entregar isso!” Trabalhamos dia, noite, sábado, domingo, feriado… E entregamos tudo dentro do prazo. Isso nos animou demais, mostrando o tamanho do mercado. Nos fez ver que era possível crescer muito.

AGÊNCIA DC NEWS – E essa expansão levou vocês para onde? 
ANTÔNIO CARLOS PELA – Em vista desse crescimento, mudamos para Mauá, lá pelo início dos anos 1970. Era uma fábrica já mais evoluída, claro, com todos os problemas de uma mudança. E nesse período, sabe, passamos por um aperto danado de dinheiro. O banco que nos ajudava era o Banco do Brasil. Meu irmão e eu tocávamos a fábrica, tínhamos que vender, pagar os compromissos. E, poxa, naquela época, transferir conta de um banco para outro, de uma agência pra outra, de uma cidade para outra… era uma dificuldade. A gente ficou bem apertado.

AGÊNCIA DC NEWS – E como foi que superaram essa fase?
ANTÔNIO CARLOS PELA – O gerente do Banco do Brasil lá se chamava Vamba. Nunca vou esquecer esse nome. Meu irmão foi, conversou, pedindo crédito, aquelas coisas. O Vamba foi nos visitar na fábrica, quis conhecer as instalações. Chegou lá, olhou tudo, e perguntou: “como está sua carteira de pedidos?” Felizmente, sempre tivemos uma boa carteira. Mostramos tudo. Ele chegou e falou: “pode tocar a fábrica, faturar, que eu te aguento lá! Tudo o que você precisar: faço desconto dos duplicados, dou crédito.” Foi um momento muito marcante, muito! Porque a partir dali, tudo fluiu. A fábrica começou a andar. Não estávamos pensando em fechar, não, mas precisávamos de uma injeção de ânimo, sabe? Foi o Dia D, a reviravolta. Emocionante, né?

AGÊNCIA DC NEWS – Emocionante! E a partir daí, qual foi a grande conquista?
ANTÔNIO CARLOS PELA – Ah, a grande conquista… Foi a venda da nossa empresa para a Gerdau. Isso deu outra abertura para a nossa vida. Já estávamos com uma empresa volumosa, grande, com uns trezentos, trezentos e poucos funcionários, funcionando 24 horas por dia. Para um Grupo Gerdau se interessar, você imagina… Não foi fácil a negociação, envolveu muito trabalho e um período longo. Mas essa venda permitiu, por exemplo, que eu tivesse mais facilidade para fazer outras coisas. Montamos uma incorporadora, incorporamos prédios, condomínios… Sempre como incorporadores, não construtores. Tive outras indústrias também: a Ar.Ma (arames e máquinas), a Chaparral (materiais de escritório), a LPD (laminação de metais). Eu era sócio e, com o tempo, vendia ou passava minha participação.

AGÊNCIA DC NEWS – E hoje, qual é a sua ocupação principal?
ANTÔNIO CARLOS PELA – Hoje, eu sou a-po-sen-ta-do (risos). Cheguei aos 81 anos. Há uns dez anos, tive um câncer, e aí falei: “tenho que repensar minha vida.” Meus filhos já estavam encaminhados — um advogado, outro trabalhando numa consultoria americana e o terceiro em um banco. Não me dão preocupação. Daí, eu parei com os negócios. Terminei as incorporações, fechei as empresas, liquidei tudo para não ficar com pendências e, ah, hoje vivo da generosa aposentadoria que o governo nos dá (risos)!

AGÊNCIA DC NEWS – E como se mantém tão ativo, mesmo aposentado, com essa energia toda?
ANTÔNIO CARLOS PELA – Ah, meu voluntariado na Associação Comercial me mantém assim!

AGÊNCIA DC NEWS – Como se deu sua história com a Associação? Qual foi o primeiro contato, a primeira impressão, e o que o motivou a se envolver de forma tão profunda? 
ANTÔNIO CARLOS PELA – Pois é… Quando nós vendemos a fábrica, eu saí do Sicetel (Sindicato Nacional da Indústria de Trefilação e Laminação de Metais Ferrosos), onde eu era presidente. Lá, conheci o Élvio Aliprandi, que virou presidente da ACSP. E o Élvio, quando assumiu, me pegou pelo braço e disse: “eu quero você junto comigo!” E eu fui para a Associação. E, olha, eu gostei muito do voluntarismo que a gente tem lá, dos trabalhos. Fui acompanhando, os presidentes foram mudando… Mas o que mais me atraiu foi o comportamento da Associação Comercial no meio empresarial. A credibilidade que tem, o nome, a forma correta com que trabalha. A Associação vai fazer 132 anos! Você nunca ouviu falar mal dela, ou que fez algo incorreto. Lá, se pensa muito antes de fazer, se estuda muito. Essa firmeza, essa responsabilidade que a ACSP tem e que cobra dos colaboradores… isso é uma marca muito forte. 

AGÊNCIA DC NEWS – E ao chegar na ACSP, encontrou rostos familiares? Há alguma história que mostre a essência das relações construídas ali?
ANTÔNIO CARLOS PELA – A ACSP oferece exatamente essa oportunidade de fazer laços de amizade, laços negociais. Sempre com muita cautela, porque sociedades comerciais sempre podem dar problema, sabe? Nunca fiz sociedade ou negócio com eles, mas me identifico muito com os presidentes, com o Élvio, com o Alencar Burt. O Burti é um doce de pessoa. O Rogério Amato é meu amigo até hoje. Estive com ele, com o Alfredo Cotait também. São pessoas que marcaram, admiráveis. O atual presidente, o Ordine, tem uma responsabilidade e um carisma muito fortes, e uma vontade de trabalhar que a gente precisa elogiar.

AGÊNCIA DC NEWS – E no seu dia a dia na ACSP, como é essa rotina? Quais são as interações, os desafios…?
ANTÔNIO CARLOS PELA – Vou toda semana na Associação Comercial, pelo menos duas vezes. Fora os eventos, como hoje, que é o Dia do Comerciante. Tem um prêmio, um jantar no Círculo Militar para 600 pessoas. Minha rotina é assim: as reuniões começam às nove da manhã e vão até meio-dia. Na CPU (Conselho de Política Urbana), a gente se reúne com a equipe técnica – eu tenho três arquitetas que trabalham comigo. Damos as diretrizes. Almoçamos lá mesmo, tem um restaurante excelente. Depois, tenho outras reuniões, às vezes com membros do Conselho Superior, ou com outros setores, trocando informações. Ontem mesmo, entrei às nove, reunião até meio-dia e meia, almocei, e às duas tive reunião com membros do Conselho Superior para levar problemas da CPU. E depois participei da entrega da maior comenda da ACSP, o colar Carlos de Souza Nazareth. Saí de lá cinco, cinco e meia da tarde. É um dia rotineiro! 

AGÊNCIA DC NEWS – E como coordenador do CPU, quais são os pilares e as grandes bandeiras que guiam o trabalho de vocês?
ANTÔNIO CARLOS PELA – Olha, a gente trabalha muito com as diretrizes tomadas pelo município. Analisamos e apresentamos sugestões. Ontem, por exemplo, apresentamos na diretoria-executiva um problema que a CPU levantou: as fachadas ativas dos prédios. Contratamos uma empresa que pesquisou 1.200 prédios em São Paulo, conversando com incorporadoras, construtoras… O que acontece é que antigamente, nos bairros como Vila Nova Conceição ou Vila Madalena, você tinha o verdureiro, o barzinho, saía de casa e tinha tudo ali. Hoje, são prédios sem mercearia por perto, sem nada. Perdeu-se essa característica.

AGÊNCIA DC NEWS – A cidade ficou mais fechada?
ANTÔNIO CARLOS PELA – Exato! Então, pensou-se em criar espaços embaixo dos prédios novos para ter vida. A legislação deu vantagens aos incorporadores, não considerando como área útil de construção. Mas eles não pensaram nos “três Ps” da incorporação: Preço, Projeto e Ponto. Fizeram só pensando na vantagem, com pé direito normal, baixo, o que não serve para o comércio. Não pensaram em lugar para carro, em movimentação… E o que acontece? 80% desses espaços estão vazios! Eles não estão entendendo o porquê. Esqueceram do projeto adequado, do local adequado. É uma encrenca séria!

AGÊNCIA DC NEWS – O desenvolvimento do Centro de São Paulo é uma de suas paixões. Se pudesse fazer uma grande mudança nele, qual seria?
ANTÔNIO CARLOS PELA – Ah, essa é uma pergunta… (silêncio, pensativo). Eu diria que teríamos que ter uma política melhor, mais coerente, menos ideológica. Se a política não puxasse só interesses de lá e de cá, teríamos algo muito melhor. O problema é que entra um prefeito e engaveta tudo o que o anterior fez! É uma coisa que acontece no Brasil, não há plano de governo, não há plano de Estado. É a pior coisa que tem. Mas, se eu pudesse escolher uma única mudança para impactar a cidade, seria: levar a população para o Centro, levar a moradia para o Centro. Eu acredito que, tendo moradores no Centro, você resolve todos os problemas! Cada um cuidaria do seu pedaço, e ficaria muito melhor. Hoje, ninguém está cuidando de nada.

“O futuro passa, invariávelmente, pela educação. Educação. Educação!”

AGÊNCIA DC NEWS – Tem percebido alguma mudança?
ANTÔNIO CARLOS PELA – Olha, hoje você já sente o Centro diferente, já melhorou bastante. Mas uma mudança expressiva, de verdade, acontecerá quando tiver mais gente morando lá. As construções que estão sendo feitas demoram, quatro, cinco anos. Mas hoje, você já não vê aquela multidão de pessoas dormindo na Praça da Sé. Melhorou a iluminação, o policiamento. O governo, tanto municipal quanto estadual, está fazendo um bom trabalho. É de pouquinho em pouquinho que se resolve. Trazendo vida noturna, moradores, o Centro vai ficar bom. Quanto tempo? Não posso dizer, é demorado, vagaroso. Mas, a ideia de trazer 200 mil funcionários do Estado para lá… É um esforço enorme!

AGÊNCIA DC NEWS – E em sua visão, quais são os três maiores desafios que São Paulo precisa superar nos próximos anos para se consolidar como um polo mais vibrante de negócios, inovação e qualidade de vida? 
ANTÔNIO CARLOS PELA – Essa é fácil: Educação, Educação e… Educação! Você tendo Educação, você forma as pessoas, e o restante, você cobra.

AGÊNCIA DC NEWS – E se o ambiente de negócios de São Paulo fosse um grande mestre, qual seria a maior e mais profunda lição que ele te ensinou ao longo de todas essas décadas? 
ANTÔNIO CARLOS PELA – Ah, sim. É que São Paulo é uma cidade que recebe as pessoas de fora com o coração aberto. O Brasil é assim. Recebe qualquer imigrante ou migrante, seja o italiano, o alemão, o português, o espanhol, o nordestino… Todos de coração aberto. E não fazemos distinção de credo, religião, cor. O Brasil, São Paulo… é um caldeirão. Aqui tem uma grande comunidade portuguesa, italiana, japonesa, judaica – a maior fora de Israel, está em São Paulo! E tudo é maior aqui! Mas a gente recebe bem. Não importa. O judeu e o palestino estão vendendo suas coisas um do lado do outro e tomando cafezinho juntos (risos)! No outro lado do mundo, estão se matando. Essa característica brasileira, paulistana… é essencial.

AGÊNCIA DC NEWS – Sua atuação na ACSP e no CPU exige uma grande capacidade de diálogo e articulação. Qual a importância de um aparato jurídico mais  robusto? 
ANTÔNIO CARLOS PELA – Se a gente tivesse uma legislação clara, que não deixasse dúvidas, seria muito mais fácil. Mas hoje, a gente não tem segurança jurídica nenhuma! Você vai fazer contato com o pessoal de fora, a primeira preocupação é essa. A questão tributária é muito séria. É uma diversidade, uma quantidade de impostos… precisa de uma estrutura enorme para calcular! E quando você tem essas coisas complicadas, as empresas não vão para frente. O Simples Nacional, por exemplo, que foi uma criação da ACSP, é fundamental para o pequeno empreendedor. Sobre a adaptação às novas realidades do mercado, como a digitalização… A faculdade da ACSP é um exemplo. Estamos habilitando as pessoas para o que está vindo, para a IA, para tudo. O comércio mudou drasticamente. Os grandes varejistas estão com dificuldades porque você compra pelo computador. Concorrência de preços em segundos, entrega rápida. As livrarias… Quase não existem mais! Antigamente eu adorava ir à livraria, ficar penando para escolher um livro. Hoje, a Amazon te entrega mais barato. A lógica mudou! Ou a gente se adapta ou morre. Roupa, sapato, ainda precisa ir à loja, experimentar. Mas geladeira, televisão… Você compra online e chega perfeito. Se der problema, devolve grátis. 

AGÊNCIA DC NEWS – É um caminho sem volta?
ANTÔNIO CARLOS PELA – Pois é! Você vê como a gente se adapta! Tem profissões do futuro vindo aí, que a gente nem sequer sabe quais são. A Inteligência Artificial… ainda pouca gente sabe mexer, pouca gente sabe aplicar. Mas você imagina o que vai ser! Vejo tudo isso, essa transformação. O homem foi para a lua com régua de cálculo! Eu aprendi a calcular na régua de cálculo (risos)! Hoje, não sei mais mexer. Isso aqui (aponta para o celular) substitui tudo! É um computador na mão. Outra coisa que li no jornal hoje: a Nokia está fechando. Foi a primeira a soltar o celular. Era um sonho de consumo! Mas veio o iPhone, as outras… e a Nokia faliu. A Kodak, um monstro na fotografia, hoje… Brincadeira fotografar em alta qualidade! A gente tem que se adaptar. Minha geração teve que fazer isso! Eu chamo os netos pra me ajudarem com o celular (risos)! 

AGÊNCIA DC NEWS – Como é viver esses momentos tão voláteis?
ANTÔNIO CARLOS PELA – A gente tem que ter otimismo. Acho que é uma das coisas que a gente precisa para vencer na vida. Se você não tem otimismo, começa a ter medo de fazer isso, medo de fazer aquilo, e daí não realiza o que é preciso.

AGÊNCIA DC NEWS – Olhando para o futuro e para tudo o que vivemos e aprendemos hoje, qual é a mensagem mais importante que você gostaria de transmitir aos empreendedores e empresários, especialmente aqueles que estão começando ou que enfrentam momentos de incerteza? 
ANTÔNIO CARLOS PELA – Eu diria para esses empresários, baseado na experiência que a gente tem, que eles teriam que ser empreendedores fortes e ter coragem, acreditar, não serem pessimistas. Serem otimistas sempre. Participativos, é claro. Você tem que estar presente. Sejam positivistas, não negativistas. Que pensem no futuro sempre. Tenham alegria, porque pessimistas sem alegria ficam uma coisa horrenda. Que sejam alegres, positivistas e enfrentem o futuro como ele se apresenta. Vai mudar tudo! Daqui a alguns anos, você vai ver só!

AGÊNCIA DC NEWS – E se você pudesse dar um conselho para o jovem Antônio Carlos Pela, começando sua carreira hoje, com a sabedoria que você tem agora, qual seria esse conselho? 
ANTÔNIO CARLOS PELA – Ah, essa é boa… (silêncio pensativo). Fazer boas escolhas na vida. Eu, outro dia, quando fiz 50 anos de casado, me perguntaram: “o que você faria, pai?” Falei: “eu casaria com a mesma mulher!” Então, é isso: foram feitas boas escolhas lá atrás. Fazer um bom planejamento, escolher boas pessoas para trabalhar com você. Mas um conselho que eu daria para o Antônio Carlos Pela lá de trás, algo que, poxa, se eu soubesse disso naquele tempo… seria: escolha bem seus sócios. Talvez, se eu tiver que deixar alguma coisa da minha vida, foram escolhas erradas de alguns sócios. Quando você não tem um bom sócio, você está danado. É a mesma coisa de não ter uma boa mulher que te trai. Um bom sócio é a mesma coisa, te trai. Ser otimista, ser alegre e ter bons sócios. Atingi a meta? 

AGÊNCIA DC NEWS – Sem dúvidas.

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