SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em uma ação inédita, o Exército de Israel realizou nesta terça-feira (9) um ataque direcionado contra a alta liderança do Hamas no Qatar. Várias explosões foram ouvidas na capital, Doha.
A operação teve como alvo dirigentes do grupo terrorista que participam das negociações indiretas para encerrar o conflito na Faixa Gaza o Hamas mantém sua base política no exílio no Qatar.
O grupo terrorista afirmou que cinco de seus membros morreram na operação, mas líderes do alto escalão não foram atingidos. Entre as vítimas está Himam al-Hayya, filho do principal negociador do Hamas, Khalil al-Hayya. O Ministério do Interior da Qatar afirmou, em um comunicado, que um membro das forças militares do país foi morto no ataque israelense.
A operação desta terça teria atingido um alojamento dos membros do grupo terrorista que estavam envolvidos nas negociações de cessar-fogo, segundo o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores qatari, Majed Al Ansari. O Qatar tem atuado como mediador para tentar encerrar a guerra que completa quase dois anos. Em um post nas redes sociais, Ansari chamou a ofensiva de covarde e criminosa.
Outras autoridades qataris se referiam ao ataque como uma “grave escalada” e “violação flagrante do direito internacional”. O premiê do país, Mohammed ben Abdulrahmane Al Thani, reiterou que o Qatar tem o direito de responder à ofensiva e que continuará exercendo seu papel de mediador.
Em carta enviada ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, vista pela agência de notícias Reuters, a embaixadora do Qatar na ONU, Alya Ahmed Saif Al-Thani, diz que seu país “não tolerará esse comportamento israelense imprudente e a contínua desestabilização da segurança regional”.
De acordo com o documento, “as investigações estão em andamento no mais alto nível, e mais detalhes serão anunciados assim que estiverem disponíveis”.
O Qatar não mantém relações diplomáticas oficiais com Israel, mas era visto como um país amistoso no Oriente Médio por isso, o governo de Binyamin Netanyahu aceitou que Doha fosse sede para as negociações indiretas de um acordo de cessar-fogo. Com o ataque, os esforços podem cair por terra.
Segundo a emissora Al Jazeera, que citou um funcionário do Hamas, a delegação foi atingida justamente durante uma reunião de negociação do cessar-fogo. Netanyahu afirmou que a operação foi “totalmente justificada” e que ela “pode abrir uma porta para o fim da guerra”.
Mais tarde, em comunicado conjunto com seu ministro da Defesa, Israel Katz, disse que ordenou os ataques em resposta ao atentado ocorrido na segunda-feira (8) em Jerusalém, que matou seis pessoas e teve autoria posteriormente reivindicada pelo Hamas.
A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou que o presidente Donald Trump “lamenta profundamente” o ataque de Israel contra o Qatar e que ele foi avisado pelo governo de Netanyahu sobre a operação.
Ainda segundo Leavitt, o republicano pediu que o enviado especial dos EUA para o Oriente Médio, Steve Witkoff, alertasse as autoridades qataris. O país do Oriente Médio, no entanto, nega que tenha sido avisado com antecedência o premiê disse que foi alertado dez minutos depois do início do ataque.
“Bombardear unilateralmente o Qatar, uma nação soberana e aliada próxima dos EUA que está se esforçando muito e corajosamente assumindo riscos conosco para mediar a paz, não favorece os objetivos de Israel ou dos EUA”, disse Leavitt. “No entanto, eliminar o Hamas, que lucrou com o sofrimento de quem vive em Gaza, é um objetivo válido.” Trump, segundo a porta-voz, teria afirmado ao emir do Qatar, Tamim al-Thani, que “uma coisa dessas não acontecerá novamente em seu território”.
A reação diplomática, no entanto, divergiu bastante do tom adotado pelos EUA. Líderes mundiais condenaram o ataque israelense, reiteraram que a ação é inaceitável e a classificaram de uma violação da soberania do Qatar.
Em junho, o país do Golfo já havia sido alvo de um ataque de mísseis lançado pelo Irã contra a base aérea americana de al-Hudeid, em resposta ao envolvimento direto dos EUA no conflito entre Teerã e Tel Aviv. Na ocasião, Trump bombardeou as três principais usinas do programa nuclear do país persa e costurou um acordo de cessar-fogo após 12 dias de conflito.