Na defensiva, Von der Leyen promete parede contra drones de Putin e sanções a 'ministros extremistas' de Israel

BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – Prática em geral protocolar na Europa, o discurso de Estado da União em Estrasburgo, nesta quarta-feira (10), mostrou uma presidente da Comissão Europeia na defensiva, assim como o continente que representa. Ursula von der Leyen fez várias promessas, de uma parede contra os drones de Vladimir Putin a sanções a ‘ministros extremistas’ de Israel. Lidou com aplausos, vaias e pedidos de renúncia diante de um Parlamento Europeu polarizado.

Em um assunto que tem consumido Bruxelas há semanas, Von der Leyen usou o tratado UE-Mercosul, que há pouco entrou na reta final da burocracia europeia, como argumento para o acordo tarifário fechado com os EUA, descrito por críticos como uma concessão sem precedentes a Donald Trump. Pelo acerto, a UE relaxará diversas tarifas de importação, enquanto a maioria de suas exportações enfrentará uma taxa de 15%.

“Foi o melhor acordo possível”, declarou a chefe da UE, explicando que empresas do bloco estarão em vantagem em relação a concorrentes de outros países, alvos de tarifas maiores.

Pesquisas recentes mostram Von der Leyen em momento de baixa. Citada por um eurodeputado, pesquisa na véspera do discurso mostrou que 6 em cada 10 europeus pedem sua renúncia. O universo do levantamento é limitado a poucos países, mas ilustra como está conturbado o segundo mandato da conservadora alemã.

Objeto de uma moção de censura em julho, Von der Leyen fez seu discurso à sombra de novas ameaças no Parlamento. Como daquela vez, trabalhou expectativas com diversos pacotes voltados a demandas sociais, provavelmente em busca de apoio da centro-esquerda europeia, que se fragmenta diante de posições do Executivo da UE percebidas como tímidas.

O anúncio de que vai punir com sanções “ministros extremistas” de Israel e congelar parcialmente o acordo econômico da UE com o país vai nessa linha. Von der Leyen, no entanto, passou longe de chamar a ação de Israel na Faixa de Gaza de genocídio, como fez na semana passada Teresa Ribera, sua vice-presidente.

“Isso precisa parar agora”, declarou a alemã, após uma descrição detalhada da ofensiva israelense, desenhada “para comprometer a solução de dois Estados”. Parlamentares de esquerda a aplaudiram de pé neste momento. Foi vaiada pelos Verdes, porém, quando defendeu que todo europeu deveria ter direito a um carro. Referia-se a carros elétricos acessíveis, mas a celebração do transporte individual soou assim mesmo exagerada.

“Não tente satisfazer todos os lados. Mostre coragem”, declarou o libera português João Cotrim de Figueiredo, evidenciando o risco da estratégia de Von der Leyen. De fato, apenas em dois campos a mandatária não deu margem para contemporizações: Rússia e desinformação.

Embalada pela detecção de drones no espaço aéreo europeu, Von der Leyen gastou o primeiro terço de sua fala com a guerra da Ucrânia. Propôs usar € 200 bilhões de ativos russos sequestrados na Europa para financiar a reconstrução do país, a partir de um mecanismo de empréstimo que não comprometa a confiança no sistema bancário do continente, e uma parede de drones no leste europeu para fazer frente às ameaças de Vladimir Putin.

“Isso não é uma ambição abstrata, mas sim alicerce de uma defesa com credibilidade… que responda em tempo real, que não permita ambiguidades sobre intenções territoriais”, afirmou Von der Leyen, ao explicar a ideia defendida por países da região do mar Báltico. “A Europa vai defender cada centímetro de seu território.”

Na semana passada, o presidente russo declarou que tropas europeias na Ucrânia, ainda que respaldadas por acordo de paz, seriam “alvos legítimos”.

Ao comentar sua recente visita à “linha de frente”, países próximos às fronteiras com Rússia e Belarus, Von der Leyen declarou que “os anseios da geração de 1989” permanecem vivos, em clara referência ao recente argumento de Putin de que a Europa não estava respeitando o legado da União Soviética. “Estamos vivendo em um mundo de ambições e guerras imperiais.”

Foi ainda mais enfática ao defender a proteção do jornalismo independente contra a onda de desinformação patrocinada pela extrema direita, o “lado que grita contra a democracia nesta Casa”. Foi interrompida e vaiada por eurodeputados populistas, a ponto de a presidente do Parlamento, Roberta Metsola, ameaçar expulsá-los.

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