Aliado de Trump, Charlie Kirk construiu carreira com ataques a LGBTs e negros

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Charlie Kirk, morto nesta quarta-feira (10) em um evento na Utah Valley University, fundou em 2012 o que catapultaria sua carreira política conservadora. Junto com Bill Montgomerry –empresário conservador que morreu em 2020–, o influenciador de extrema direita abriu a organização Turning Point USA, aos 18 anos, como uma espécie de resposta a movimentos liberais em ascensão naquele momento.

Treze anos depois, Kirk se consolidou como uma das principais vozes do coro de Donald Trump. Cada vez mais próximo do governo, inclusive desde o primeiro mandato, o ativista de 31 anos angariou um eleitorado mais jovem ao propagar discursos extremistas contra o que afirmava ser marxismo e “ideologia de gênero” desenfreados nas universidades americanas.

Críticos de Kirk apontaram repetidamente um caráter homofóbico e racista em suas falas públicas, o que contribuiu para sua aderência com o movimento Maga -acrônimo em inglês para “Faça a América Grandiosa Novamente”- e oposição ferrenha à “ideologia woke”, como reafirmou em suas redes.

Foi nos primeiros momentos da pandemia nos EUA, no início de 2020, que o influenciador avolumou ainda mais seu público. À época, em consonância com discursos trumpistas, Kirk cresceu ao atacar a Organização Mundial da Saúde -à qual se referia como Organização da Saúde de Wuhan, em referência à teoria de que o vírus da Covid-19 fora produzido em um laboratório na cidade chinesa.

O ativista ainda foi banido temporariamente do Twitter (atual X) em março de 2020 por publicar mentiras de maneira sistemática -ele insistiu, por exemplo, na campanha a favor do tratamento da Covid-19 com hidroxicloroquina, mesmo após evidências científicas comprovarem a ineficácia do medicamento.

Na trilha até o casamento ideológico com Trump, o ativista tropeçou e reajustou a rota algumas vezes. Chegou, no entanto, ao lugar almejado e, por poucos, atingido. Articulou politicamente a nomeação de chefes de órgãos governamentais no segundo mandato do republicano e, reflexo disso, foi ecoado repetidas vezes pelo presidente –nas redes e em palanques do partido.

No rol de discursos usados para fidelizar seu núcleo seguidor, Kirk atacou abertamente o que afirmava ser uma “agenda LGBTQ”. Em 2021, durante um dos eventos da Turning Point USA, ele equiparou a homossexualidade à prática de aliciamento de crianças –em paralelo, inclusive, ao anúncio de parceria com um pastor que foi preso por tentativa de coerção e aliciamento sexual de uma adolescente.

Na mesma toada, o influenciador usou seu suposto combate à “ideologia de gênero” para disparar opiniões conservadoras sobre as mulheres. Classificado por movimentos feministas de sexista e misógino, Kirk chegou a dizer que as mulheres deveriam renunciar à educação e à carreira de trabalho, com o intuito de se concentrarem em ter uma vida de dona de casa submissa.

O discurso alinhado a sua visão cristã ultraconservadora, que adotou principalmente nos últimos cinco anos -período no qual propagou seu evangelicalismo mais fortemente-, também embasou o que críticos apontam ser intolerância racial e étnica.

Além de ecoar narrativas conspiratórias acerca de movimentos como o Black Lives Matter, Kirk insultou George Floyd após seu assassinato, ao defender que seu caso era indigno de atenção também devido ao fato de Floyd ser o que ele chamou de “canalha”.

Também criticou publicamente a Lei dos Direitos Civis de 1964 -que proibiu a segregação e discriminação racial nos EUA-, e teceu elogios a um pastor conhecido por ter afirmado que o povo negro foi amaldiçoado por Deus para serem “pessoas servis” e “condenadas à escravidão perpétua”.

Como denominador comum do que sempre classificou de “maior inimigo do povo” está a esquerda, que, segundo ele, tomava conta dos campi universitários, das empresas americanas e de todo o governo. “Não devemos ter medo de denunciar a esquerda pelo que ela realmente é: desconstrucionistas marxistas radicais que querem destruir este país por dentro”, afirmou em momento pré-campanha presidencial republicana, em 2020.

Para ele, o caminho que estava trilhando servia como linha de frente na “guerra cultural” que mirava a retomada da “alma do maior país que já existiu na história do mundo”, os Estados Unidos.

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