BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O influenciador Charlie Kirk, aliado de Donald Trump que foi assassinado em Utah nesta quinta-feira (10), usou slogan associado à extrema direita da Alemanha em vídeo em que debate com alemão a respeito da relação entre Estados Unidos e Europa.
Kirk fala bom dia, em alemão, e em seguida emenda a frase “Alemanha acima de tudo”, também em alemão. Visivelmente constrangido, o oponente do debate diz: “Não é bem por aí”. Em resposta, Kirk pergunta: “Você não gosta do seu país?”, e seu interlocutor diz amar a Alemanha e se identificar como patriota. Kirk termina a troca dizendo que estava brincando.
O slogan usado pelo influenciador, no entanto, é identificado com a extrema direita alemã, em particular ao partido Alternativa para a Alemanha (AfD), apoiada por Trump, com duro discurso anti-imigração como o republicanoe e que tem ligações com grupos neonazistas.
“Deutschland über Alles” é parte do hino antigo alemão, que teve origem no período de unificação do país como elemento de construção da nação acima das nacionalidades regionais, como prussianos, saxões e bávaros.
O trecho foi suprimido no hino atual do país por remeter à ideologia de superioridade racial alemã durante o nazismo. A frase, além disso, foi um dos slogans mais famosos de Adolf Hitler, que usou com frequência os termos como fundamento de uma carregada retórica nacionalista que terminou por justificar seu regime autoritário e o assassinato de milhões de judeus, opositores políticos e estrangeiros nas décadas de 1930 e 1940.
Kirk era visto por críticos como propagador de ideias de intolerância racial, em particular nos últimos anos, em que aprofundou sua perspectiva cristã ultraconservadora ele se dizia secular no início de sua empreitada nas redes sociais.
O influenciador ecoava narrativas conspiratórias acerca de movimentos como o Black Lives Matter e também criticou publicamente a Lei dos Direitos Civis de 1964 que proibiu a segregação e discriminação racial nos EUA, e teceu elogios a um pastor conhecido por ter afirmado que o povo negro foi amaldiçoado por Deus para serem “pessoas servis” e “condenadas à escravidão perpétua”.
Kirk era também um dos grandes nomes da juventude do movimento Make America Great Again de Trump e defensor ferrenho da política anti-imigratória do republicano, algo ecoado pela AfD na Alemanha. No vídeo do debate com o interlocutor alemão, ele reforça o argumento trumpista de que o país estava sendo invadido pela fronteira com o México justificativa do presidente para decretação de emergência nacional e aumento da repressão a imigrantes no país.
No vídeo completo do debate, Kirk discute de forma civilizada com o interlocutor alemão acerca da Guerra da Ucrânia, o papel da Otan (a aliança militar ocidental) e os gastos militares dos EUA e do restante dos países da aliança, em particular europeus.
No início de seu argumento, ele afirma se opor à expansão da Otan e comete erros e imprecisões históricos fortemente rebatidos nos comentários do próprio vídeo, como a afirmação de que a Finlândia, que na opinião dele não deveria ter entrada na aliança, seria “muito russa em vários aspectos” e teria sido neutra durante a Segunda Guerra Mundial.
Fundador do grupo de mobilização jovem Turning Point USA, Kirk foi assassinado com um tiro no pescoço durante evento na Utah Valley University, na cidade de Orem. A morte foi anunciada na rede Truth Social pelo presidente Donald Trump. Kirk chegou a ser levado ao hospital e a passar por cirurgia, mas não resistiu.
“O grande, e mesmo lendário, Charlie Kirk, está morto”, escreveu Trump. “Ninguém entendeu ou tinha em mãos o coração da juventude dos EUA melhor do que Charlie. Ele era amado e admirado por todos, especialmente por mim, e agora ele não está mais conosco.”
O presidente decretou luto oficial de cinco dias em todo o país. Horas depois, culpou o discurso da “esquerda radical” pelo assassinato e disse que o crime foi a “consequência trágica de demonizar aqueles de quem se discorda”.
