SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ponto de partida do livro “O Brasil Diante das Turbulências Internacionais”, cujo lançamento digital ocorreu nesta quinta-feira (17), é a preocupação com a democracia brasileira diante de um novo cenário global de disputa entre potências e de crescimento de líderes autoritários.
A obra, uma iniciativa da Fundação Fernando Henrique Cardoso e do Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, foi organizada pelo sociólogo Bernardo Sorj e pelo cientista político Sérgio Fausto, diretor-geral da fundação.
Os dois convidaram nove especialistas e pediram que cada um deles respondesse a oito perguntas sobre o novo xadrez global e qual deveria ser o posicionamento do governo brasileiro. O prefácio é assinado pelo ex-ministro de Relações Exteriores Celso Lafer.
“A democracia, sem dúvida, é uma instituição nacional, mas nem por isso deixa de ser influenciada pelas transformações globais”, afirma Sorj à reportagem. “Preocupa-nos que, em países democráticos, tenham se fortalecido tendências autoritárias e extremistas que questionam a democracia. Enquanto, do outro lado, temos regimes que também são autoritários.”
Na visão do sociólogo, há, portanto, um fortalecimento do autoritarismo “por caminhos diferentes”, citando os Estados Unidos. “É um país que hoje está tomando um rumo preocupante, com elementos antidemocráticos”, aponta.
Além da preocupação com a democracia, o livro parte da ideia de que é preciso “recompor a vida democrática no Brasil, que foi afetada por uma polarização destrutiva”.
“O objetivo também é mostrar que há espaço para um debate informado, inteligente a partir de posturas intelectuais e políticas diferentes”, diz Sorj.
Entre os nove especialistas convidados estão Antonio Ruy de Almeida Silva, ex-diretor da Escola de Guerra Naval; Fernanda Magnotta, coordenadora do programa de Relações Internacionais da Faap (Fundação Armando Álvares Penteado); Gelson Fonseca, diplomata e diretor do Centro de História e Documentação Diplomática da Fundação Alexandre de Gusmão; e Maria Hermínia Tavares de Almeida, professora emérita de Ciência Política da Universidade de São Paulo.
“Que impacto a participação no Brics pode ter sobre a política externa brasileira?” e “Como o Brasil deve se posicionar frente às possíveis posturas agressivas do governo [Donald] Trump em relação à América Latina?” são algumas das questões colocadas e respondidas pelos especialistas no livro.
Apesar das visões diferentes, há uma convergência geral de que o Brasil deve manter uma postura pragmática de não alinhamento automático com nenhuma grande potência e, ao mesmo tempo, defender seus princípios constitucionais.
“Todos [especialistas] concordam que o Brasil deve permanecer como parte do Brics, só que alguns consideram que há riscos nessa relação, fundamentalmente dada a centralidade da China”, comenta Sorj.
“Até o momento o Brasil conseguiu manter uma certa relevância”, afirma o sociólogo, citando o veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à entrada da Venezuela no bloco. “Mas o aumento do número de países membros tende a diluir o peso do Brasil e, indiretamente, aumentar o peso da China. E há a preocupação de alguns, mais do que outros, com o fato de a China não ser um país democrático e ter um projeto hegemônico próprio que não é necessariamente sempre convergente com os interesses do Brasil.”
O livro “O Brasil Diante das Turbulências Internacionais” está disponível para download gratuito no site da Fundação Fernando Henrique Cardoso (https://fundacaofhc.org.br/publicacao/o-brasil-diante-das-turbulencias-internacionais/).