O plano uruguaio para melhorar as exportações para o Brasil (e, de quebra, levar 100 empresas brasileiras para lá)

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Brasil se tornou principal parceiro comercial do Uruguai em 2023 e agora é o segundo lugar
(Pedro Ladeira/Folhapress)
  • Balança comercial Brasil-Uruguai somou US$ 4,9 bilhões em 2024, com exportações de US$ 2,7 bilhões e importações de US$ 2,2 bilhões
  • Plano uruguaio inclui expansão de empresas brasileiras no país, estímulo a startups e aproveitamento da mão de obra trilíngue
Por Victor Marques

[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
Em 2023 aconteceu um fato inédito na longa jornada comercial entre Brasil e Uruguai. Pela primeira vez o Brasil foi o maior parceiro comercial do país vizinho, superando China e Estados Unidos. O fato, no entanto, não se perpetuou, e o Brasil voltou ao segundo lugar no ano passado, quando a balança comercial bilateral entre os dois países somou US$ 4,9 bilhões – US$ 2,7 bilhões em exportações e US$ 2,2 bilhões em importações, segundo o ComexStat. Em entrevista exclusiva à AGÊNCIA DC NEWS, o embaixador uruguaio Rodolfo Nin Novoa, afirmou que o plano é voltar a colocar o Brasil no topo do ranking. “Temos uma conexão muito forte e muitas expectativas de continuar tendo um ótimo comércio entre nós.” O crescimento do intercâmbio passa pela diversificação de produtos e pela expansão de empresas brasileiras no país vizinho, hoje cerca de 60 operações, mas o plano é levar mais 100. A relação comercial se consolida enquanto Brasil e Uruguai comemoram 200 anos de amizade, remontando à época da independência uruguaia, em 1825, e à assinatura do tratado de paz que uniu o cone sul da América Latina.

Segundo Mariana Ferreira, diretora-executiva do Uruguay XXI, empresa estatal responsável pela promoção de negócios uruguaios em outros países, para o futuro, o plano é, além de expandir a balança comercial, levar mais empresas brasileiras para atuar em território cisplatino. “Queremos trazer mais 100 empresas brasileiras para o Uruguai”, afirmou. Atualmente, são cerca de 60 empresas brasileiras presentes lá. Em 2025, a balança comercial entre os países já soma, até agosto, US$ 3,5 bilhões e, apesar de ser um país extremamente pequeno em população (3,4 milhões de habitantes), mais especificamente 3,4 vezes menor que a cidade de São Paulo, a balança comercial do Uruguai com o Brasil é proporcionalmente tão grande quanto a de outros países maiores da América do Sul, como o Chile.

Com 19,7 milhões de habitantes, a balança comercial entre Brasil e Chile totalizou US$ 11,5 bilhões em 2024. Se tivesse a mesma população que o Uruguai, o total seria de aproximadamente US$ 2 bilhões, considerando somente o coeficiente balança comercial em relação à população. As exportações uruguaias para o Brasil são bem diversificadas. Em 2024, os cinco principais itens exportados por eles foram os veículos automóveis de carga (US$ 315 milhões), o malte não torrado (US$ 247 milhões), o leite em pó (US$ 206 milhões), o trigo (US$ 194 milhões) e garrafas e frascos plásticos (US$ 152 milhões). Os dados são do Comex Stat, plataforma do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic).

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O embaixador Nin Novoa comentou que os veículos de carga são parte importante da relação comercial entre os países e pode ser um dos impulsionadores da expansão da balança entre os países no futuro. A compra de caminhões brasileiros pelo Uruguai é facilitada devido às integrações econômicas do Mercosul, especialmente o Acordo de Complementação Econômica nº 2 (ACE 02), que facilita o comércio de veículos e autopeças entre os países. Já o malte e o trigo, segundo ele, são produtos que se dão bem no clima uruguaio. “Precisam de frio para sua maturação”, afirmou. Esses, assim como o leite em pó e os plásticos, são demandas da indústria brasileira e, segundo ele, têm previsão de aumento ou redução somente conforme essa demanda se altere. No campo da exportação, no website da Uruguai XXI, há uma ficha indicando as 76 principais oportunidades de exportações uruguaias para o Brasil. Entre elas estão a carne bovina, cação, soja, trigo, tabaco e até máquinas de mistura de asfalto. 

Do nosso lado, também compartilhamos as cinco maiores exportações. Em primeiro, os veículos de carga, acima de 5 toneladas (US$ 173 milhões), seguido dos motores de automóveis (US$ 165 milhões), as carnes bovinas (US$ 133 milhões), carnes suínas (US$ 104 milhões) e minérios de ferro (R$ 91 milhões). As carnes brasileiras, segundo ele, são de boa qualidade, ao mesmo tempo que têm baixo custo, e ajudam a suprir uma demanda interna, já que a carne uruguaia é mais cara, com preço médio de US$ 5 mil pela tonelada. “Estamos importando carne bovina do Paraguai e um pouco do Brasil.”, afirmou. “Importamos carne para o cotidiano, mas também cortes especiais, como a picanha.” 

Uruguai Balança Comercial
Carne do Uruguai tem preço médio de US$ 5 mil pela tonelada
(Folhapress)

Perguntando sobre as oportunidades de comércio de carne com a China, pós-atuais mudanças geopolíticas e comerciais, ele disse haver espaço para ambos países. “A China é uma grande parceira do Uruguai. Eles têm muita confiança na carne bovina uruguaia”, afirmou. “Acho que podemos dividir perfeitamente esse mercado com o Brasil, porque existem diferentes tipos de demanda.” Para o futuro, devido ao território limitado (176,2 km²), a ideia não é aumentar o volume exportado para outros países, mas, a qualidade dos produtos exportados, aumentando o valor final.

Parte desse plano é também expandir o turismo na região. Segundo Mariana Ferreira, da Uruguai XXI, o brasileiro é considerado um turista premium no Uruguai. Isso porque, segundo ela, gastamos bastante em hospedagens, restaurantes, visitas gastronômicas e enoturismo. Mas, além do turismo, a ideia é também atrair investidores. “Muitos investidores brasileiros primeiro conheceram o Uruguai como turistas”, afirmou. “A experiência nos mostra que os turistas vêm primeiro, depois os investidores.” Para isso, a Uruguay XXI trabalha junto ao Ministério do Turismo do país para apoiá-los na promoção do setor. “Contribui para nossa estratégia de promoção de investimentos e atração de exportações.”

E, por fim, a investida que fecha esse o plano uruguaio com chave de ouro é a expectativa de trazer 100 empresas brasileiras para atuar em seu território. Atualmente cerca de 60 de nossas empresas estão lá, afirma Ferreira e, segundo ela, o Brasil é o 4º maior investidor estrangeiro no Uruguai. Algumas delas são gigantes como Itaú, Gol, Marfrig, Gerdau, Porto Seguros, Minerva , JBS, Renner, Eurofarma e Stefanini. “Precisamos de pelo menos mais 100 empresas, dada a proximidade e as oportunidades que temos”, disse. “Queremos empresas que aproveitem o Uruguai como plataforma de exportação para a América do Sul.” 

Um dos focos é estimular startups e empresas de tecnologia para o país. No âmbito de startups, o Itaú já montou uma filial do Cubo, sua incubadora, no Uruguai. Já do lado dos serviços de TI e tecnologia, o ideia é aproveitar da mão de obra qualificada e trilíngue (espanhol, inglês e português). Entre os benefícios de atuar no país, ela afirma que os principais são a logística favorável em relação à América Latina e um ambiente regulatório simplificado. Nos próximos 100 anos de amizade entre Brasil e Uruguai, se tudo correr conforme os planos, devemos ver mais produtos e empresas uruguaias por aqui, assim como as brasileiras por lá.

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