BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, disse nesta segunda-feira (22) que o governo tem compromisso em dar o “suporte necessário” à recuperação dos Correios, mas evitou falar em aporte de recursos na estatal, que está em delicada situação financeira.
“O Ministério da Fazenda, o Tesouro Nacional e o governo como um todo têm preocupações e muitas reticências em fazer um aporte nos Correios”, disse o secretário durante a entrevista coletiva sobre as estimativas revisadas para o Orçamento de 2025. Ele tratou da eventual capitalização da empresa como o último recurso a ser adotado pelo Executivo, embora não tenha descartado essa opção.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, integrantes da equipe econômica já reconhecem a possibilidade de os Correios receberem um aporte do Tesouro Nacional. Alguns técnicos do governo consideram essa via inevitável.
Segundo Durigan, o governo trabalha em uma nova estratégia em três etapas. A primeira, já em curso, envolve a troca do comando dos Correios. Além do novo presidente, Emmanoel Schmidt Rondon, o secretário disse que é esperada a nomeação de novos diretores.
A segunda etapa é um plano de curtíssimo prazo, com foco em resolver as dificuldades da empresa para 2025. A terceira etapa é um plano de médio e longo prazo, para que a companhia consiga competir com outros atores do mercado de logística e, ao mesmo tempo, cumprir suas obrigações de universalização dos serviços postais.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, o tema mais urgente neste momento é a renegociação de um empréstimo de R$ 1,8 bilhão contratado pelos Correios neste ano junto a um sindicato de bancos formado por BTG Pactual, Citibank e ABC Brasil. O objetivo da operação era dar fôlego ao caixa já debilitado da empresa.
O pagamento foi programado em seis parcelas mensais a partir de junho de 2026, mas o contrato possui cláusulas restritivas (chamadas de covenants) cujo descumprimento pode disparar a cobrança antecipada dos valores -entre elas, uma relacionada à ocorrência de eventos com impactos jurídicos ou judiciais.
Segundo três pessoas a par da situação da empresa, o forte aumento do custo com sentenças judiciais registrado no segundo trimestre de 2025 criou as condições para que a cláusula seja acionada. Isso criaria uma situação dramática para os Correios, pois o contrato autoriza os bancos a reterem valores que a empresa tem a receber. No limite, a companhia poderia ficar sem dinheiro em caixa para honrar obrigações correntes.
Dada a gravidade da situação, Durigan se reuniu na última terça-feira (16) com representantes do BTG Pactual e do Citibank, os dois bancos que lideram a operação, para discutir uma renegociação do contrato.
“Tive uma reunião com CEO de Citibank e do BTG. Os bancos apresentaram preocupação com a deterioração da situação financeira dos Correios, e o que eu disse é que o governo tem compromisso em dar todo o suporte necessário aos Correios, a começar pela troca pela diretoria e desenhar um plano de ação que seja consistente com esse desafio”, afirmou o secretário.
“Houve uma demanda para o governo dar prioridade ao tema e mostrar que os Correios não estão à deriva, simplesmente tocando um tema difícil sem respaldo do governo”, acrescentou.
Segundo ele, a Fazenda deixou claro na reunião que não vê o aporte com bons olhos e que será preciso analisar o plano de ação –que, inclusive, passará pelo crivo da pasta.