[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
O nome de alguém é o mais importante. É o que diz Willams Fernandes, fundador da Mad Materiais para Construção. E não é porque “99% das pessoas pronunciam Willams errado”– pronuncia-se ‘Wílames’ –, mas porque “é no nome que mora a dignidade”. Na região de Anhanguera e Perus, no noroeste da capital paulista, a maioria dos moradores conhece Williams como Mad, ou, se não o conhecem, já ouviram falar do seu negócio. E a livre associação é simples, já que há notória semelhança do nosso personagem com o mascote da revista Mad, Alfred E. Neuman, famosa no Brasil nos anos 1980. Desde essa época o apelido pegou – e foi herdado para o empreendimento. Prestes a completar 53 anos, o paraibano criado em Baronesa, bairro periférico de Osasco (SP), descreve-se como “político, empresário e mediador no bairro”. A origem dessas três facetas está na própria gestão da loja de materiais, fundada na virada de 1996 para 1997, quando tinha 24 anos. Foi a partir dela que Willams se tornou presidente da Associação Comercial e Empresarial do Distrito Anhanguera (Aceda) e do Conselho Comunitário de Segurança Perus Anhanguera (Conseg). Também entrou em uma guerra política por território, que se arrasta desde 2006. Sem conhecer a empresa, é impossível conhecer o homem por trás dela.
Depois de quase 30 anos de atividade, a Mad encontrou a estabilidade. Com faturamento mensal de R$ 120 mil e crescimento de aproximadamente 6% no último ano, cifra que deve se repetir este ano, a empresa busca atender cada um que a procura. “Se hoje eu não tenho um produto eu falo para o cliente: ‘vem aqui amanhã que eu te entrego’”, afirmou Willams. “Meu diferencial é atender bem para atender sempre.” Para fidelizar a clientela, já saiu no prejuízo ao vender uma quantidade mínima de produtos, numa transação em que a entrega, que é gratuita dentro de um raio de dez quilômetros, custou mais do que ele recebeu pela mercadoria. “Uma das formas de atrair o cliente é atendê-lo. Cativar para então fidelizar. Depois começar a angariar lucro.” O empresário também acredita no poder de se envolver pessoalmente nas questões do território onde a empresa atua, algo que ele encara como uma missão. “O comerciante não é coitadinho. Ele é vulnerável”, afirmou. Como líder comunitário, foi um dos responsáveis por trazer cursos do Sebrae à região, que formaram mais de 150 microempresas em um ano. Com essa história de luta e sucesso, Willams Fernandes recebeu o Prêmio Empresário de Valor 2025, da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), como destaque empresarial da distrital Noroeste da capital paulista.
Em 1993, durante uma aula de desenho técnico no Senai, Willams e um amigo desenharam o sobrado que hoje é a loja de materiais de construção e a casa do empresário. Ele se emociona ao falar do ex-colega de sala, de quem foi padrinho de casamento, e relembra as dificuldades de começar o negócio. “Comecei com 17 metros de areia, 17 metros de pedra e 100 sacos de cimento”, disse. “Entregava no carrinho. Não tinha caminhão. Contava as medidas ‘na pá’. Cada metro de areia eram 200 pás”. Hoje a Mad Materiais de Construção emprega cinco funcionários, incluindo a esposa do dono, Claudineia Bonilha Vicente. Neia, como Williams a chama, cuida do caixa e sabe tudo sobre as finanças da firma. Hoje, Willams não depende do ponto aberto, já que 60% das vendas são feitas pelo WhatsApp e um site já está em construção. As redes sociais também se tornaram o principal canal de comunicação tanto da marca quanto da associação e do conselho dos quais é presidente. A estratégia impulsionou as entregas para toda a metrópole, a venda na região agora menor. Já lhe ocorreu a possibilidade de fechar a loja e focar no e-commerce, mas sua persona política “precisa ser vista”, mesmo que não seja bem-vinda por todos no bairro.
AO PALANQUE – A maior dificuldade atravessada pela Mad Materiais de Construção aconteceu durante a expansão para mais depósitos, nos primeiros anos do milênio. Um dos novos galpões, comprado de uma concorrente, foi construído na entrada no bairro a 1,8 metro abaixo do nível da rua. De 2004 a 2007, enchentes inundaram o local e destruíram parte significativa do estoque da empresa. Enquanto se recuperava do último prejuízo, a Subprefeitura de Perus/Anhanguera lacrou a loja por falta de alvará de funcionamento. Segundo o empresário, o fechamento compulsório do ponto de venda, em uma época pré e-commerce, derrubou o faturamento em mais de 90%. O faturamento mensal de R$ 260 mil, registrado em 2007, despencou para R$ 18 mil durante o um ano e meio em que as portas ficaram fechadas. “Eu vendi casa, carro, terreno, caminhão. Só não vendi a mulher e o filho porque ninguém queria”, brincaWillams.
Convencido de que vivia uma perseguição, entrou para o mundo político após conhecer o ex-vereador José Police Neto (PSD), de quem foi assessor parlamentar. No mesmo ano, seus atuais rivais fundaram a Aceda, enquanto os comerciantes fechados se uniram para brigar pelas licenças. Em 2012, Willams foi nomeado presidente da associação, cadeira que ocupa até hoje, e a guerra por território agora é fria. Seu comércio e residência estão no distrito Anhanguera, área administrada pelos rivais, no lado sul do Parque Municipal Anhanguera. Os 950 hectares de mata atlântica do parque o separam do distrito de Perus, ao norte, território dos seus aliados. Na última década, filiou-se ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e ajudou a eleger vereadores e deputados, angariando votos nos dois distritos. No auge da pandemia de 2020, o empresário foi eleito presidente do Conseg. “Tinha um problema de segurança no bairro. Eu denunciava tudo e me chamaram para participar do conselho de segurança”, disse. Nas eleições de 2022, saiu como candidato a deputado estadual pelo Avante e fez campanha por João Cury (MDB) para deputado federal. Cury foi o 16º mais votado na zona eleitoral 389, de Perus, com 2.101 votos. Willams não foi eleito, mas recebeu 3.971 votos em sua zona de atuação.
Na visão de Willams, a empresa é impactada pelas marés políticas. Até 2015, sua clientela era formada principalmente por pessoas físicas, o que rendeu o slogan: “Ajudando você a construir o sonho da casa própria”. Nos últimos anos esse perfil mudou. Agora é majoritariamente pequenas empresas de construção civil. Ao olhar à cidade, com cada vez mais prédios sendo levantados por grandes empreiteiras, Willams se tornou um crítico do mercado imobiliário. “Quem ganha dinheiro com isso? As grandes empresas de materiais. Os comércios de bairro estão fechando”, afirmou. Por essa razão, o empresário também se diz preocupado com a Reforma Tributária, cuja alíquota padrão deve ficar em torno de 26,5% sobre o preço do produto ou serviço consumido. “Fica a pergunta. Pedreiro emite nota fiscal? Encanador ou eletricista emite nota fiscal?” E ele mesmo responde: “Metade do país pode quebrar assim.”
MISSÃO – Apesar das dificuldades e desafetos, Willams não quer sair do bairro. “Católico praticante”, conta que a fé foi um ponto de virada em sua vida. “Há 19 anos, eu descobri que a minha missão era ajudar as pessoas, quando minha empresa ficou lacrada.” Por meio de um testemunho, entendeu que resolveria os próprios problemas cuidando do próximo. “Eu me encontrei. E não me importo com o que falam de mim. Não tenho a minha vida para exibir”, afirmou. Durante o mês de setembro, o escritório anexo à loja vira estoque de refrigerantes para as festas das crianças que ajuda a organizar. Nas paredes, ao lado dos certificados profissionais e de um quadro infantil pintado pelo filho, estão pendurados dezenas de cartazes emoldurados de cada Paixão de Cristo que Willams participou. Sua presença na igreja o fez Ministro da Palavra, um fiel que pode proclamar o Evangelho na ausência do padre. Quando precisou de um espaço para os cursos do Sebrae, recorreu ao prédio da paróquia.
Nas vezes em que o desânimo toma conta, Willams atravessa a rua, senta na calçada e encara o que construiu. Inevitavelmente, recorda sua trajetória: a criança parecida com o mascote da Mad perdida em uma Bienal do Livro nos anos 1980, em que encontrou os representantes da revistinha. Lembra do adolescente que organizava mutirões de pintura e limpeza na escola estadual Luiz Lustosa Inácio da Silva, na periferia de Osasco. E do estudante do Senai que desenhou a edificação, sonhando com este futuro, do jovem metalúrgico encarregado da solda, quando seu maior desejo era que o chamassem pelo nome. “Um dia eu vou ter um nome”, costumava dizer para seus colegas de indústria. Em retrospecto, sua vida pode ser definida em antes e depois de se tornar empresário. Hoje, poucos o chamam de Willams, colegas da política o tratam por Willas e os próximos de Mad. E ele aceita todos os nomes como títulos do que conquistou.