Lula critica na ONU 'sanções arbitrárias' e diz que agressão ao Judiciário brasileiro é inaceitável

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WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – O presidente Lula (PT) abriu seu discurso na Assembleia-Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) com uma crítica a “sanções arbitrárias” e disse que a “agressão contra a independência do Poder Judiciário” no Brasil é inaceitável.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou ter marcado um encontro com o brasileiro, com quem disse ter boa química, mas fez críticas ao que chamou de censura, corrupção judicial e perseguição a críticos no Brasil.

As declarações foram feitas um dia após os EUA ampliarem as sanções a autoridades brasileiras e ao entorno do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), em reação à condenação de Jair Bolsonaro (PL) a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado e outros quatro crimes correlatos.

O governo americano anunciou na segunda-feira (22) uma nova rodada de revogação de vistos e a inclusão da advogada Viviane Barci, mulher de Moraes, e da empresa que pertence à família do magistrado na lista de sancionados pela Lei Magnitsky, criada para punir pessoas envolvidas em corrupção ou graves violações de direitos humanos.

“Atentados à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais estão se tornando regra. Existe um evidente paralelo entre a crise do multilateralismo e o enfraquecimento da democracia”, afirmou Lula no início de seu discurso de 18 minutos na sede das Nações Unidas, em Nova York.

Marco Rubio, secretário de Estado americano crítico a Moraes, chegou ao plenário da Assembleia-Geral quando o petista condenava tentativas de ingerência na Justiça do Brasil.

“A agressão contra a independência do Poder Judiciário é inaceitável”, declarou Lula.

Sem citar nomes, ele também criticou a campanha comandada dos EUA pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) para que o governo Trump imponha punições ao Brasil, em uma tentativa de livrar o pai da prisão.

“Essa ingerência em assuntos internos conta com o auxílio de uma extrema direita subserviente e saudosa de antigas hegemonias. Falsos patriotas arquitetam e promovem publicamente ações contra o Brasil.

Ele defendeu a legitimidade do julgamento de Bolsonaro, disse que “não há pacificação com impunidade” e declarou que “pela primeira vez, em 525 anos de nossa história, um ex-chefe de Estado foi condenado por atentado contra o Estado democrático de Direito”.

“Foi investigado, denunciado e julgado em um processo minucioso. Teve amplo direito de defesa, prerrogativas que ditaduras negam às suas vítimas”.

Sem citar Trump nominalmente, o petista ainda deu uma indireta ao republicano. “Diante dos olhos do mundo, o Brasil deu um recado a todos os candidatos a autocratas e àqueles que os apoiam: nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis.”

Trump subiu à tribuna da ONU logo depois de Lula. Ao mencionar o breve encontro que tiveram entre os discursos de um e de outro, ele citou o tarifaço imposto ao país em reação ao julgamento de Bolsonaro e afirmou que o Brasil pratica perseguição a críticos políticos nos EUA, censura e “corrupção judicial”.

“Sinto muito dizer isso, mas o Brasil está indo mal e eles vão continuar indo mal”, declarou o republicano. “Eles só podem ir bem quando estiverem trabalhando conosco. Sem nós eles irão falhar da mesma maneira que outros. É a verdade.”

VISTOS

Segundo um integrante do Departamento de Estado, tiveram a permissão de entrada nos EUA revogada na segunda-feira o ministro da AGU (Advocacia-Geral da União), Jorge Messias; os juízes Airton Vieira, Marco Antônio Vargas e Rafael Henrique Janela Tamai Rocha, que assessoraram Moraes em casos envolvendo Bolsonaro; José Levi, ex-advogado-geral da União e ex-secretário-geral do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) na gestão de Moraes; o ex-ministro do TSE e ex-corregedor Benedito Gonçalves, relator das ações que deixaram o ex-presidente inelegível; e a chefe de gabinete de Moraes, Cristina Yukiko Kusahara.

De acordo com o integrante do Departamento de Estado, os familiares diretos dos sete atingidos também tiveram os vistos cancelados.

A adoção das medidas em meio à viagem de Lula aos EUA impôs constrangimento à delegação brasileira.

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