Selic de 15% machuca, mas política monetária precisa fazer seu trabalho, diz Ceron

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RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, afirmou nesta quarta-feira (24) que a taxa básica de juros (Selic) de 15% ao ano “machuca” e “não é saudável” do ponto de vista fiscal.

Ele, contudo, disse que a política monetária precisa ser feita por parte do BC (Banco Central) para frear a inflação e reancorar as expectativas dos agentes econômicos. Esse processo de melhora das projeções, segundo o secretário, já está em curso.

“A maior parte da dívida está atrelada à taxa vinculante, que é a Selic. Então, claro que tem um peso grande, amplia o déficit nominal”, afirmou Ceron a jornalistas no Rio de Janeiro.

“É óbvio que, do ponto de vista da política fiscal, machuca, não é saudável, mas tem o papel da política monetária, que precisa fazer seu trabalho”, acrescentou.

O secretário elogiou a atuação do BC. A autoridade monetária sinalizou manter os juros inalterados por prazo prolongado para levar inflação à meta.

O centro do alvo é 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima (4,5%) ou para baixo (1,5%). No acumulado de 12 meses até agosto, a inflação acumulou alta de 5,13% -acima do teto.

“O processo de reancoragem [das expectativas] está acontecendo semana a semana. É uma questão de tempo.”

Para o secretário, apesar dos juros elevados, o Brasil “está muito bem colocado no mundo”.

Ele reconheceu a existência de desafios fiscais e macroeconômicos, mas disse que outros países têm questões semelhantes ou até piores a resolver.

Ceron citou o potencial do Brasil para atrair investimentos na área de transição ecológica, além do fato de não estar envolvido em guerras com outras nações. Não é à toa, na visão do secretário, que a Bolsa de valores brasileira vem batendo recordes.

“O Brasil é uma das bolas da vez e está sendo olhado com muito apetite pelo investidor externo”, disse.

Conforme Ceron, os riscos para o quadro fiscal são os possíveis efeitos da desaceleração econômica sobre a arrecadação e a eventual não aprovação de medidas pelo Congresso.

O secretário participou de um seminário sobre mercado de capitais na sede do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), no Rio. Antes, o evento teve um painel com representantes do setor bancário.

O presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Isaac Sidney, disse que o Brasil vive uma “ressaca” da inflação. O cenário, segundo ele, se deve a choques internos e externos sobre os preços.

Na avaliação de Sidney, o BC tem feito um trabalho “difícil” para levar a inflação para a meta, mas essa tarefa não depende apenas da instituição.

“É um trabalho difícil, um trabalho penoso, um trabalho criticado, um trabalho que precisa ser feito, mas é um trabalho que o Banco Central não consegue fazer só. Daí também a importância do equilíbrio das finanças públicas, do equilíbrio fiscal, da dívida pública com uma trajetória que possa se estabilizar e que depois possa ser decadente”, afirmou.

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