NOVA YORK, EUA E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve uma reunião bilateral com o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, nesta quarta-feira (24), às margens da Assembleia-Geral da ONU.
Em entrevista coletiva no fim da tarde, em Nova York, Lula disse que “sentiu Zelenski com muito mais vontade de conversar” e que vai conversar com o presidente americano, Donald Trump, sobre o conflito.
“O que eu disse para o Zelenski é que eu vou me esforçar, conversar com quem puder conversar. Inclusive vou conversar com o Trump sobre a questão da guerra. Eu sei que ele é amigo do Putin, eu também sou amigo do Putin, então se um amigo pode uma coisa, dois podem muito mais”, disse Lula.
“Quem sabe nossa química pode ser levada para o Putin e para o Zelenski e a gente construa aquela saída que parece inesperada”, afirmou o brasileiro, fazendo referência à fala de Trump, na véspera, de que os dois tiveram uma “excelente química” após breve encontro.
Depois do encontro com Lula, Zelenski havia dito que o brasileiro afirmou que “faria o possível pela paz na Ucrânia”.
Ele agradeceu pela “posição clara” de Lula sobre a guerra e disse que a conversa de uma hora com o petista também abordou tópicos como economia, comércio e outras questões bilaterais, sugerindo que os dois podem ter novo encontro em breve para continuar o diálogo.
Ao sair da reunião, o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Andrii Sibiha, afirmou também que a reunião com Lula foi muito boa e promissora.
Este é o segundo encontro entre os dois líderes desde que Lula voltou ao poder, em 2023. O pedido de encontro partiu de Zelenski. A última solicitação foi feita em maio deste ano, quando ambos os líderes se encontrariam na cúpula do G7 no Canadá. Lula aceitou o convite, mas, por questões de agenda, a bilateral não aconteceu. A última vez que eles se reuniram foi em setembro de 2023, também às margens da Assembleia-Geral.
Meses antes, os dois se desencontraram também numa cúpula do G7 em Hiroshima, no Japão. Naquela ocasião, os dois presidentes responsabilizaram um ao outro pelo cancelamento de uma conversa que teria sido agendada e não ocorreu. Lula disse que Zelenski “não apareceu”; o ucraniano, depois, afirmou que o brasileiro “não achou tempo” para se reunir com ele.
Desde que assumiu o governo, em 2023, Lula tenta se colocar como um possível mediador para o conflito entre Ucrânia e Rússia, iniciado um ano antes da sua posse, mas tem recebido críticas pelo que países consideram ser uma posição mais favorável à Rússia de Vladimir Putin Lula evita culpar Moscou pela invasão.
A reunião desta quarta sinaliza nova abertura de Lula a Zelenski. Depois de ser muito criticado por dizer que “quando um não quer, dois não brigam”, o brasileiro fez reparos a sua fala ainda em 2023.
“Naquela época [de entrevista à revista Time] eu disse uma coisa que eu ouvi a vida inteira. Quando um não quer, dois não brigam. Até aquele momento, quem não vive na região não entendia muito bem por que aquela guerra estava existindo”, disse Lula à época.
“Hoje eu tenho mais clareza da razão da guerra; e eu acho que a Rússia cometeu o erro clássico de invadir o território de outro país; portanto, a Rússia está errada”, prosseguiu. “Eu continuo achando que quando um não quer, dois não brigam. É preciso que queiram paz.”
Alguns meses depois, Zelenski criticou os posicionamentos do presidente brasileiro. “Lula quer ser original, e devemos dar essa oportunidade a ele. Agora, é preciso responder a algumas perguntas muito simples. O presidente acha que assassinos devem ser condenados e presos? Creio que, se tiver a oportunidade, ele dirá que sim. Ele encontrará tempo para responder a essa questão? Ele não achou tempo para se reunir comigo, mas, talvez, tenha tempo para responder a essa pergunta.”
Logo no início do mandato, o governo tentou costurar com a China uma posição conjunta para uma futura negociação de paz na Ucrânia, o que também foi rechaçado por Zelenski.
Neste ano, Lula voltou a se engajar no tema. Após participar das celebrações dos 80 anos da vitória russa na Segunda Guerra Mundial, ele pediu a Putin, durante uma ligação, que fosse a Istambul negociar um cessar-fogo. Delegações dos dois lados da disputa se reuniram na Turquia para conversas, mas nem Putin nem Zelenski compareceram.
Mais cedo nesta quarta, Zelenski disse em seu discurso na Assembleia-Geral da ONU que a garantia de segurança de seu país passa por “força e armas”. “Só direito internacional não basta”. A fala ocorre um dia após uma nova reviravolta na retórica de Donald Trump sobre o conflito. Após discursar na cúpula, o americano disse acreditar que a Ucrânia pode recuperar, com o apoio da Otan e da Europa, o território tomado pela Rússia.
“Depois de conhecer e entender completamente a situação militar e econômica da Ucrânia e da Rússia e, após ver os problemas econômicos que isso está causando à Rússia, acredito que a Ucrânia, com o apoio da União Europeia, esteja em posição de lutar e vencer, recuperando toda a Ucrânia em sua forma original”, escreveu Trump em sua rede social, chamando o histórico adversário dos EUA de “tigre de papel” isto é, alguém com poderio de fachada.
O Kremlin, por sua vez, reagiu à fala afirmando ser um grande erro acreditar que a Ucrânia possa recuperar o território perdido. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que seu país “não é um tigre, está mais associado a um urso”. “Ursos de papel não existem”, continuou.
Mais tarde, o chanceler russo, Serguei Lavrov, reuniu-se com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, que reiterou o apelo de Trump para “pôr fim à carnificina” e destacou a necessidade de Moscou de tomar medidas em direção ao fim da guerra. O russo, por sua vez, disse ao americano que a Europa e à Ucrânia são responsáveis pelo prolongamento do conflito.