[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
A menos de 100 quilômetros de São Paulo, Bragança Paulista (SP) é conhecida por ser um município onde se produz linguiça artesanal de alta qualidade. A suinocultura especial, baseada em pequenas propriedades, cortes nobres e uma receita antiga, é herança de italianos que migraram para a região a partir de 1880. O que poucos sabem é que, na cidade de 185,6 mil habitantes se produz também algumas das melhores rações para cães e gatos disponíveis no mercado. E a fábrica responsável pela oferta de 3,5 mil toneladas por mês, pertencente à indústria Farmina Pet Foods, com sede na Itália e faturamento de R$ 400 milhões no Brasil, vai mais que dobrar sua capacidade de produção. Em entrevista à AGÊNCIA DC NEWS, o CEO da operação, Marcelo Hara, descreve o plano da empresa para aumentar em 15% o faturamento este ano.
Inaugurado em 16 de setembro, o novo Centro de Distribuição (CD) da Farmina custou R$ 45 milhões e liberou espaço na fábrica, onde até então se armazenavam os produtos já embalados, para a instalação de novas linhas de produção. O CD está localizado em frente à indústria e não é pequeno – tem 10 mil metros quadrados,e o estoque lá disposto será enviado de um ponto ao outro do complexo via um sistema automatizado e subterrâneo. Hara explica que agora, no pátio fabril, serão instaladas mais três linhas de produção até 2030, em acréscimo a duas esteiras já em atividade. A produção será, portanto, superior a 8 mil toneladas por mês.
“Um dos principais motivos do CD é a nossa projeção para os próximos cinco anos”, disse Hara. Ele, que considerou necessário expandir as linhas de produção e tornar a logística da companhia mais eficiente para atender a uma demanda crescente por rações pet, afirma que neste período será possível ver a capacidade de ampliação de venda e cobertura geográfica. Segundo o executivo, isso ocorrerá graças à performance atual das vendas, “os resultados que conseguimos e a execução da estratégia da empresa”.
A unidade da Farmina na região bragantina é uma das quatro no mundo – as outras estão em Nola, na Itália, Nova Iorque (EUA) e na Sérvia – e só foi implementada na região, com incentivos fiscais e doação do terreno num programa para investidores, em 2009. “Na época, a decisão de Bragança foi em razão da proximidade com São Paulo”, disse ao relatar que a cidade era seu principal mercado. A multinacional surgiu em 1965, focada em ração para o gado italiano, e entrou para o ramo de pet food em 1999. Atualmente, na terceira geração de uma gestão familiar, exporta rações felinas e caninas para 70 países, sendo que a operação brasileira embarca o produto para 14 países na América Latina.
Globalmente, a companhia produz 120 mil toneladas desses produtos por mês e fatura R$ 440 milhões. Chegou ao Brasil em 2002, mas inicialmente se ateve a importar o produto da Itália e, posteriormente, entre 2005 e 2009, terceirizava a produção numa fábrica de terceiros. “Construiu-se uma fábrica em 2009 no Brasil e na Sérvia ao mesmo tempo”, afirmou Hara, referindo-se a um mercado estratégico para o abastecimento do Leste Europeu. Cerca de 2% das rações vendidas no Brasil, aliás, são importadas da operação sérvia: as rações úmidas e enlatadas. “Pretendemos ter uma linha de produção para esses alimentos em Bragança Paulista também”, disse. Ele revela ainda que o projeto de uma planta industrial já foi enviado à prefeitura. “Dependemos da aprovação.”
No Brasil, a Farmina trabalha com cinco linhas de produtos, e aposta na qualidade em um mercado que cresce pouco – em torno de 3,5% este ano, com resultado esperado de R$ 75,4 bilhões, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet) – e tem muita concorrência em volume, mas pouca em qualidade. “Empresas que optaram pela estratégia voltada ao consumidor final, com alto valor agregado, são as que hoje crescem mais”, afirma Hara, que estima um aumento de 15% no faturamento da companhia em 2025. Um dos alvos definidos para ampliar as exportações, que absorvem um terço das vendas da fábrica em Bragança Paulista, é a Argentina. O segmento super premium é o carro-chefe das fabricantes de pet food no mercado argentino, onde representa 30% do consumo total – no Brasil, esse percentual é de 8%.
Segundo Hara, o preço das rações varia de R$ 23 a R$ 100 o quilo, a depender do tipo, e há muitas opções com propriedades veterinárias, como soluções para reduzir o peso, evitar coceiras e regular a urina dos animais domésticos. Quando falou com a AGÊNCIA DC NEWS, o executivo estava no Rio de Janeiro para apresentar uma nova linha de rações com funções gastrointestinais na 50º edição do Wsava, congresso veterinário internacional de animais de pequeno porte, do qual a Farmina foi uma das duas patrocinadoras. “Hoje, o mercado caminha para alimentos com espirulina, gold berry, romã – ingredientes cada vez mais sofisticados”, disse o empresário. Ele destaca também que os produtos são muitas vezes consumidos por humanos. De acordo com o executivo, trata-se de uma abordagem que não está diretamente ligada ao preço, mas sim a busca de soluções específicas para os pets.