SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um júri federal indiciou nesta quinta-feira (25) o ex-diretor do FBI James Comey por acusações criminais de falso testemunho e obstrução da justiça. Segundo críticos, a decisão é mais uma iniciativa do governo de Donald Trump para retaliar pessoas que determinaram investigações ou criticaram seus atos.
Comey, que chefiou o FBI de 2013 a 2017, foi demitido por Trump no início do primeiro mandato do republicano, pouco depois de ter anunciado que a campanha presidencial de 2016 estava sob investigação devido à suposta interferência russa.
Desde então, ele se tornou crítico do atual presidente, a quem já chamou de “moralmente inapto” para o cargo.
Após a saída de Comey, Robert Mueller foi nomeado para conduzir a investigação sobre a Rússia. Ele identificou interações entre a campanha de Trump e Moscou, mas não encontrou provas suficientes para caracterizar uma conspiração criminosa.
O caso atual contra Comey tem origem em seu depoimento de 2020 ao Comitê Judiciário do Senado, no qual respondeu a críticas republicanas sobre a investigação da Rússia e negou ter autorizado vazamentos de informações à imprensa. A acusação é considerada mais um exemplo de uso do aparato judicial do governo para atingir um crítico de Trump, que havia prometido vingança durante a campanha de 2024.
O indiciamento foi formalizado pelo júri pouco depois de Trump cobrar publicamente mais rapidez da procuradora-geral Pam Bondi, nomeada por ele, em processar opositores. “A JUSTIÇA DEVE SER FEITA, AGORA”, escreveu o presidente em sua plataforma, a Truth Social, com as habituais maiúsculas.
Numa rede social, Bondi, por sua vez, escreveu que ninguém está acima da lei. “A acusação de hoje reflete o compromisso deste Departamento de Justiça em responsabilizar aqueles que abusam de posições de poder para enganar o povo americano. Acompanharemos os fatos neste caso.”
Nos bastidores, no entanto, a iniciativa enfrenta resistência. O procurador federal Erik Siebert, que chefiava o distrito da Virgínia Oriental responsável pelo caso, renunciou na semana passada após manifestar dúvidas sobre a consistência das provas.
Sua substituta, Lindsey Halligan, ex-assessora da Casa Branca e antiga advogada pessoal do presidente, assumiu o comando do processo. Outros promotores da região também manifestaram preocupação sobre a fragilidade das acusações.
Republicanos há anos acusam a investigação russa de ter sido concebida para enfraquecer o primeiro governo de Trump. Em 2019, um relatório interno do Departamento de Justiça apontou falhas e erros na abertura do inquérito, mas não encontrou indícios de motivação política. O documento também criticou Comey por ter pedido a um amigo que entregasse ao jornal The New York Times memorandos que descrevem reuniões privadas com Trump -episódio que, à época, não resultou em acusação formal.