[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
O Banco Central lançou nesta segunda-feira (29) a Firmus, pesquisa que mede a percepção do setor empresarial não financeiro sobre os rumos da economia, em complemento ao tradicional Focus. Segundo o presidente do BC, Gabriel Galípolo, a pesquisa traz “informações valiosas que já estão sendo incorporadas na formulação da política monetária”. A primeira rodada da Firmus, com 224 respostas de 338 empresas cadastradas, aponta expectativa de inflação de 5% para 2025 e crescimento do PIB de 2,05%, dados próximos ao Focus, mas com dispersão maior entre os agentes, reforçando o alinhamento entre economia real e mercado financeiro e oferecendo sinais mais claros para decisões de investimento e planejamento estratégico das empresas. Para o economista Ulisses Ruiz de Gamboa, do Instituto de Economia Gastão Vidigal, da Associação Comercial de São Paulo (IEGV-ACSP), o indicador é importante por aproximar os empresários da economia real à política monetária e permite uma leitura mais precisa do país. No questionário há perguntas sobre custos, insumos, preços e margens de lucro, formando um termômetro amplo sobre a situação do Brasil.
Durante o lançamento, representantes do BC comentaram que a pesquisa atende a um chamado do próprio setor produtivo. O diretor de Política Econômica, Diogo Abry Guillen, disse que no desenvolvimento do indicador o Banco Central tem priorizado respostas de empresas maiores. Ele não detalhou setores ou nomes, alegando confidencialidade. Segundo o presidente do BC, Gabriel Galípolo, que defendia um levantamento dessa natureza desde que assumiu o cargo, em janeiro, os dados da Firmus “não destoam tanto, estão muito próximos do Focus”. Isso demonstra, segundo ele, que há um alinhamento maior entre o setor financeiro e a economia produtiva do que “está no imaginário das pessoas no debate público”.
Ainda segundo Galípolo, a Firmus atende a uma questão que extrapolava a discussão acadêmica. Ele se referia a críticas de quem considera a pesquisa Focus um canal de instituições bancárias – e reflexo, apenas, da percepção do mercado financeiro do Brasil. “A maioria nem são bancos”, disse o presidente do BC, citando assets, pesquisadores, fundos de previdência e federações entre os respondentes para a pesquisa do Focus – que capta as percepções de 170 fontes. Para Ruiz de Gamboa, da ACSP, é sempre positivo desenvolver novas pesquisas que contemplem a percepção de diferentes agentes econômicos. “São informações complementares importantes para toda a sociedade”, disse. “Para o Banco Central, que tem que fazer a política monetária, as informações também são relevantes.”
A pesquisa mais recente, divulgada hoje, que encerrou a fase piloto, mostra mediana de 5% na expectativa de inflação (IPCA-IBGE) neste ano. O dado é referente a agosto – em maio, estava em 5,50%. A coleta de informações foi feita entre os dias 11 e 29 do mês passado. Para 2026, as empresas ouvidas mantiveram a expectativa de 4,50%, caindo para 4% no ano seguinte. Em relação ao PIB de 2025, a mediana foi de 2% (maio) para 2,05% (agosto). Para o ano que vem, crescimento de 1,90%. No boletim Focus, a mediana no boletim divulgado hoje é de 4,81% para o IPCA 2025 e 2,16% para o PIB – no ano que vem, 4,28% e 1,80%, respectivamente.
Enquanto a Focus é divulgada semanalmente, a Firmus será trimestral. A próxima coleta será feita em novembro. Os nomes dos participantes não serão divulgados, disse Guillen. “O anonimato das empresas é crucial.” Na edição divulgada hoje, foram 224 respostas entre 338 empresas cadastradas (66%). Na primeira edição da fase piloto, em novembro de 2023, 82 respostas entre 137 cadastradas (60%). Uma diferença entre os dois termômetros, segundo ele, é que a Firmus tem mais dispersão. “As empresas têm opiniões mais diferentes entre si do que no mercado financeiro.”
A nova pesquisa inclui perguntas sobre custo de mão de obra, expectativa do setor de atividade em relação ao PIB, custos de insumos, relação entre preços e inflação, margem de resultado nos próximos 12 meses e impactos da política comercial dos Estados Unidos. Algumas respostas são de múltipla escolha. Entre estas, o BC concluiu que a percepção predominante sobre a situação econômica atual permaneceu em patamar negativo pela terceira rodada consecutiva, com aumento das avaliações desfavoráveis. Além disso, o otimismo quanto ao desempenho do setor de atuação da empresa “manteve-se relativamente estável pelo segundo período consecutivo”. A “ampla maioria”, segundo o relatório, afirmou que a oferta de crédito permaneceu inalterada. Quanto às medidas do governo norte-americano, a avaliação predominante é de que as atividades foram atingidas de forma indireta, com aumento da incerteza econômica.
Munido de tais dados, segundo o diretor, é possível concluir que o cenário é de “certa moderação no crescimento, mas o mercado de trabalho ainda mostra dinamismo”. Em um período de tensão geopolítica, acrescentou, os países emergentes precisam ser ainda mais cautelosos. O BC projeta 2% para o PIB deste ano e 1,5% no próximo.