BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – Encontro organizado pelo papa Leão 14 reunirá de Arnold Schwarzenegger a Marina Silva a partir desta quarta-feira (1°), em Castel Gandolfo, para discutir justiça climática. Centenas de fiéis e lideranças do setor debaterão por três dias o legado e a urgência da encíclica “Laudato Si”, que completou dez anos em maio.
Um mês antes, a morte de Francisco aos 88 anos encerrava um papado de resgate do papel social da Igreja Católica, em que a defesa ambiental e os alertas sobre a mudança climática provocada pela queima de combustíveis fósseis e pelo uso descontrolado do solo ocupavam espaço central.
A encíclica, espécie de carta papal sobre temas centrais para o Vaticano, tinha como eixo a ecologia integral, a compreensão de que “não há duas crises separadas, uma ambiental e outra social, mas uma única e complexa crise socioambiental”.
“Cada um dos 1,4 bilhão de católicos pode ser um defensor do meio ambiente e nos ajudar a exterminar a poluição”, declarou nesta terça-feira (30), no Vaticano, o ex-governador da Califórnia, ator e fisiculturista, em uma óbvia referência à franquia que o transformou em uma grande estrela de Hollywood, “Exterminador do Futuro”.
Schwarzenegger é católico e republicano, mas trafega em um universo bem diferente do instalado por Donald Trump na Casa Branca. É um defensor das causas ambientais e colaborou ativamente, como governador, para a avançada legislação relacionada à questão climática na Califórnia.
“Estou muito animado… com o fato de a Igreja Católica e o Vaticano estarem se envolvendo nisso, porque precisamos da ajuda deles”, declarou o austríaco naturalizado americano, sublinhando o complexo momento de seu país de adoção e do planeta.
Trump retirou pela segunda vez os EUA do Acordo de Paris e promove um retrocesso ambiental sem precedentes no país, que inclui desmonte do acompanhamento científico do clima no planeta e o resgate de projetos anacrônicos de produção de combustíveis fósseis.
Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, Frederico Assis, enviado da COP30 para combate à desinformação, e dom Jaime Spengler, presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) encabeçam a delegação brasileira no encontro, que ainda terá representantes de grupos indígenas e ambientalistas.
Leão 14, primeiro americano a se tornar pontífice, foi um cardeal alinhado com as determinações de Francisco, colecionando manifestações públicas sobre sustentabilidade e mudança climática.
No começo deste mês, o pontífice inaugurou em área adjacente à residência de verão do Vaticano, em Castel Gandolfo, um centro de treinamento ecológico, com 55 hectares, que engloba jardins, instalações de ensino profissionalizante e de educação para crianças da região.
O projeto, concebido por Francisco, consome 55% da área total do Vaticano. “”Se nós, o menor Estado-nação do mundo, conseguimos fazer isso, qual é o potencial dos outros Estados que são maiores do que nós?”, perguntou na inauguração do centro Manuel Dorantes, padre americano que vai dirigir o local.
Em julho, Leão 14 já tinha aprovado também um rito inédito permitindo que padres celebrem missas que exortam os católicos a cuidar da Terra. A educação ambiental já desponta como uma das marcas do início de seu papado. Em boa hora, diz o ministro para Mudanças Climáticas de Tuvalu, Maina Taila, outro convidado do encontro.
“A mudança climática não é um cenário distante”, disse o representante de um dos países mais afetados pelo aumento do nível do mar provocado pelo aquecimento global. “Já estamos nos afogando. Nossa sobrevivência depende da solidariedade global urgente.”.