BRASÍLIA, DF E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu ao grupo terrorista Hamas “de três a quatro dias” para que aceite o plano de paz que ele anunciou na segunda-feira (29) com o objetivo de interromper a guerra na Faixa de Gaza. O republicano falou em “um fim muito triste” caso a facção palestina rejeite a proposta.
Mediadores de Qatar e Egito compartilharam o plano, que contém 20 pontos, com o Hamas na noite de segunda, depois que o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, apareceu ao lado de Trump na Casa Branca e endossou o documento, dizendo que ele satisfazia os objetivos de guerra de Israel.
O Hamas não esteve envolvido nas negociações que levaram a essa proposta. O texto exige que o grupo terrorista se desarme, algo que a facção já havia rejeitado. No entanto, um funcionário informado sobre as conversas disse à agência Reuters que a facção “iria analisá-lo de boa-fé e fornecer uma resposta”.
Falando a repórteres em Washington nesta terça-feira (30), Trump disse que líderes israelenses e árabes já haviam endossado o plano e que todos os envolvidos estão “apenas esperando o Hamas” tomar sua decisão. “O Hamas vai fazer isso ou não, e se não fizer, será um fim muito triste.” Questionado se havia espaço para mais negociações, ele respondeu: “Não muito”.
O plano especifica um cessar-fogo imediato, a troca de todos os reféns mantidos pelo Hamas por prisioneiros palestinos detidos por Israel, a retirada por etapas das tropas israelenses de Gaza, o desarmamento do grupo terrorista e a introdução de um governo de transição liderado por um organismo internacional.
Uma pessoa próxima ao Hamas disse à Reuters que o plano era “completamente tendencioso a favor de Israel” e impunha “condições impossíveis” que visam, na prática, a eliminação do grupo.
Muitos dos elementos na proposta foram incluídos em vários diálogos por cessar-fogo nos últimos dois anos, incluindo condições aceitas e depois rejeitadas tanto por Israel quanto pelo Hamas.
Uma das principais exigências do Hamas desde o início da guerra tem sido a retirada completa de Israel da Faixa de Gaza em troca da libertação dos reféns restantes. Embora o grupo tenha indicado sua disposição de renunciar à autoridade administrativa, tem descartado também se desarmar.
Após o anúncio do plano, Netanyahu disse que, ao menos em um primeiro momento, as tropas israelenses permaneceriam na maior parte de Gaza mesmo se o acordo entrasse em vigor. “O mundo inteiro, incluindo o mundo árabe e muçulmano, está pressionando o Hamas a aceitar as condições que estabelecemos com o presidente Trump: libertar todos os nossos sequestrados vivos e mortos enquanto as Forças de Defesa de Israel permanecem na maior parte do território.”
O Hamas, no entanto, enfrenta pressão considerável para aceitar o plano, com os ministros das Relações Exteriores de Arábia Saudita, Jordânia, Emirados Árabes Unidos, Qatar e Egito recebendo bem a iniciativa. Até mesmo o papa Leão 14 pediu nesta terça que o grupo terrorista aceite a proposta. “Há elementos muito interessantes [no plano]”, disse o pontífice americano.
O chefe de inteligência da Turquia deveria se juntar aos mediadores de Qatar e Egito em Doha para discutir a proposta de paz ainda nesta terça, disse um porta-voz do ministério das Relações Exteriores qatari. A Turquia não esteve envolvida anteriormente como mediadora principal nos últimos dois anos.
Não estava claro se autoridades do Hamas se juntariam à reunião desta terça-feira. Na última vez que líderes da facção se reuniram para discutir um plano de paz dos EUA no Qatar, Israel fez um ataque com míssil para tentar matá-los em Doha. A ofensiva, no entanto, não teve sucesso. Netanyahu pediu desculpas na segunda ao premiê do Qatar, segundo a Casa Branca.
Netanyahu está sob crescente pressão de um público israelense que quer encerrar o conflito. O premiê, porém, também arrisca o colapso de sua coalizão governamental se ministros de extrema direita acreditarem que ele está disposto a fazer muitas concessões por um acordo de paz.
O extremista Itamar Ben-Gvir (Segurança Nacional) disse em uma reunião do gabinete do governo que o plano de paz de Trump é “cheio de buracos” e prejudica a segurança de Israel. Em outras ocasiões, ele já se manifestou de forma contrária a acordos para cessar-fogo no conflito.
Em Gaza, alguns palestinos saudaram o plano de paz de Trump, dizendo que ele poderia acabar com os bombardeios e mortes, mas questionaram se isso resultaria no controle do território por parte de Israel. “Queremos que a guerra acabe, mas queremos que o Exército de ocupação que matou dezenas de milhares de nós saia e nos deixe em paz”, disse Salah Abu Amr, 60, pai de seis filhos da Cidade de Gaza.
Trump, por sua vez, afirmou que consideraria um insulto não receber o Nobel da Paz por seu papel na resolução de guerras. “Você ganhará o Prêmio Nobel?”, perguntou o presidente, acrescentando ele mesmo a resposta. “De jeito nenhum. Eles o darão a alguém que não fez absolutamente nada.”