Dólar ronda estabilidade e Bolsa sobe com 'shutdown' nos EUA e contas públicas nos holofotes

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar oscila entre sinais nesta sexta-feira (3), com o mercado ainda embalado pela expectativa de que o Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) seguirá cortando a taxa de juros nos próximos meses.

A paralisação parcial do governo norte-americano, porém, limita a visibilidade dos agentes sobre o estado da economia ao congelar a divulgação de novos dados. No Brasil, isenção do IR (Imposto de Renda) e rumores de uma proposta de tarifa zero para ônibus urbanos acirram temores sobre o cenário fiscal.

Às 13h40, o dólar tinha variação negativa de 0,02%, cotado a R$ 5,337, depois de passar a manhã no positivo. Já a Bolsa, que antes rondava a estabilidade, subia 0,3%, a 144.383 pontos.

A paralisação do governo dos Estados Unidos foi causada por falta de financiamento para serviços federais não essenciais, diante de um impasse entre republicanos e democratas no Congresso.

A princípio, os efeitos disso se darão na interrupção de atividades das agências. Viagens aéreas serão atrasadas, pesquisas científicas, suspensas, e até 750 mil funcionários federais poderão ser dispensados, custando US$ 400 milhões ao governo.

Para o mercado, o problema principal está na paralisação de agências responsáveis por estatísticas da economia norte-americana. O relatório de emprego “payroll”, por exemplo, estava previsto para esta manhã e foi adiado indefinidamente.

O momento é especialmente sensível diante da cautela do Fed quanto ao ciclo de corte de juros, iniciado na reunião de setembro e cuja continuidade depende da evolução dos dados econômicos, sobretudo os de emprego e de inflação.

“Para os investidores, a não publicação do payroll em momento em que o Fed está em processo de corte de juros é preocupante”, diz o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior, em comentário enviado a clientes.

Enquanto o payroll segue sem data definida, a paralisação já ameaça a divulgação do relatório CPI (índice de preços ao consumidor, em inglês) da próxima semana, um dos termômetros da inflação americana.

Sem os números oficiais, o mercado se ampara em publicações laterais. Na quinta, o Fed de Chicago estimou que a taxa de desemprego dos EUA “provavelmente” foi de 4,3% em setembro, o mesmo número aferido em agosto.

A previsão sugere que o mercado de trabalho não está, por enquanto, em uma rápida deterioração, e os mercados financeiros continuam a refletir apostas pesadas em cortes de 0,25 ponto nos juros nas próximas duas reuniões do Fed, em outubro e dezembro.

Por um lado, a expectativa de cortes de juros pelo Fed afasta os investidores do dólar, uma vez que o rendimento dos títulos ligados ao Tesouro dos Estados Unidos, os treasuries, caem.

Por outro, o mercado volta a adotar cautela em relação ao Brasil, em especial quanto ao cenário fiscal.

O plenário da Câmara aprovou, na quarta-feira à noite, uma das principais promessas de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT): a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 por mês. O projeto ainda precisa passar pelo Senado Federal antes de começar a valer em 2026.

Além de promessa da última campanha, a isenção do IR também é a principal aposta do PT para alavancar a popularidade de Lula em ano eleitoral. A medida ainda inclui um desconto no imposto de quem ganha entre R$ 5.000 e R$ 7.350 mensais.

Ao todo, a desoneração da base da pirâmide de renda deve beneficiar até 16 milhões de contribuintes a um custo de R$ 31,2 bilhões no ano que vem, segundo o relator, deputado Arthur Lira (PP-AL). Para compensar a perda desses recursos, o governo propôs a criação de um imposto mínimo de 10% sobre a alta renda, também aprovado apesar das resistências.

O projeto levantou temores de ingerência fiscal no ano passado, o que, entre outros fatores, levou o dólar ao recorde histórico de R$ 6,20. Mais do que a isenção em si, o mercado temia que o texto fosse desidratado na Câmara sem uma compensação para a perda de receita, desequilibrando as contas públicas e impondo dúvidas sobre a sustentabilidade da dívida do governo.

Mas, mesmo com a medida compensatória, investidores seguem temerosos. Circulam pelas mesas de operação rumores de que o governo Lula estaria estudando a possibilidade de um programa federal para implementar tarifa zero em transporte coletivo de passageiros em todo o Brasil.

Há o receio de que iniciativas como essa possam se multiplicar com a proximidade do ano eleitoral, gerando mais gastos para o governo.

“Essa ideia tem causado certa preocupação entre investidores. A questão fiscal tem sido um tema sensível, ainda que mais no ano passado do que nesse, e rumores como esse aumentam a percepção de risco sobre os ativos brasileiros”, comenta Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX.

“Mas essa discussão sobre as tarifas zero parece ainda um pouco incipiente.”

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