SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Hamas afirmou nesta terça-feira (7), data em que os ataques terroristas do grupo no sul de Israel completam dois anos, que quer chegar a um acordo para encerrar a guerra na Faixa de Gaza com base no plano do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mas que ainda tem uma série de exigências.
A declaração sinaliza que as negociações indiretas da facção com Tel Aviv, que ocorrem em Sharm el-Sheikh, no Egito, desde segunda (6), podem ser difíceis e demoradas, apesar do tom otimista de Trump ao falar sobre o assunto com jornalistas no Salão Oval. “Acho que existe a possibilidade de termos paz no Oriente Médio” afirmou o republicano na Casa Branca, nesta terça.
O conflito, iniciado em 7 de outubro de 2023, quando o Hamas assassinou cerca de 1.200 pessoas em seu mega ataque a Israel, conta hoje mais de 67 mil palestinos mortos desde que Tel Aviv iniciou sua ofensiva em reação -o número é do Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas. A cifra, impossível de verificar devido a restrições de Tel Aviv à imprensa no território, é considerado confiável pela ONU.
Em declaração televisionada, Fawzi Barhoum, membro de alto escalão do Hamas, afirmou que a delegação que participa das negociações “está trabalhando para superar todos os obstáculos para chegar a um acordo que atenda às aspirações” dos palestinos.
Segundo ele, a facção quer um cessar-fogo permanente e abrangente, a retirada completa das forças israelenses de Gaza e o início imediato de um processo de reconstrução do território sob a supervisão de um “órgão tecnocrático nacional” palestino.
O Estado judeu nunca aceitou tais condições e exige, por sua vez, que o Hamas entregue as armas -algo que o grupo terrorista também rejeita. Trata-se do mesmo impasse que impediu diversas outras tréguas na guerra que devastou Gaza e matou dezenas de milhares de palestinos.
Todas essas demandas, com algumas mudanças e detalhes em discussão, fazem parte da proposta de 20 pontos de Trump para o fim do conflito.
Reforçando os obstáculos que devem dificultar as negociações, um grupo de facções palestinas, incluindo o Hamas, emitiu uma declaração prometendo “postura de resistência por todos os meios” e afirmando que “ninguém tem o direito de ceder as armas do povo palestino”.
O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, não comentou a respeito do status das conversas em Sharm el-Sheikh, mas pessoas envolvidas nas negociações pedem cautela em relação a expectativas de um acordo rápido.
Autoridades americanas indicaram que querem inicialmente buscar concordância para a interrupção dos combates e a logística de como os reféns israelenses e os prisioneiros políticos palestinos seriam libertados. O Qatar, por sua vez, que é um dos mediadores, disse que muitos detalhes ainda precisavam ser resolvidos.
O premiê do Qatar, o xeique Mohammed bin Abdulrahman al-Thani, deve se juntar às conversas nesta quarta-feira (8), com o objetivo de impulsionar o plano de cessar-fogo e a libertação de reféns. A delegação americana inclui Steve Witkoff, enviado dos EUA para o Oriente Médio, e Jared Kushner, genro de Trump e responsável por negociações na região durante o primeiro mandato do republicano.
Na ausência de um cessar-fogo, Israel continua bombardeando os poucos prédios que restam na Faixa de Gaza -de acordo com a UNRWA, a agência da ONU para refugiados palestinos, quase 80% das construções do território foram destruídas ou danificadas e praticamente todos os moradores foram deslocados, muitos mais de uma vez.
“Já são dois anos que vivemos com medo, horror, deslocamento e destruição”, diz o palestino Mohammed Dib, 49.
Moradores de Khan Yunis, no sul de Gaza, e da Cidade de Gaza, no norte, relataram novos ataques de tanques, aviões e barcos israelenses nas primeiras horas desta terça. Já o Exército israelense disse que combatentes em Gaza dispararam foguetes contra Israel, acionando sirenes de ataque aéreo no kibutz israelense Netiv Haasara.
Nas ruas de Israel, a data também foi marcada por homenagens e protestos. Famílias visitaram áreas atacadas em 2023, incluindo o local em que ocorria o festival de música Nova, onde 364 pessoas foram assassinadas. “É como uma ferida aberta. Não acredito que já se passaram dois anos e os reféns ainda não voltaram”, disse Hilda Weisthal, 43.