Tarifaço faz indústria brasileira de calçados refazer projeções: produção pode cair neste ano e no próximo

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Retração nas exportações faz indústria refazer estimativas de produção e vendas
(Abicalçados)
  • Setor estimava crescimento de 1,4% a 2,2% em 2025, o que já indicava desaceleração. Agora, estima -1,1% a +1,4%
  • Vendas brasileiras para os EUA respondem por 20% da receita. Entidade também vê possível diminuição das vendas para a Argentina
Por Vitor Nuzzi

[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) recalculou para baixo suas projeções para o setor relativas a 2025 e 2026. Agora, a entidade inclui a possibilidade de queda na produção, como efeito, principalmente, do tarifaço norte-americano. A estimativa para este ano vai de -1,1% a +1,4% (a projeção anterior, feita no início de 2025, era de alta entre 1,4% e 2,2%, mas já indicava desaceleração, após crescimento de 4,3% em 2024). Assim, o que era piso (aumento de 1,4%) passou a ser o teto, na hipótese otimista. Para o ano que vem, a projeção está no intervalo de -0,5% a +2,1%. As vendas brasileiras para os Estados Unidos respondem, historicamente, por 20% da receita, segundo a Abicalçados. No primeiro semestre deste ano, 22,5%. Em todo o ano passado, 22,2% (US$ 216,3 milhões).

Com as novas estimativas, a associação do setor estima produção de 919,2 milhões a 942,5 milhões de pares neste ano – a mediana aponta pouco mais de 930 milhões, indicando estabilidade. A projeção é de queda de 4% no terceiro trimestre e alta de 2,7% no último período do ano. Até então, a entidade esperava que a indústria atingisse até 949,9 milhões de pares. Para o próximo ano, a projeção agora vai de 914,6 milhões a 962,3 milhões.

Além dos Estados Unidos, a Abicalçados vê possibilidade de queda nas importações da Argentina. “Como são os dois principais destinos do calçado brasileiro no exterior, devemos ter um impacto importante nas exportações”, afirmou o economista e consultor Marcos Lélis, durante evento promovido pela entidade. “Especialmente em 2026, caso o tarifaço siga em vigência.” Com a possível queda nas exportações, a indústria estima que 91% da produção fique no mercado interno e apenas 9% vá para fora. Seria o pior resultado histórico – no ano passado, 11% da produção brasileira foi destinada à exportação.

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Além da produção, a Abicalçados refez as projeções para as vendas externas: de alta entre 1,2% e 4,1% neste ano, agora a estimativa vai da estabilidade (0,2%) a um crescimento menos intenso (3,1%). O cenário piora em 2026, com previsão de queda entre 9,8% e 16,3%. Apenas em setembro, as exportações de calçados cresceram 18% em volume na comparação igual mês de 2024 – com altas expressivas em países vizinhos, como Paraguai (+109%), Colômbia (+107%) e Peru (+97%). Para os Estados Unidos, queda de 23,5%. O preço médio do calçado caiu 11,5%. Conforme a associação, isso se explica “pela alteração de pauta dos produtos embarcados, em detrimento dos produtos de couro”.

“O que vem segurando a economia brasileira ao longo de 2025, principalmente no primeiro semestre, é o mercado interno”, disse a Abicalçados. A entidade cita a taxa de desemprego de 5,6% no trimestre encerrado em agosto, a menor da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE. A renda média cresceu 3,3% em 12 meses e foi a R$ 3.488. Assim, acrescenta a associação, “o mercado doméstico segue consumindo, mesmo que em menores volumes”. As projeções para o PIB indicam desaceleração em 2025 e 2026. Segundo Lélis, o endividamento das famílias impõe limites ao consumo interno.

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