Trump anuncia 100% de tarifa adicional sobre China; Bolsas caem, e dólar dispara no Brasil com tensão

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta sexta-feira (10) que vai impor tarifas adicionais de 100% sobre produtos da China a partir do dia 1º de novembro. A sobretaxa dos EUA sobre produtos chineses em vigor atualmente é de 30%.

Na mesma data, também serão aplicados controles de exportação para todos os tipos de softwares críticos, de acordo com a publicação de Trump na plataforma Truth Social.

O presidente já havia adiantado mais cedo que avaliava um “aumento massivo” nas taxas, o que gerou impacto no mercado financeiro, com Bolsas em queda e dólar em alta no Brasil.

O dólar terminou o dia em disparada de 2,39% e encerrou a semana cotado a R$ 5,503, um patamar que não alcançava desde o último mês de agosto.

No Brasil, a moeda americana também sofreu efeitos de temores sobre o equilíbrio das contas públicas do país. Nesta sexta, o governo lançou uma novo modelo de crédito imobiliário que pode turbinar a popularidade do presidente Lula a um ano das eleições, além de injetar estímulos na economia, o que pode forçar a a manutenção da taxa básica de juros (Selic) em um patamar elevado por mais tempo.

“Os investidores tendem a reagir positivamente quando há, digamos, notícias que mostram fraqueza do governo atual. O mercado acredita que uma mudança de governo pode levar a uma gestão mais responsável fiscalmente”, diz Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.

Os mercados fecharam antes da confirmação das tarifas, mas ameaças do início do dia feitas por Trump já haviam abalado as Bolsas. O índice S&P 500, composto por ações de grandes empresas, fechou em queda de 2,71%, na maior queda percentual desde 10 de abril. A Bolsa brasileira registrou recuo de 0,72%, a 140.680 pontos.

“Estamos vendo um movimento de aversão ao risco generalizado na economia global. Com a China voltando a figurar no foco de Trump, vemos um movimento de desvalorização de commodities, afetando as moedas mais sensíveis à exportação desses itens”, diz André Valério, economista-chefe do Inter.

A sobretaxa contra a China, segundo Trump, é uma resposta à “posição extraordinariamente agressiva” do país de “impor controles de exportação para todos os tipos de produtos”.

O governo de Xi Jinping anunciou nesta semana a adoção de controles de exportação que deve causar rupturas no fornecimento global de terras raras, produtos essenciais para uma série de indústrias, da automobilística à de defesa.

Pelas novas regras, empresas estrangeiras precisarão obter autorização de Pequim para exportar ímãs críticos e outros produtos que contenham até pequenas quantidades de terras raras extraídas da China.

“Ninguém jamais viu algo assim, mas, essencialmente, isso ‘paralisaria’ os mercados e tornaria a vida difícil para praticamente todos os países do mundo, especialmente para a China”, disse Trump em sua publicação nas redes sociais.

Analistas apontam que a China tem vantagem por dominar a produção de terras raras, mas os EUA também dispõem de alternativas, como exigir licenças para a venda de semicondutores à China.

As novas tarifas reacendem o risco de uma guerra comercial em grande escala, semelhante à do início do ano, quando Trump impôs tarifas de 145% sobre produtos chineses e Xi respondeu com 125% sobre mercadorias americanas.

Atualmente, a tarifa média efetiva dos EUA sobre importações chinesas, que leva em conta fatores como exceções setoriais, é de 58%, segundo o Instituto Peterson de Economia Internacional. A tarifa média praticada pela China, de acordo com os mesmos cálculos, é de aproximadamente 32%.

Washington e Pequim haviam alcançado uma trégua durante negociações em Genebra, mas o acordo ficou ameaçado quando a China começou a restringir a exportação de terras raras.

O impasse foi parcialmente resolvido em Londres, e novas rodadas de negociação em Estocolmo e Madri abriram caminho para um encontro entre Trump e Xi, marcado para ocorrer à margem do fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, na Coreia do Sul, no fim de outubro. Empresas internacionais veem a reunião como um passo em direção à estabilização das relações entre Estados Unidos e China.

Antes de confirmar a nova tarifa, Trump sugeriu que cancelaria o compromisso, afirmando que não via motivos para se encontrar com Xi Jinping. Mais tarde, o presidente americano negou o cancelamento. “Vamos ter que ver o que acontece, por isso marquei para 1º de novembro. Vamos ver o que acontece.”

Pequim nunca confirmou o encontro.

No fim da tarde, Trump fez outras ameaças. Afirmou, por exemplo, que os Estados Unidos podem impor controles de exportação sobre peças de aviões da Boeing.

“Temos muitas coisas, e uma delas, uma grande coisa, são os aviões. Eles [a China] têm muitos aviões da Boeing e precisam de peças e de muitas outras coisas assim”, disse Trump a repórteres na Casa Branca, ao ser questionado sobre quais itens os EUA poderiam incluir nos controles de exportação.

As companhias aéreas chinesas têm pedidos para pelo menos 222 jatos da Boeing, segundo a Cirium, empresa de análise do setor de aviação.

O país possui 1.855 aviões da Boeing em operação. A grande maioria dos aviões encomendados e em serviço é do popular modelo 737, de corredor único.

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