Nobel de economia é concedido a trio que explicou o crescimento impulsionado pela inovação

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BERLIM, None (FOLHAPRESS) – O Prêmio Nobel de Economia de 2025 foi concedido a Joel Mokyr, “por ter identificado os pré-requisitos para o crescimento sustentado por meio do progresso tecnológico”, e a Philippe Aghion e Peter Howitt, “pela teoria do crescimento sustentado através da destruição criativa”. O anúncio ocorreu na manhã desta segunda-feira (13), em Estocolmo.

Segundo os organizadores do prêmio, o trio mostrou como a inovação impulsiona o progresso, discussão oportuna e que se encaixa no debate atual sobre os efeitos da inteligência artificial nas sociedades.

Mokyr, historiador da economia americana da Universidade Northwestern (EUA) e que pelo número de citações já era cotado ao Nobel nos últimos anos, “utilizou fontes históricas como um meio para descobrir as causas do crescimento sustentado, que se tornou o novo normal”, declarou a Real Academia Sueca de Ciências em comunicado.

Aguion, acadêmico do Collège de France, do Insead (França) e da London School of Economics (Reino Unido), e Howitt, da Universidade Brown (EUA), também estudaram os mecanismos por trás do fenômeno. Em um artigo de 1992, eles construíram um modelo matemático para o que é chamado de destruição criativa: quando um produto novo e melhor entra no mercado, as empresas que vendem os produtos mais antigos saem perdendo.

Mokyr, americano-israelense nascido na Holanda, recebeu metade do prêmio, sendo a outra metade dividida entre Aghion, francês, e Howitt, canadense.

“De diferentes maneiras, os laureados mostram como a destruição criativa gera conflitos que devem ser gerenciados de maneira construtiva. Caso contrário, a inovação será bloqueada por empresas estabelecidas e grupos de interesse que correm o risco de ficar em desvantagem”, explicou a Academia.

“A estagnação econômica, e não o crescimento, tem sido a norma na maior parte da história da humanidade. O trabalho deles mostra que devemos estar cientes das ameaças ao crescimento contínuo e combatê-las.”

Contatado pelos organizadores logo após o anúncio, Aguion declarou que a inteligência artificial deve acelerar a destruição criativa, “mas também a produção de bens, serviços e ideias”.

“Precisamos das instituições funcionando na área da educação e de políticas para o mercado de trabalho para aproveitar esse potencial de produtividade e garantir que minimizemos os efeitos negativos da nova revolução industrial, como fizemos com as anteriores”, disse o professor, que prometeu investir sua parte no prêmio no laboratório de pesquisa que mantém no Collège de France.

“Devemos seguir o exemplo da Suécia e da Dinamarca nessa frente [ter um bom sistema educacional]. E acredito que isso vai acontecer”, declarou, sem esconder o tom otimista.

“Na Europa, em nome da política de concorrência, nos tornamos muito contrários a qualquer forma de política industrial. Acho que precisamos evoluir nesse sentido e encontrar maneiras de conciliar essa política industrial em áreas como defesa, clima, inteligência artificial e biotecnologia, nas quais somos muito bons e temos pesquisas muito boas”, disse Aghion.

“O trabalho dos laureados mostra que o crescimento econômico não pode ser dado como certo. Devemos defender os mecanismos que sustentam a destruição criativa, para não voltarmos à estagnação”, afirmou John Hassler, presidente do Comitê do Prêmio em Ciências Econômicas.

À reportagem, Hassler declarou que ” é extremamente importante pensar nessas consequências”, quando indagado se o rápido advento da inteligência artificial era o motor principal da escolha. “Os premiados enfatizam que a mudança tecnológica ocorre por meio de uma ruptura criativa. E, nesse processo, algumas pessoas e algumas empresas sairão perdendo. E isso, ao longo da história, muitas vezes impediu que a mudança tecnológica realmente se popularizasse e se tornasse um processo contínuo”, disse.

“Com a IA e a tecnologia atual, esse processo pode ser muito mais rápido e também mais poderoso. Com base na pesquisa dos laureados, é muito importante pensar em como garantir que as pessoas prejudicadas nesse processo recebam ajuda para conseguir novos empregos e talvez também alguma compensação em algum momento”, afirmou o presidente do comitê.

“São questões muitos importantes, que devemos ser tratadas com seriedade.”

Tomar estudos que analisam o efeito construtivo da tecnologia, enquanto o debate em geral foca o receio da futuro, poderia ser compreendido como um certo otimismo da Academia, parecido ao demonstrado por Aguion. Hassler não refuta o raciocínio. “Ao menos podemos mostrar que funcionou por 200 anos”, disse.

“Certamente há nuvens escuras no horizonte. Mas, se você não for otimista, não vai conseguir lidar com esses problemas. Então, pelo menos na minha opinião, acho importante tentar ser otimista. E, ao mesmo tempo, realista.”

Popularmente chamado de Nobel de Economia e com o mesmo prestígio que os de outras áreas, o prêmio de ciências econômicas é o único que não fez parte do testamento de Alfred Nobel (1833-1896), um engenheiro e químico sueco, conhecido por ter inventado a dinamite e desenvolvido a borracha e o couro sintéticos.

Um ano antes de morrer, Nobel destinou 94% de sua fortuna de 31 milhões de coroas suecas (equivalentes a mais de R$ 1 bilhão nos dias de hoje) à criação de um prêmio que reconhecesse anualmente “o maior benefício à humanidade” nas áreas da química, física, medicina, literatura e paz.

Criado em 1968 pelo Banco Central da Suécia (Sveriges Riksbank), o prêmio de economia tem o nome oficial de Prêmio Sveriges Riksbank em Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel.

É concedido pela Real Academia Sueca de Ciências, de acordo com os mesmos princípios dos Prêmios Nobel originais, que são atribuídos desde 1901.

A candidatura é feita apenas por convite e, por regulamento, os nomes dos indicados e outras informações sobre as indicações não podem ser revelados até 50 anos depois.

Podem indicar nomes para o Nobel econômico membros da Real Academia de Ciências da Suécia, do comitê do prêmio, ex-premiados, acadêmicos escandinavos e de pelo menos outras seis instituições selecionadas a cada ano e outros cientistas de quem a Academia de Ciências considere adequado solicitar propostas.

O premiado é escolhido pela Academia de Ciências, a partir das recomendações do Comitê do Prêmio de Ciências Econômicas, composto por cinco membros.

O prêmio é de 10 milhões de coroas suecas (R$ 5,7 milhões), além de uma medalha projetada pelo escultor sueco Gunvor Svensson-Lundqvist e um diploma.

RELEMBRE OS VENCEDORES DO PRÊMIO DE ECONOMIA

2024 – Daron Acemoglu e Simon Johnson, do MIT (Massachusets Institute of Technology), e James A. Robinson, da Universidade de Chicago, por “fornecerem uma explicação para o motivo pelo qual alguns países são ricos e outros pobres”.

2023 – Claudia Goldin (EUA), por fazer “avançar a compreensão do resultado do mercado de trabalhos para as mulheres.

2022 – Ben Bernanke, Douglas Diamond e Philip Dybvig, por suas pesquisas sobre o setor bancário e as crises financeiras.

2021 – David Card (Canadá e EUA), Joshua D. Angrist (Israel e EUA) e Guido W. Imbens (Holanda); Card “por suas contribuições empíricas à economia do trabalho”, e Angrist e Imbens, “por suas contribuições metodológicas para a análise das relações causais”.

2020 – Paul Milgron e Robert Wilson (EUA), “por melhorias na teoria do leilão e invenções de novos formatos de leilão”

2019 – Abhijit Banerjee (Índia e EUA), Esther Duflo (França e EUA) e Michael Kremer (EUA), “por sua abordagem experimental para aliviar a pobreza global”

2018 – William Nordhaus e Paul Romer (EUA), por revelarem fatores que impulsionam o crescimento sustentável e o papel de políticas públicas na determinação de seu impacto

2017 – Richard H. Thaler (EUA), por estudo do comportamento na tomada de decisões

2016 – Oliver Hart (Reino Unido e EUA) e Bengt Holmström (Finlândia), por estudos na área de contratos

2015 – Angus Deaton (Reino Unido e EUA), por estudos sobre consumo, pobreza e bem-estar social

2014 – Jean Tirole (França), devido a pesquisas sobre o poder de mercado de grandes empresas

2013 – Eugene Fama, Robert Shiller e Lars Peter Hansen (todos dos EUA), por estudos de análise sobre preços de ativos

2012 – Alvin Roth e Lloyd Shapley (ambos dos EUA), por trabalhos sobre como otimizar oferta e demanda

2011 – Thomas J. Sargent e Christopher A. Sims (ambos dos EUA), por pesquisa sobre causas e efeitos na macroeconomia

2010 – Christopher Pissarides (Chipre) e Peter Diamond e Dale T. Mortensen (ambos dos EUA), por estudos sobre demandas dos mercados e a dificuldade em correspondê-las

2009 – Elinor Ostrom e Oliver Williamson (EUA), pela demonstração de como propriedades podem ser utilizadas por associações de usuários e pela teoria sobre resolução de conflitos entre corporações, respectivamente

2008 – Paul Krugman (EUA), pela análise dos padrões do comércio e da localização da atividade econômica

2007 – Leonid Hurwicz (Polônia e EUA), Eric S. Maskin e Roger B. Myerson (ambos dos EUA), pela aplicação das bases da teoria do desenho dos mecanismos

2006 – Edmund S. Phelps (EUA), “por sua análise dos tradeoffs intertemporais na política macroeconômica”

2005 – Robert J. Aumann (Israel e EUA) e Thomas C. Schelling (EUA), por estudos sobre conflito e cooperação em negociações por meio da análise da teoria dos jogos

2004 – Finn E. Kydland (Noruega) e Edward C. Prescott (EUA), por pesquisa sobre o desenvolvimento da teoria da macroeconomia dinâmica e seus estudos sobre os ciclos de negócios

2003 – Robert F. Engle 3º (EUA) e Clive W.J. Granger (Reino Unido), “por métodos de análise de séries de tempo econômicas”

2002 – Daniel Kahneman (EUA e Israel) e Vernon L. Smith (EUA), “por ter integrado insights da pesquisa psicológica na ciência econômica, especialmente em relação ao julgamento humano e tomada de decisão sob incerteza”, no caso de Kahneman, e “por ter estabelecido experimentos de laboratório como ferramenta de análise econômica empírica, especialmente no estudo de mecanismos alternativos de mercado”, no caso de Smith

2001- George A. Akerlof, A. Michael Spence e Joseph E. Stiglitz (todos dos EUA), “por suas análises de mercados com informações assimétricas”

2000 – James J. Heckman (EUA) e Daniel L. McFadden (EUA), “por seu desenvolvimento de teoria e métodos para analisar” amostras seletivas, no caso de Heckman, e escolha discreta, no caso de McFadden

1999 – Robert A. Mundell (Canadá), “por sua análise da política monetária e fiscal sob diferentes regimes de taxas de câmbio e sua análise das áreas monetárias ótimas”

1998 – Amartya Sen (Índia), “por suas contribuições para a economia do bem-estar”

1997 – Robert C. Merton e Myron S. Scholes (ambos dos EUA), “por um novo método para determinar o valor dos derivados”

1996 – James A. Mirrlees (Reino Unido) e William Vickrey (EUA), “por suas contribuições fundamentais para a teoria econômica de incentivos sob informação assimétrica”

1995 – Robert E. Lucas Jr. (EUA), “por ter desenvolvido e aplicado a hipótese de expectativas racionais, e com isso ter transformado a análise macroeconômica e aprofundado nosso entendimento da política econômica”

1994- John C. Harsanyi (EUA), John F. Nash Jr. (EUA) e Reinhard Selten (Alemanha), “por sua análise pioneira de equilíbrios na teoria dos jogos não cooperativos”

1993 – Robert W. Fogel e Douglass C. North (EUA), “por terem renovado a pesquisa em história econômica aplicando a teoria econômica e métodos quantitativos a fim de explicar a mudança econômica e institucional”

1992 – Gary S. Becker (EUA), “por ter estendido o domínio da análise microeconômica a uma ampla gama de comportamento e interação humana, incluindo comportamento fora do mercado”

1991 – Ronald H. Coase (Reino Unido), “por sua descoberta e esclarecimento da importância dos custos de transação e direitos de propriedade para a estrutura institucional e funcionamento da economia”

1990 – Harry M. Markowitz, Merton H. Miller e William F. Sharpe (EUA), “por seu trabalho pioneiro na teoria da economia financeira”

1989 – Trygve Haavelmo (Noruega), “por seu esclarecimento sobre os fundamentos da teoria da probabilidade da econometria e suas análises de estruturas econômicas simultâneas”

1988 – Maurice Allais (França), “por suas contribuições pioneiras à teoria dos mercados e utilização eficiente dos recursos”

1987 – Robert M. Solow (EUA), “por suas contribuições para a teoria do crescimento econômico”

1986 – James M. Buchanan Jr. (EUA) – “por seu desenvolvimento das bases contratuais e constitucionais para a teoria da tomada de decisão econômica e política”

1985 – Franco Modigliani (Itália e EUA), “por suas análises pioneiras da poupança e dos mercados financeiros”

1984 – Richard Stone (Reino Unido), “por ter feito contribuições fundamentais para o desenvolvimento de sistemas de contas nacionais e, portanto, melhorado muito a base para a análise econômica empírica”

1983 – Gerard Debreu (França e EUA), “por ter incorporado novos métodos analíticos à teoria econômica e por sua reformulação rigorosa da teoria do equilíbrio geral”

1982- George J. Stigler (EUA), “por seus estudos seminais de estruturas industriais, funcionamento dos mercados e causas e efeitos da regulação pública”

1981 – James Tobin (EUA), “por sua análise dos mercados financeiros e suas relações com as decisões de despesas, emprego, produção e preços”

1980 – Lawrence R. Klein (EUA), “para a criação de modelos econométricos e a aplicação à análise de flutuações econômicas e políticas econômicas”

1979 – Theodore W. Schultz (EUA) e Sir Arthur Lewis (Santa Lúcia/Reino Unido), “por sua pesquisa pioneira em pesquisa de desenvolvimento econômico, com particular consideração dos problemas dos países em desenvolvimento”

1978- Herbert A. Simon (EUA), “por sua pesquisa pioneira no processo de tomada de decisão em organizações econômicas”

1977 – Bertil Ohlin (Suécia) e James E. Meade (Reino Unido), “por sua contribuição inovadora à teoria do comércio internacional e dos movimentos internacionais de capital”

1976 – Milton Friedman (EUA), “por suas realizações nos campos da análise do consumo, história e teoria monetária e por sua demonstração da complexidade da política de estabilização”

1975 – Leonid Vitaliyevoch Kantorovich (Rússia) e Tjalling C. Koopmans (|Holanda e EUA), “por suas contribuições para a teoria da alocação ótima de recursos”

1974 – Gunnar Myrdal (Suécia) e Friedrich August von Hayek (Áustria e Reino Unido), “por seu trabalho pioneiro na teoria do dinheiro e das flutuações econômicas e por sua análise penetrante da interdependência dos fenômenos econômicos, sociais e institucionais”

1973 – Wassily Leontief (EUA), “pelo desenvolvimento do método de insumo-produto e por sua aplicação a problemas econômicos importantes”

1972 – John R. Hicks (Reino Unido) e Kenneth J. Arrow (EUA), “por suas contribuições pioneiras à teoria do equilíbrio econômico geral e à teoria do bem-estar”

1971 – Simon Kuznets (EUA), “por sua interpretação empiricamente fundada do crescimento econômico que levou a uma visão nova e aprofundada da estrutura econômica e social e do processo de desenvolvimento”

1970 – Paul A. Samuelson (EUA), “pelo trabalho científico através do qual desenvolveu uma teoria econômica estática e dinâmica e contribuiu ativamente para elevar o nível de análise na ciência econômica”

1969 – Ragnar Frisch (Noruega) e Jan Tinbergen (Holanda), “por terem desenvolvido e aplicado modelos dinâmicos para a análise dos processos econômicos”

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