SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A discussão sobre crescimento econômico no Brasil costuma ser mais focada em questões de curto prazo, como baixar a taxa de juros ou bater a meta fiscal, mas no longo prazo, o que realmente determina a renda são o capital humano e a cultura, ao menos na concepção de Joel Mokyr, professor da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, e um dos três vencedores do prêmio Nobel de Economia de 2025, anunciados nesta segunda-feira (13).
Mokyr estuda a Revolução Industrial. Para ele, o que gerou o “mar de inovações” desse período foi uma espécie de choque de oferta. Nos séculos anteriores à revolução, houve um acúmulo de cultura intelectual, uma espécie de “iluminismo industrial”, que fez com que a Europa saísse de um estado mais tradicional para um mais inovador.
O ponto é que cultura (nesse contexto, um conjunto de crenças e valores) e capital humano (educação, saúde, disposição para o trabalho etc.) são fundamentais para o crescimento econômico. É nesse sentido que a teoria de Mokyr se encaixa no Brasil, segundo Matheus Assef, que dá aulas de história na USP. “Temos educação baixa e, historicamente, tivemos relações pouco capitalistas”, diz o professor.
Para Assef, a Revolução Industrial é “o grande evento da história econômica”. “Tem muitas coisas interessantes na história, mas a revolução é a mais de todas”, diz Assef.
O Nobel de Economia deste ano foi dividido de uma forma pouco comum: além de Mokyr, há outros dois vencedores, que formam uma dupla de teóricos que estudam juntos há uma longa data. Eles são Phillippe Aghion (do Collège de France) e Peter Howitt (da Universidade Brown, nos EUA), que pesquisam o tema da inovação há anos.
Eles colocaram em equações a relação entre tecnologia e o crescimento da renda.
Aloísio de Araújo, da Fundação Getulio Vargas, afirma que Aghion e Howitt não usam os mesmos métodos do historiador Mokyr, mas há semelhança de tema, o que justifica a divisão do prêmio. “Eles (os membros da Real Academia Sueca de Ciências) tentam acomodar os trabalhos que acham que merecem o Nobel”, afirma Araújo.
Além de terem feito modelos que permitem estudar como a tecnologia impacta o crescimento da renda, os dois também descrevem a forma de se estimular a inovação.
“O estímulo à inovação tecnológica não é algo que vem espontaneamente, mas que requer um conjunto de condições”, afirma o professor de macroeconomia da USP Gilberto Tadeu Lima.
Ele dá um exemplo: patentes. “Se não for dada a garantia de recuperar com folga o investimento em um produto bem-sucedido, ninguém vai investir.”
Um caso brasileiro de estímulo que ele cita é a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), que cumpre parte do papel de financiar a inovação tecnológica das firmas da agricultura. “É recurso público que se coloca lá e que, depois, é distribuído aos usuários. Parte do sucesso do nosso agronegócio é resultado de uma política bem-sucedida de inovações por parte de um laboratório público.”
Em “The Economics of Growth” (em tradução livre, “A Economia do Crescimento”), de 2009, Aghion e Howitt dizem que nos anos 1990 eles criaram modelos matemáticos para as teorias do economista austríaco Joseph Schumpeter, que escreveu na primeira metade do século 20.
Grosso modo, o austríaco descreveu a destruição criativa, ou seja, a forma pela qual as inovações tornam os produtos antigos obsoletos e como uma alta rotatividade de empresas inovadoras acelera o crescimento.
CONCENTRAÇÃO DE MERCADO E PATENTES
O modelo analisa como o crescimento de um país varia de acordo com a proximidade dessa economia da fronteira tecnológica. Ao governo, cabe decidir de que forma se aproximar dessa fronteira e quais tipos de políticas são necessárias para sustentar essa convergência.
Uma dessas decisões, por exemplo, quanto os mercados devem ser concentrados. Segundo Tadeu Lima, o professor da USP, os dois economistas concluíram que empresas precisam de algum poder de determinação de preços para que tenham recursos para investir em inovação, mas se o segmento for concentrado demais, não há incentivos para inovar.
O professor da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) Alexis Toribio Dantas afirma que isso é observável no Brasil: o Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) divulga um ranking de maiores depositantes de patentes de invenção no ano passado, e os primeiros colocados foram a Stellantis Automóveis Brasil, com 185 depósitos, seguida pela Petrobras (155) e pela Universidade Federal de Campina Grande (86).