SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta terça-feira (21) que países aliados de Washington no Oriente Médio estão prontos para enviar tropas à Faixa de Gaza caso o grupo terrorista Hamas viole o plano de paz em vigor.
A declaração foi feita no momento em que seu vice, J. D. Vance, visita Israel para pressionar o governo Binyamin Netanyahu a manter de pé o cessar-fogo após dias de violações e bombardeios contra o território palestino.
“Muitos dos nossos grandes aliados no Oriente Médio, e áreas ao redor do Oriente Médio, me informaram de forma explícita e forte, com grande entusiasmo, que receberiam de bom grado a oportunidade, a meu pedido, de entrar em Gaza com uma força intensa para colocar o Hamas em ordem, caso o Hamas continue agindo mal, em violação ao acordo deles conosco”, escreveu Trump na plataforma Truth Social.
Vance se apressou para esclarecer, em recado à base trumpista, que os EUA não enviarão soldados à Faixa de Gaza, nem de maneira unilateral nem como parte da força de estabilização prevista no plano de paz de Trump. Ao mesmo tempo, o vice-presidente dos EUA contestou de forma indireta a acusação de Israel de que o Hamas mente sobre a dificuldade de encontrar corpos de reféns em Gaza e protela sua devolução.
“Essa recuperação é difícil. Ela não vai acontecer do dia pra noite”, disse Vance. “Alguns dos reféns estão soterrados sob toneladas de escombros. Em alguns casos, ninguém sabe onde [os cadáveres] estão. Isso não significa que não devemos trabalhar para encontrá-los, mas isso vai levar tempo.”
A mensagem de Trump contra o Hamas e as declarações de Vance em Israel reforçam o tom de pressão adotado pela Casa Branca desde que Tel Aviv passou a acusar o grupo terrorista de violar o acordo para cessar-fogo e atacar as tropas do país em Gaza.
Vance afirmou ainda que Washington não definiu uma data final para o desarmamento do Hamas, uma das questões mais delicadas das negociações e que ameaça derrubar o acordo. O grupo terrorista sinaliza que não aceitará entregar todas as suas armas e que pretende desempenhar algum papel de segurança na Faixa de Gaza após o fim definitivo da guerra.
Trump disse que tanto Israel quanto os países aliados foram avisados de que as forças estrangeiras só agirão caso o Hamas volte a atacar. “AINDA NÃO!”, escreveu ele, com as habituais letras maiúsculas. Segundo o presidente, há esperança de que o grupo faça o que é certo. “Se não fizerem, o fim do Hamas será rápido, furioso e brutal”, afirmou uma ameaça repetida por Vance em Israel, que falou em “obliteração”.
Apesar disso, Vance afirmou que o plano para cessar-fogo em Gaza está avançando melhor do que o esperado. “O governo israelense tem sido notavelmente útil na implementação [do pacto]”, disse ele.
Netanyahu, que deve se reunir com Vance na quarta (22), demitiu nesta terça o seu assessor de segurança nacional Tzachi Hangebi. O político histórico do Likud, partido do premiê, se opôs à invasão da Faixa de Gaza e ao ataque contra o Hamas no Qatar recentemente, desagradando o chefe.
O plano de cessar-fogo em 20 pontos de Donald Trump exigirá ainda etapas muito mais difíceis com as quais as partes ainda não se comprometeram totalmente, incluindo o desarmamento do Hamas e a criação de um novo governo em Gaza.
O chefe da inteligência do Egito e figura considerada mediador-chave em Gaza, Hassan Mahmoud Rashad, reuniu-se com Netanyahu mais cedo nesta terça para discutir o avanço do plano de cessar-fogo e outras questões, informou Israel. A diplomacia egípcia também se encontrou com representantes do Hamas.
Evidenciando a fragilidade da trégua, o Qatar, outro mediador, acusou Israel nesta terça de “violações contínuas”. Qatar e Turquia que tem usado seu papel de mediação para reforçar sua posição regional têm sido interlocutores-chave junto ao Hamas.
O plano de Trump prevê a criação de um comitê palestino tecnocrático supervisionado por um conselho internacional, sem que o Hamas tenha papel algum no governo. Críticos acusam a estratégia de uma forma de tutela inspirada em regimes coloniais do passado.
Um funcionário palestino próximo às negociações disse que o Hamas apoiou a formação de tal comitê para administrar Gaza sem representantes seus, mas com o consentimento do grupo, da Autoridade Palestina e de outras facções.
Na semana passada, o alto dirigente do Hamas Mohammed Nazzal disse à Reuters que o grupo esperava manter um papel de segurança em Gaza durante um período de transição indefinido.
Na mesma semana, a facção entrou em confronto com gangues rivais nas ruas de Gaza e assassinou publicamente homens acusados de colaborar com Israel. O comando militar dos EUA no Oriente Médio pediu ao Hamas que encerrasse a violência imediatamente.
Em entrevista à televisão egípcia na noite de segunda, o dirigente Hayya reafirmou o compromisso do Hamas com a trégua e disse que cumpriria suas obrigações na primeira fase, incluindo a devolução de mais corpos de reféns.
Dentro do território palestino, mais ajuda estava chegando nesta terça por meio de duas passagens controladas por Israel, segundo autoridades palestinas e da ONU. No entanto, com os moradores de Gaza enfrentando condições catastróficas, as agências humanitárias afirmam que é preciso muito mais.
O Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU afirmou que o fornecimento está aumentando, mas continua muito abaixo de sua meta diária de 2.000 toneladas, devido ao fato de apenas duas passagens estarem abertas. O órgão disse que nenhuma ajuda havia chegado ainda ao norte de Gaza, onde há relatos de fome generalizada.
A violência em Gaza desde a trégua tem se concentrado principalmente em torno da chamada “linha amarela”, que demarca a retirada militar israelense. Nesta terça, a rádio pública israelense Kan informou que tropas mataram uma pessoa que cruzou a demarcação e se aproximava dos militares.
Palestinos próximos à linha, que atravessa áreas devastadas perto das principais cidades, disseram que ela não está claramente demarcada, sendo difícil saber onde começa a zona de exclusão. Escavadeiras israelenses começaram a colocar blocos de concreto amarelos ao longo da rota na segunda.
O ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, informou nesta terça que pelo menos sete palestinos foram mortos por disparos israelenses nas últimas 24 horas, aumentando para 68.229 o número total de mortos desde o início da guerra.
Os ataques terroristas de 7 de outubro de 2023 mataram cerca de 1.200 pessoas, segundo registros israelenses, e outras 251 foram levadas como reféns para Gaza.