PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – A presidente e diretora do Museu do Louvre, Laurence des Cars, fez nesta quarta-feira (22) a descrição mais detalhada de como ocorreu o roubo de nove joias da coroa francesa, na Galeria de Apolo, no último domingo (19).
Ela admitiu que nenhuma câmera de segurança na rua captou imagens da ação e propôs como reformas mais imediatas, além de mais câmeras, a instalação de barreiras para impedir a aproximação de veículos e a abertura de uma delegacia dentro do museu.
“Há algumas câmeras no perímetro [do museu], mas que estão envelhecidas. São muito insuficientes, não cobrem o conjunto das fachadas do Louvre. E infelizmente, do lado da Galeria de Apolo, a única câmera está virada na direção oeste e não cobria o balcão onde ocorreu o arrombamento”, afirmou a diretora.
Suas declarações, as primeiras desde o crime, foram dadas em audiência ao Senado francês. Algumas informações já eram conhecidas, como o horário de chegada dos quatro criminosos à rua 9h30 de Paris (4h30 de Brasília) e o modus operandi. O museu reabriu nesta quarta, três dias após o episódio.
Eles estacionaram uma camionete com uma escada de elevação de carga, simulando uma operação de manutenção. Às 9h34, os detectores de alarme da janela arrombada dispararam, transmitindo a informação ao posto de segurança.
Às 9h35, um agente de segurança fez um chamado pelo rádio, relatando a invasão. O esvaziamento da galeria começou imediatamente. Em seguida, soaram os alarmes das duas vitrines que os ladrões tentavam quebrar. Usando uma esmerilhadeira, com dificuldade, abriram uma fresta grande o suficiente para enfiar as mãos.
Às 9h35m33s, a delegacia do primeiro distrito de Paris foi chamada. Às 9h36, foi apertado um botão conectado à chefatura de polícia, chamado Ramsés. Um minuto depois, os seguranças receberam uma mensagem para fechar as portas de entrada do público e do pessoal.
Os ladrões, segundo Des Cars, saíram da galeria às 9h38. Do lado de fora, agentes que não têm porte de arma não conseguiram impedir que fugissem em duas scooters, mas evitaram que ateassem fogo à camionete para destruir provas. Na fuga, eles deixaram cair a coroa da imperatriz Eugênia, única peça recuperada até agora.
Francis Steinbock, administrador-adjunto do museu, disse que a coroa foi “bastante danificada”, provavelmente ao ser retirada pelo pequeno buraco aberto na vitrine. “Uma restauração delicada é possível, mas é preciso ser prudente”, afirmou.
Segundo a diretora, as câmaras de vídeo funcionaram dentro do museu, mas do lado de fora havia apenas uma câmera, que não captou imagens da chegada e fuga dos assaltantes.
Des Cars admitiu que a instituição fracassou por não ter impedido o roubo. Porém, defendeu sua gestão, segundo ela “jogada aos porcos”. “O Louvre, como muitos museus, não está preservado da brutalidade da nossa sociedade de hoje.”
A diretora confirmou que no domingo chegou a colocar o cargo à disposição da ministra da Cultura, Rachida Dati, que se negou a demiti-la. O jornal satírico e investigativo Le Canard Enchaîné publicou reportagem acusando Des Cars de gastar 500 mil (cerca de R$ 3,1 milhões) com a reforma da sala de jantar da diretoria.
Ela lembrou que em relatórios recentes alertou “para o estado de degradação geral do Louvre”. Em janeiro o presidente Emmanuel Macron anunciou uma grande reforma do museu até 2031, a um custo estimado de mais de 500 milhões (cerca de R$ 3,1 bilhões).
“Esse projeto é absolutamente necessário para o Louvre voltar a funcionar como um grande museu do século 21, o que ele deixou de ser há anos”, afirmou Des Cars.
As declarações ocorreram um dia após a ministra Dati causar surpresa ao afirmar que o sistema de segurança do Louvre não havia falhado. Aparentemente ela se referia ao fato de que os alarmes dispararam duas vezes, quando os quatro criminosos quebraram a janela por onde entraram e as vitrines de onde tiraram os itens. Seguranças e policiais, porém, não chegaram a tempo de impedir a fuga.
A fala de Dati contradisse o discurso do ministro da Justiça, Gérald Darmanin, que um dia antes havia dito que o governo falhou. “O que é certo é que falhamos”, disse Darmanin à rádio France Inter.