Pátio da Linha 16-Violeta do metrô pode comprometer 'última milha' logística de São Paulo

Uma image de notas de 20 reais
Projeto analisa oito áreas e escolhe a da avenida Henry Ford; ACSP sugere Presidente Wilson
(Andre Lessa/Agência DC News)
  • Na área delimitada para construção do futuro pátio existem 21 indústrias, seis empresas de serviços e quatro empresas de logística
  • Investimento previsto é de R$ 37,5 bilhões, com prazo de concessão de 31 anos. O primeiro trecho deve entrar em operação em 2035
Por Victor Marques

[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
Nesta sexta-feira (7), termina o prazo dado pela Secretaria de Parcerias e Investimentos do governo paulista para receber contribuições públicas relacionadas ao projeto da Linha 16-Violeta do metrô. Com 19 km de extensão e 16 estações – oito delas com conexões –, ela vai unir a Zona Oeste à Zona Leste, cruzando regiões estratégicas da capital, como Pinheiros, Jardins e Mooca. Anunciada no ano passado, o projeto de Parceria Público-Privada (PPP) prevê que o leilão ocorra no primeiro semestre do ano que vem. A boa notícia da expansão da malha metroviária da cidade embute uma preocupação por parte de setores empresariais: a localização do pátio de trens. “A proposta do projeto do pátio desconsidera particularidades das empresas instaladas na região”, disse Anderson Festa, presidente da Associação Avenida Henry Ford, Mooca e Região e superintendente da Distrital Mooca da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). E isso envolve em especial a chamada última milha na cadeia logística.

Segundo o Relatório Técnico encomendado pelo governo estadual (de 27 de junho deste ano), entre oito alternativas para a escolha do pátio da Linha 16-Violeta, “a Henry Ford [junto ao Parque da Mooca] é a área mais adequada para a implantação do pátio de trens”. Não é o que pensam as lideranças empresariais, como Festa. “Defendemos que a evolução ocorra de forma planejada, sem comprometer a base produtiva”, afirmou. “Muitas das empresas ali têm décadas de operação e estruturas logísticas altamente especializadas.” Para ele, entre os principais fatores de preocupação destacam-se o impacto social e econômico por força da demissão de funcionários, as restrições que dificultam o remanejamento de algumas atividades industriais e o tempo necessário para transferir equipamentos de grande porte – que pode levar anos em alguns casos.

A preocupação com a escolha do pátio para a região da avenida Henry Ford é encampada pela ACSP – que é proprietária da Agência de Notícias DC News. A entidade propôs uma alternativa para o pátio: a Avenida Presidente Wilson, que abrigou a antiga fábrica da Antarctica e fica próxima à Henry Ford. Elaborado pelo Conselho de Política Urbana (CPU) da ACSP, o estudo contendo a nova opção foi entregue em audiência pública no dia 7 de outubro. Para Roberto Mateus Ordine, presidente da ACSP, “o desenvolvimento urbano precisa ocorrer em sintonia com a livre iniciativa”.

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CADEIA LOGÍSTICA – Segundo a ACSP, o local também é considerado estratégico para a distribuição de produtos da chamada última milha, garantindo o abastecimento do centro expandido e de regiões vizinhas. A remoção em massa de empresas poderia comprometer toda a eficiência logística da capital. Festa concorda e diz que a eventual desapropriação teria efeitos profundos sobre essa cadeia porque o bairro reúne empresas que abastecem clientes de todos os portes na capital e em outros estados.

A AGÊNCIA DC NEWS levantou, a partir de um cruzamento do documento oficial do Metrô e do Google Maps, 33 negócios presentes no espaço escolhido para a obra. Na área delimitada para construção, estão presentes atualmente 21 indústrias, seis empresas de serviços, quatro empresas de logística e dois restaurantes. Entre elas, há centros de distribuição, como o do Mercado Livre. A Secretaria de Parcerias em Investimentos afirmou que o projeto está em etapa de consulta pública e qualquer cidadão, empresa ou entidade pode enviar contribuições e sugestões sobre o projeto de concessão, via e-mail. “Serão analisadas pela equipe técnica e poderão ser incorporadas ao edital e ao projeto final da futura concessão.”

PROJETO – A futura linha 16-Violeta iniciou os trâmites administrativos no terceiro trimestre do ano passado, quando passou pela qualificação do projeto. Após essa primeira etapa, foram feitos os estudos iniciais de impacto das linhas e estações, que envolvem de questões ambientais a arqueológicas. Após a fase de consultas públicas, que termina daqui a dois dias, haverá ainda três etapas, no ano que vem: publicação do edital (primeiro trimestre), leilão (segundo trimestre) e assinatura de contrato (terceiro trimestre). O investimento planejado é de R$ 37,5 bilhões, com um prazo de concessão de 31 anos. O primeiro trecho deve entrar em operação, caso não atrase, em 2035. Haverá uma fase 2, para fazer a linha chegar ao extremo leste, até Cidade Tiradentes, mas para o qual ainda não há estudos.

Na fase 1, que deverá transportar 475 mil pessoas por dia (metade do que faz hoje a Linha 1-Azul, a de maior movimento da cidade), a Linha 16-Violeta saíra da futura estação Teodoro Sampaio (Pinheiros) até a também futura estação Abel Ferreira (Vila Formosa). Pelo caminho, passará por apenas duas estações já existentes: Oscar Freire (Linha 4-Amarela) e Ana Rosa (Linhas 1-Azul e 2-Verde). Haverá oito integrações, com metrôs e trens. Por dar acesso a parques, como Ibirapuera, da Aclimação, Parque da Independência/Museu do Ipiranga e Ceret, está sendo chamada de a Linha dos Parques.  

IMAGEM 1: Área do projeto do Metrô (vermelha) e opção sugerida (verde)
(Google Maps/ Reprodução)

IMAGEM 2: o cronograma prevê leilão no segundo trimestre do ano que vem

IMAGEM 3: 16 estações e oito conexões entre as Zonas Oeste e Leste

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