 
                            SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Dezenas de milhares de judeus ultraortodoxos foram às ruas de Jerusalém nesta quinta-feira (30) contra o serviço militar obrigatório de Israel, uma questão que tem colocado o governo do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu sob crescente pressão política.
Multidões, em maioria formadas por homens vestidos com trajes e chapéus pretos tradicionais ultraortodoxos, bloquearam as ruas na principal entrada de Jerusalém e paralisaram o trânsito. A mídia israelense estimou que cerca de 200 mil pessoas participaram da manifestação.
“Atualmente, as pessoas que se recusam a servir no exército são levadas para prisões militares”, disse Shmuel Orbach, um dos manifestantes, à agência de notícias Reuters. “Não é tão ruim. Mas somos um país judeu. Não se pode combater o judaísmo em um país judeu, não funciona.”
A fala de Orbach faz referência ao entendimento de que servir ao Exército vai contra os ensinamentos da Torá, o livro sagrado do judaísmo.
Organizados pelos dois partidos ultraortodoxos Judaísmo Unido da Torá (JUT) e Shas, manifestantes de todo o país exigiram o restabelecimento do acordo, anulado pela Suprema Corte, que isenta os estudantes de yeshivá escola religiosa ortodoxa do serviço militar.
Essa isenção foi enfraquecida pela guerra na Faixa de Gaza, que mobilizou centenas de milhares de israelenses, enquanto o exército sofre com a escassez de soldados e reservistas.
Desde a criação do Estado de Israel em 1948, os ultraortodoxos gozam de isenção do serviço militar enquanto se dedicarem em tempo integral ao estudo dos textos sagrados do judaísmo em yeshivás
A medida é fruto de um acordo feito entre sionistas seculares, fundadores do país, e os religiosos, que desejavam que Israel incluisse em sua Constituição elementos da lei religiosa judaica. Para garantir o apoio destes últimos, firmou-se o entendimento de que o serviço militar jamais seria exigido deles.
Em junho de 2024, no entanto, a Suprema Corte decidiu que uma lei regulamentando o alistamento dos ultraortodoxos deve ser aprovada.
O projeto de lei atualmente em comissão parlamentar exigiria que jovens ultraortodoxos que não estudam em tempo integral se alistassem nas Forças Armadas.
Para alguns rabinos ultraortodoxos, o serviço militar representa um perigo, pois poderia afastar os jovens da religião. Outros, no entanto, aceitam que aqueles que não estudam os textos sagrados em tempo integral podem se alistar.
Os partidos Shas e JUT deixaram o governo em julho deste ano, enquanto aguardam a aprovação de um projeto de lei prometido nos acordos de coalizão do final de 2022 que visa manter a isenção do serviço militar.
Se ambos deixarem a coalizão de maneira definitiva, Netanyahu poderá perder a maioria no Parlamento, abrindo caminho para eleições antecipadas, segundo analistas. Os partidos ainda podem voltar ao governo no caso de um acordo que os líderes ultraortodoxos considerem aceitáveis. Esse mesmo acordo, no entanto, pode insatisfazer outros eleitores não ortodoxos e ainda ser rejeitado pela Suprema Corte.
Os ultraortodoxos representam 14% da população judaica de Israel, ou cerca de 1,3 milhão de pessoas. Até os levantamentos mais recentes, cerca de 66 mil homens em idade militar eram isentos do serviço.
Nos últimos meses, milhares de ordens de convocação foram emitidas e vários homens que se recusaram a atendê-las foram presos, o que reacendeu os protestos.
