 
                            SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O príncipe Andrew perderá seu título real e deixará a mansão da Coroa britânica onde vive, afirmou o Palácio de Buckingham nesta quinta-feira (30). O rei Charles 3º, seu irmão, tomou a decisão após denúncias do suposto envolvimento de Andrew no caso do financista americano Jeffrey Epstein, acusado de exploração e tráfico sexual.
“Essas censuras são consideradas necessárias, apesar de ele continuar negando as acusações contra ele”, afirma a nota divulgada pelo palácio. Ele será chamado, a partir de então, de Andrew Mountbatten Windsor, sem qualquer título ou honraria da monarquia britânica. Apesar disso, o agora ex-príncipe de 65 anos continua sendo o oitavo na linha de sucessão ao trono do Reino Unido.
Ao sair do Royal Lodge, residência de 30 cômodos mantida pela realeza, Andrew deverá se mudar para uma propriedade privada, que, segundo a mídia local, será financiada com recursos próprios do rei, e não da Coroa. Esse processo acontecerá “o mais cedo possível”, de acordo com a emissora britânica BBC. As filhas de Andrew, as princesas Eugenie e Beatrice, manterão seus títulos.
Há duas semanas, Andrew já havia renunciado ao seu título de duque de York. “Em discussão com o rei e minha família imediata e ampla, concluímos que as contínuas acusações contra mim desviam a atenção do trabalho de Sua Majestade e da Família Real”, afirmou ele na ocasião, em referência ao suposto envolvimento com Epstein.
A relação de ambos foi denunciada por Virginia Giuffre, que acusou o então príncipe de tê-la abusado sexualmente e contratado serviços da rede de exploração sexual do americano.
No comunicado desta quinta, o Palácio de Buckingham ainda destaca que “seus pensamentos e sinceras condolências estiveram e continuarão estando com as vítimas e sobreviventes de todas as formas de abuso”.
Giuffre se suicidou em abril deste ano, aos 41 anos. Ela entrou com um processo judicial contra Andrew em um tribunal de Nova York em 2021. A mulher o acusou de ter cometido abuso sexual em três ocasiões, quando ela tinha 17 anos. Os episódios teriam ocorrido com a ajuda de Epstein, com quem o então príncipe manteve relação próxima por anos.
Epstein se suicidou em uma prisão nos Estados Unidos em 2019 quando aguardava julgamento por acusações de tráfico sexual. Sua companheira de longa data, Ghislaine Maxwell, foi posteriormente condenada pela Justiça dos EUA em cinco acusações, por recrutar jovens e ajudar o investidor a abusar delas. Os abusos contra Giuffre teriam ocorrido em propriedades de Epstein e de Maxwell.
Andrew chegou a pagar milhões a Giuffre em 2022 para encerrar a ação judicial que ela moveu contra ele. O príncipe afirma que nunca a conheceu e nega as acusações. Apesar disso, uma foto que circulou amplamente na imprensa mostra os dois juntos ao lado de Maxwell.
Na última semana, o lançamento de um livro póstumo de Giuffre adicionou detalhes às acusações contra o britânico. Em “Nobody’s Girl” (a garota de ninguém, em tradução livre), ela relata as três ocasiões em que teria tido relações sexuais com Andrew e conta que conheceu o príncipe em março de 2001, quando ela estava em Londres, na casa de Maxwell.
Antes mesmo da publicação, um grupo de parlamentares britânicos pediu que os títulos de Andrew fossem oficialmente retirados. A parlamentar independente Rachael Maskell, da região central de York, na Inglaterra, e o porta-voz do Partido Nacional Escocês em Westminster, Stephen Flynn, cobraram publicamente uma decisão do governo.
Maskell declarou ao programa Today, da BBC Rádio 4, que é “incrivelmente estranho que se possa outorgar um título, mas não se possa retirá-lo”. Flynn afirmou que não haveria justificativa para que o governo não o fizesse, embora o poder de remover títulos caiba formalmente ao monarca.
“A família de Virginia Giuffre, cuja vida foi destruída, está indignada e consternada”, declarou o parlamentar. “O povo destas ilhas [o Reino Unido] está indignado e consternado; e ambos merecem saber que alguns parlamentares compartilham sua indignação.”
Na prática, segundo analistas locais, o governo não pressionou o rei a agir, embora, a partir de agora, deva corroborar a medida de Charles, que tem o papel simbólico de chefe de Estado.
