Brasileiros no e-commerce somam 87 milhões – quase duas Argentinas. Setor cresceu 9,5% e faturou R$ 186 bilhões no ano passado

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  • Durante 2023, o tíquete médio das compras chegou a R$470, resultando num volume de mais de R$395 milhões em pedidos
  • “Fica evidente que o e-commerce não é apenas uma tendência, mas uma realidade incontestável para os comerciantes modernos”, disse Claudio Dias, CEO da Magis5
Por Bruna Galati

Em 2023, o mercado brasileiro de e-commerce registrou faturamento de R$ 186 bilhões, crescendo 9,5% em relação ao ano anterior, segundo dados da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm). Durante esse período, o tíquete médio das compras chegou a R$ 470, resultando num volume de mais de R$ 395 milhões em pedidos, realizados por uma base de consumidores que ultrapassou 87 milhões de pessoas — isso é equivalente a quase duas vezes a população da Argentina (45,9 milhões).

A adesão às compras online se intensificou após a pandemia, durante a qual o consumidor se viu obrigado a comprar os mais diversos produtos e serviços pela internet. Até mesmo aqueles que antes olhavam com desconfiança para as compras online tiveram de aderir a essa modalidade de consumo. O acesso ao ambiente digital se tornou uma necessidade, remodelando as percepções e os padrões de consumo. “Até mesmo pessoas mais velhas, que antes viam as transações online com desconfiança, passaram a confiar nesse tipo de negócio e a colocar seus cartões de crédito em sites de compras”, afirmou Claudio Dias, CEO da Magis5, hub que integra e-commerces a grandes marketplaces, como Amazon, Mercado Livre e Shopee.

Com o aumento dos clientes no ambiente digital, as empresas, por sua vez, agiram para transcender as limitações de tempo e espaço impostas pelo comércio físico. Enquanto uma loja física está restrita a uma localização específica, a presença online permite que um negócio atenda a clientes em todo o país e no exterior. Além disso, o comércio eletrônico opera 24 horas por dia, sete dias por semana, oferecendo conveniência e acessibilidade aos consumidores.

Especialistas observam que a internet democratizou o acesso ao mercado, oferecendo oportunidades sem precedentes para que os empreendedores alcancem um público cada vez maior. “Diante de todo esse cenário, fica evidente que o e-commerce não é apenas uma tendência, mas uma realidade incontestável para os comerciantes modernos”, disse Dias. Apesar dos números expressivos das compras on-line, ainda existe uma parcela considerável de pequenas empresas que não adaptaram seus modelos de negócios ao ambiente digital. Pesquisa conduzida pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV), divulgada no final de 2022, revelou que, das 19,5 milhões de micro e pequenas empresas nacionais, cerca de 5,3 milhões estão fora do mercado digital. São empreendedores que ainda não aproveitam as oportunidades oferecidas pelas redes sociais, websites ou aplicativos para impulsionar suas vendas e expandir seu alcance.

PRESENÇA — Essa realidade, muitas vezes, é atribuída às complexidades inerentes ao e-commerce. Estabelecer uma presença digital exige, por exemplo, lidar com um vasto ecossistema online, que inclui desde a gestão da oferta de produtos até a implementação de novos métodos de pagamento. Além disso, há a necessidade de gerenciar os protocolos de entrega e logística de frete, garantindo uma experiência satisfatória ao consumidor. Mas, mesmo com as dificuldades, o executivo da Magis5 considera fundamental que a empresa ingresse num e-commerce. “Se a sua marca não está no marketplace, está perdendo muitas oportunidades. É como continuar andando de carroça, enquanto o mundo está de carro”, disse Dias. “Você até pode chegar a algum lugar de carroça, mas estará atrasado. E haverá um momento em que isso se tornará inviável. Hoje, não dá para uma empresa estar fora do mundo digital.”

Segundo ele, para driblar os desafios das vendas no digital, as pequenas empresas podem entrar em marketplaces e, só depois, investirem no próprio site e páginas nas redes sociais. “Mais de 70% das vendas online acontecem nos marketplaces”, afirmou. Isso se deve à facilidade de acesso que essas plataformas proporcionam tanto para comerciantes quanto para consumidores.

Ao optar por vender num marketplace, os comerciantes eliminam a necessidade de montar a própria loja virtual e lidar com questões técnicas complexas. “Você não precisa ser um especialista do ambiente digital. Num marketplace, a empresa já pode começar a vender no dia seguinte. Além disso, ao aderir a um marketplace, o comerciante se beneficia do branding e do reconhecimento daquela plataforma, o que pode impulsionar suas vendas de forma significativa”, disse Dias. Segundo a Magis5, há cinco marketplaces que dominam o setor: Amazon, Magalu Mercado Livre, Shein e Shopee. Juntas, essas plataformas representam mais de 98% das vendas on-line no Brasil.

E-commerce brasileiro passa por normalização de resultados pós-pandemia
Crédito: Karolina Kaboompics/Pexels

TECNOLOGIAS Uma das vantagens de ingressar no marketplace é a acessibilidade inicial. “Você não precisa colocar dinheiro no início. Basta se cadastrar num dos marketplaces e começar a vender. No entanto, para expandir, é preciso investir”, afirmou Dias. Segundo o especialista, para chegar a bons resultados no e-commerce, a marca tem de considerar a adoção das tecnologias certas para aprimorar a experiência do consumidor e maximizar a eficiência operacional. De acordo com Dias, o primeiro passo varia de acordo com o estágio em que o empreendedor se encontra. Para quem está começando a vender em marketplaces, a atenção inicial deve estar voltada à integração e automação dos processos. Para isso, há várias empresas com soluções disponíveis no mercado, como a própria Magis5.

Além disso, uma das recomendações é investir na criação de anúncios atrativos, com vídeos e fotos, especialmente considerando que a maioria das compras acontecem por meio de dispositivos móveis. A entrega no prazo e a qualidade do produto também são aspectos cruciais para conquistar a confiança do consumidor e garantir sua fidelidade. “Não adianta você vender um produto a ótimo preço e não entregar no prazo. Você não vai conseguir vender no marketplace. Essas plataformas têm regras de entrega e irão punir a sua empresa”, disse Dias. Portanto, investir em tecnologias que garantam gestão do estoque e eficiência na operação é essencial para o sucesso a longo prazo no e-commerce. Ele afirmou ainda que, ao considerar uma estratégia online com uma loja própria, os custos aumentam. Desde a contratação de agências para desenvolver e promover o site ou página nas redes sociais, até o investimento em tecnologia e publicidade. Também é importante entender o funcionamento dos algoritmos de busca do Google, para alcançar visibilidade online e se diferenciar da concorrência.

CHINA — Quando o assunto é e-commerce, a China surge como o exemplo a ser seguido. O gigante asiático se consolidou como o país que mais movimenta as vendas no ambiente digital. De acordo com dados do GlobalData, estima-se que o mercado chinês atinja a marca de US$3,4 trilhões de vendas no e-commerce até 2027. Diante desse cenário, é crucial que empreendedores estejam atentos às tendências desse mercado para impulsionar o crescimento de seus negócios. Uma das tendências apontadas por Dias é a ascensão das live commerce, estratégia originada na China e que tem conquistado espaço no Brasil e no mundo. Ela se baseia na realização de vendas por meio de transmissões ao vivo em redes sociais, proporcionando uma experiência de compra mais interativa e imersiva. 

Segundo dados da We Are Social, cerca de 181 milhões de pessoas estão conectadas à internet no Brasil, o que representa quase 90% da população, tornando esse formato de comércio ao vivo uma excelente oportunidade para alcançar um público amplo e diverso. Claudio Dias afirmou, ainda, que o sucesso das live commerce está conectado a um novo formato de consumo, no qual o cliente pode entender como tudo funciona, tirar dúvidas no chat, ganhar descontos exclusivos e, em muitos casos, efetuar a compra usando apenas o próprio celular. “Tudo isso facilita a vida do consumidor e, consequentemente, beneficia o vendedor”. Em época de comércio digital, quem não se adapta acaba sendo ultrapassado. Como o exemplo da carroça e do carro.

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