Alegria, falta de motivação e ceticismo devem ser os drives de compras de roupas nos próximos anos no Brasil, diz Abvtex

Uma image de notas de 20 reais
Entidade coloca reajuste do ICMS como principal pauta
(Eduardo Knapp / Folhapress)
  • Mais emocional, o consumidor brasileiro tende a ser guiado por sensações para efetuar as compras, e marcas precisam estar atentas a isso
  • Edmundo Lima, presidente da associação, espera alta de 5% no faturamento este ano, e segue atento à concorrência estrangeira
Por Bruno Cirillo

[AGÊNCIA DC NEWS]. Os sentimentos de alegria estratégica, “desvontade” e otimismo cético devem ser os principais drives na decisão de compra dos consumidores nos próximos anos, destaca a Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex), que reúne 110 marcas de moda no país, com faturamento anual de R$ 77 bilhões. A tendência consta no estudo Consumidor do Futuro 2027: Emoções, da consultoria internacional WGSN, divulgado esta semana. “O consumidor está muito mais sentimental, buscando melhoria na qualidade de vida”, afirmou o presidente da entidade, Edmundo Lima. “Tanto que isso tem norteado o varejo no desenvolvimento de produtos e serviços orientados ao bem-estar.”

O representante espera um crescimento de 5% para o varejo de roupas este ano, em linha com a inflação, e tem acompanhado de perto a situação global.Fundada em 1999, a associação representa um quarto desse faturamento, reunindo empresas como Renner, Hering e C&A. Segundo ele, a Abvtex acaba de obter duas conquistas importantes para o setor. A primeira delas é a taxação de produtos internacionais que custam até US$ 50 em plataformas de e-commerce. Os itens eram isentos até que a entidade conseguiu, por meio de reuniões com o poder público, taxá-los a partir de julho de 2024.

O outro desafio era a isonomia na cobrança do ICMS para mercadorias estrangeiras de qualquer valor, e obtiveram êxito em dezembro. Desde abril, roupas vindas, por exemplo, da China, pagam 20% do imposto, sendo que pagavam 17%, enquanto a média para itens brasileiros é 25%. “Uma das grandes preocupações nossas é essa”, disse Lima em entrevista à AGÊNCIA DC NEWS. “Na medida em que se privilegia o produto importado, na realidade você está exportando empregos aqui do Brasil para a Ásia.” Para ele, a taxação é uma forma de garantir a preservação do emprego e renda afim que “roda do consumo possa se retroalimentar”. Confira, a seguir, a entrevista completa.

Escolhas do Editor
Edmundo Limda, da ABVTEX: “O governo tem se demonstrado bastante sensível, porém é um tema impopular”
(Divulgação)

AGÊNCIA DC NEWS – Qual é a principal reclamação do setor no atual momento?
EDMUNDO LIMA – Olha, são algumas reclamações em função do ambiente econômico e de negócios. Mas eu diria que um dos grandes problemas, hoje, é a falta de igualdade de condições com as plataformas internacionais, tanto do varejo como da indústria.

AGÊNCIA DC NEWS – Por quê?
EDMUNDO LIMA – Esse desequilíbrio tributário, onde o governo concedeu um benefício às plataformas internacionais de redução de carga tributária, tem trazido uma concorrência desleal. Então, é uma das grandes questões que a gente vem discutindo com o governo já faz pelo menos dois anos e meio.

AGÊNCIA DC NEWS – E como a associação tem lidado com esse problema?
EDMUNDO LIMA – Essa questão é complexa. Então, nós temos unido forças com outras organizações, entidades de classe e, juntos, conversado com o governo, tanto no nível executivo quanto legislativo – o judiciário, não –, mas de certa forma concentramos esforços no legislativo. A gente tem dialogado com o Congresso Nacional para que consiga trazer essa igualdade de condições.

AGÊNCIA DC NEWS – Como definiria o status atual dessas condições?
EDMUNDO LIMA – Já foi muito mais dramático. Porque há dois anos essas plataformas comercializavam produtos sem qualquer pagamento de tributo, tributo zero. Nós conseguimos, em 2023, fazer com que os estados começassem a cobrar o ICMS de 17% – inferior ao que paga o varejo no Brasil, mas já foi um avanço. E, em agosto do ano passado, conseguimos fazer com que o Congresso aprovasse uma legislação que foi sancionada pelo presidente estabelecendo um imposto de importação de 20%.

AGÊNCIA DC NEWS – Ainda é inferior ao ICMS médio dos produtos nacionais de 25%.
EDMUNDO LIMA – Sim, para trazer essa igualdade, dado que o setor de moda, hoje, quando importa um produto, ele paga 35% só de imposto de importação, mais 12,5% de PIS/COFINS. As plataformas estão pagando somente 20% de imposto de importação. Esse desequilíbrio gera uma concorrência desleal e a gente tem atuado no governo para buscar a isonomia tributária. 

AGÊNCIA DC NEWS – Como está a interface com o poder público? 
EDMUNDO LIMA – O canal de comunicação está aberto. O governo tem se demonstrado bastante sensível aos dados que a gente apresenta, porém é um tema impopular. O governo também tem uma dificuldade de avançar e trazer essa igualdade porque a população, de alguma maneira, se manifesta negativamente em relação a isso. Mas também muito porque a população também desconhece esse desequilíbrio tributário.

AGÊNCIA DC NEWS – Então parte da solução para essa questão está na educação do consumidor?
EDMUNDO LIMA – Tem sim um papel nosso de educação do consumidor em relação a esse tema, mas especialmente o governo tem recebido as nossas demandas e na medida do possível tem atuado. A gente tem uma preocupação agora neste momento para que não haja nenhum retrocesso em tudo que já foi conquistado para essa igualdade de condições. 

AGÊNCIA DC NEWS – Como está o desempenho dos associados? 
EDMUNDO LIMA – O resultado das empresas melhorou. Depois dessa implementação do imposto de importação de 20%, em agosto do ano passado, a gente percebe uma melhoria no desempenho de vendas, especialmente no início deste ano. Houve uma redução significativa da entrada de produtos pelas plataformas internacionais, com redução também do custo. E esse consumo foi orientado para o mercado nacional.

AGÊNCIA DC NEWS – E quais foram os efeitos disso?
EDMUNDO LIMA – As empresas se recuperaram e foi possível também manter o nível de emprego dentro do setor, tanto na indústria como no varejo. Uma das grandes preocupações nossas é essa, pois na medida em que você privilegia o produto importado, na realidade você está exportando empregos aqui do Brasil para a Ásia. Então, como manter as pessoas trabalhando aqui no país se de alguma maneira os produtos estão vindo do do Oriente? Essa é uma das grandes preocupações nossas, na preservação do emprego e renda, para que a roda do consumo possa se retroalimentar. 

AGÊNCIA DC NEWS – Esse ano está melhor do que o ano passado? 
EDMUNDO LIMA – Sim. As vendas no varejo devem crescer ao redor de 5%.

AGÊNCIA DC NEWS – E qual é a expectativa para 2026? 
EDMUNDO LIMA – Num cenário extremamente turbulento e incerto como a gente está vivendo, é algo bem difícil. Mas o varejo sempre tem uma uma expectativa positiva, as grandes varejistas associadas da ABVTEX estão investindo muito forte em tecnologia, em informação, em inteligência artificial, mudando os seus processos, aperfeiçoando a experiência de compra do consumidor, reduzindo a fricção com o consumidor e, com isso, tem conquistado o mercado e evoluído na questão comercial.

AGÊNCIA DC NEWS – Então apesar do cenário incerto, as expectativas são positivas?
EDMUNDO LIMA – Nossa expectativa para o ano que vem, que é um ano eleitoral, é que provavelmente deve ter turbulências de câmbio, será um ano bem desafiador, mas mesmo assim a gente continua com uma visão positiva.

AGÊNCIA DC NEWS – Por que os três estados emocionais (alegria, falta de vontade e ceticismo) citados na pesquisa que você destacou devem ser os principais drivers de compra? 
EDMUNDO LIMA – É um tema importante e sensível: cada vez mais a gente percebe o consumidor muito mais sentimental, buscando melhoria na qualidade de vida – tanto que isso tem norteado o desenvolvimento de produtos e serviços orientados ao bem-estar no varejo. 

AGÊNCIA DC NEWS – É o emocional do consumidor que o leva à decisão de compra? 
EDMUNDO LIMA – Sem dúvida. As pessoas são movidas pelo seu emocional, seja por uma autoestima ou baixa estima, tudo isso interfere no poder de compra do consumidor no momento de tomada de decisão por comprar ou não alguma coisa. Desde uma crise financeira, de uma situação assim que invariavelmente traz efeitos emocionais para o consumidor, até um estado de alegria, conquistas que ele teve ao longo da sua jornada profissional, tudo isso de alguma maneira influencia o consumidor a fazer a aquisição de produtos ou não. Certamente o estado emocional do consumidor influencia sim no momento de decisão de compra. 

AGÊNCIA DC NEWS – Como o varejo têxtil tem que estar atento para se adaptar a isso?
EDMUNDO LIMA – Tem de alguma maneira desenvolvido desde o layout da loja até outros serviços para que torne essa jornada de compra do consumidor o mais fácil e atraente possível, tentando resolver seus problemas, suas expectativas e de alguma maneira melhorar essa relação com o consumidor.

AGÊNCIA DC NEWS – E no e-commerce?
EDMUNDO LIMA – Mesmo no ambiente digital, cada vez mais as marcas têm investido em tecnologia para facilitar o processo de compra com menos cliques, para comercializar um produto que invariavelmente você tem que ou vestir e provar. Para ver tamanhos e modelagem, as marcas também têm desenvolvido iniciativas e projetos que melhoram essa experiência do consumidor ao saber o tamanho exato do produto que vai servir a ele. E, até no sentido de experienciar o caimento no manequim virtual, algo assim, para que ele possa estar mais confortável no momento de compra e tomar a decisão pela compra. 

AGÊNCIA DC NEWS – É a publicidade e o layout das lojas, por exemplo, que inspiram o desejo de compra? 
EDMUNDO LIMA – É um conjunto. Onde você tem, vamos dizer assim, um ecossistema que desde a publicidade, da ambientação da loja, da proposta de valor que você entrega ao consumidor, da forma como você se comunica com ele – e cada vez mais as marcas estão se comunicando de maneiras distintas com os consumidores, através de WhatsApp, das redes sociais, de lives. São todos elementos de interação com o consumidor e que trazem muitos inputs para as lojas para que elas aperfeiçoem essa jornada de compra. 

AGÊNCIA DC NEWS – Nesse sentido, o que mudou nos últimos dez anos? 
EDMUNDO LIMA – Obviamente, a tecnologia, as redes sociais, tudo isso vem alterando o perfil do consumidor e facilitando a interação com ele. A própria evolução da internet, redes sociais, a inteligência artificial, vêm propiciando aos varejistas terem uma avaliação mais aprofundada dos interesses e dos gostos do consumidor, tanto do que ele gosta como do que ele não gosta. O fato dele, dentro de um ambiente digital, por exemplo, ficar algum tempo olhando para determinada foto, isso indica que de alguma maneira ele se ateve àquela foto. Todos esses elementos são usados pelos varejistas, hoje, para de alguma maneira tentar entender e atender às expectativas do consumidor.

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