SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ex-presidente dos Estados Unidos Joe Biden veio a público pela primeira vez para se defender das acusações de Donald Trump de que ele não estava apto a governar o país e que seus assessores conspiraram para tomar decisões em seu lugar. Em junho, Trump ordenou a abertura de uma investigação com base nessas acusações.
Em entrevista publicada neste domingo (13) pelo jornal The New York Times, Biden disse que tomou todas as decisões a respeito de perdões e indultos presidenciais que foram registradas no fim de seu mandato por meio de uma caneta automática, um aparelho que reproduz assinaturas utilizado com frequência por presidentes americanos.
Essas decisões se tornaram o centro das acusações de Trump e aliados de que Biden estava em tal estado de senilidade que não tinha mais discernimento para entender o que acontecia ao seu redor –e que, para esconder essa suposta realidade do país, assessores próximos passaram a emitir documentos assinados com a caneta automática sem conhecimento do então presidente.
Pouco antes de deixar o poder, Biden emitiu milhares de perdões ou indultos. As ações se dividiram em três categorias amplas: o então presidente diminuiu as penas de pessoas condenadas por crimes não-violentos relacionados a drogas, perdoou pessoas que estavam em prisão domiciliar por causa da pandemia e que teriam que voltar ao regime fechado, e transformou a pena de morte de 37 das 40 pessoas que aguardavam execução em prisões federais em pena de prisão perpétua.
Além disso, Biden perdoou de maneira preventiva pessoas que poderiam sofrer perseguição judicial do governo Trump, como o general aposentado Mark Milley e o médico que liderou os esforços do governo contra a pandemia, Anthony Fauci. O democrata emitiu também perdões para membros da sua família, incluindo seu filho, Hunter Biden, condenado por fraude fiscal e posse ilegal de arma.
Trump afirma que esses perdões são ilegais, pois teriam sido assinados com a caneta automática sem conhecimento do ex-presidente. No dia 4 de junho, ele ordenou que o Departamento de Justiça, que controla o FBI, a polícia federal americana, abrisse um inquérito para apurar se os assessores do democrata esconderam seu “declínio cognitivo”.
Na entrevista ao New York Times deste domingo, que o jornal não publicou na íntegra, Biden diz que deu ordens verbais a seus assessores a respeito dos perdões e indultos, e que essas ordens foram então registradas em e-mails internos para que a caneta automática fosse utilizada.
O democrata disse que fez isso porque “havia muitos perdões” a assinar, mas que tomou “cada uma daquelas decisões”. Ele defendeu a legalidade do uso da máquina de assinaturas e disse que perdoou membros de sua família porque “todo mundo sabe como [Trump] é vingativo”. Afirmou ainda que o atual presidente o persegue como forma de desviar a atenção de falhas de seu governo.
“Eles [Trump e os republicanos] são mentirosos, e todos sabem disso. Ele sabem disso. Quero dizer, isso é… veja, o que eles, eles tem um ótimo negócio aqui. Eles têm ido tão mal. Eles mentiram tão frequentemente sobre quase tudo que estão fazendo. O melhor que podem fazer agora é mudar o foco e focar em outra coisa. E isso é… Eu acho que é disso que se trata”, afirmou Biden ao jornal americano.
B iden, que derrotou Trump nas eleições de 2020, foi forçado por membros de seu partido a abandonar a corrida eleitoral de 2024 depois de um debate desastroso contra o republicano revelar as dificuldades que o então presidente, que tem 82 anos, tinha ao articular frases e formar raciocínios.
Em maio, um livro lançado pelos jornalistas Jake Tapper e Alex Thompson mostrou como aliados de Biden e doadores importantes do Partido Democrata, como o ator Geroge Clooney, ficaram cada vez mais preocupados nos bastidores da campanha ao perceber o estado mental do então presidente.
Ao abrir a investigação, Trump sugeriu que assessores de Biden na Casa Branca podem ter forjado sua assinatura para assinar documentos oficiais, “usurpando a autoridade presidencial”.
“Essa conspiração é um dos escândalos mais preocupantes e perigosos da história dos EUA”, escreveu Trump na ocasião. “O povo americano foi impedido de descobrir quem realmente exercia o poder Executivo enquanto a assinatura de Biden era utilizada em milhares de documentos para realizar mudanças radicais de política pública.”