[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
Empresas que operam na região da Mooca, na Zona Leste da capital paulista, lutam para convencer o governo estadual a mudar o local do pátio de manobras e do canteiro de obras da futura estação São Carlos da Linha 16-Violeta do Metrô. Em vez da avenida Henry Ford, propõem a avenida Presidente Wilson. Para evitar, como afirmam, impactos na atividade industrial (de 40 a 60 empresas) e nos empregos (quase 16 mil). A Associação Avenida Henry Ford, Mooca & Região pediu à Casa Civil e à Secretaria de Parcerias em Investimentos (SPI) abertura de processo administrativo que considere as alternativas apresentadas pela entidade. E para evitar “um erro político, econômico e social”, como define o presidente da associação, Anderson Festa, que é também superintendente da Distrital Mooca da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
O pedido de processo administrativo por parte das empresas ocorre porque o governo estadual considera que o tempo para a apresentação de propostas se encerrou. Havia um prazo para consultas públicas sobre a Linha 16-Violeta até dia 7 de novembro, prorrogado para 24 de novembro. Augusto Almudin, diretor da Companhia Paulista de Parcerias (CPP), diz que a prorrogação reforçou “o compromisso do governo de São Paulo em garantir um diálogo aberto e transparente com todos os interessados”. O objetivo final, segundo ele, é “construir soluções que atendam de forma equilibrada o interesse público”.
Não é assim que entende a Associação Henry Ford, que diz ter sido insuficiente o prazo – a entidade pedia mais 90 dias, em vez dos 17 concedidos. Um período que considera mais apropriado para uma obra com investimento previsto de R$ 37,5 bilhões, com 19 quilômetros de extensão e 16 estações na primeira etapa, ligando zonas Leste e Oeste, incluindo oito integrações entre metrô e trem. A previsão é de transportar 475 mil passageiros por dia até 2040.
Segundo Festa, a discussão não é sobre mobilidade (“Somos a favor do metrô”), mas técnica. Ele avalia que o estudo da SPI não teve a profundidade necessária. No documento encaminhado à Casa Civil – que inclui parecer “urbanístico e mercadológico” elaborado pela empresa Urbis – a entidade afirma ainda que o projeto atual “vai na contramão dos esforços para se reverter a desindustrialização” ocorrida no Brasil e especificamente no estado de São Paulo nos últimos 30 anos. Assim, a desapropriação de dezenas de empresas agravaria esse processo. Segundo a associação, a Mooca “é um dos últimos territórios industriais em plena operação na capital”. A desarticulação dessa área, segundo os empresários, poderia gerar efeitos em cadeia sobre pequenas e médias empresas que dependem da região para escoamento, fornecimento e distribuição de produtos.
AGÊNCIA DC NEWS – A prorrogação do prazo para a Consulta Pública foi suficiente?
ANDERSON FESTA – Na nossa visão, seria necessário mais tempo para análise da documentação. Nós fizemos um pedido à SPI para prorrogação, mas não obtivemos retorno. Essa prorrogação do dia 7 ao 24 foi dada pela SPI, acreditamos que não motivada pela nossa solicitação. Nosso pedido era para 90 dias.
AGÊNCIA DC NEWS – Faltou debate?
ANDERSON FESTA – São muitos arquivos, arquivos extensos, que foram publicados na véspera da audiência [pública], durante e depois. Uma documentação bastante complexa e extensa. Nós [Associação Henry Ford] apresentamos as alegações à SPI, jurídicas, econômicas e sociais. Apresentamos também um pré-estudo técnico referente às alternativas, mostrando a viabilidade de cada uma.
AGÊNCIA DC NEWS – Quais são os próximos passos?
ANDERSON FESTA – Pedimos a abertura de um processo administrativo. Nós protocolamos na Casa Civil e na SPI. A gente tem expectativa de que haja um diálogo, uma gestão participativa. Nós nos consideramos parte da solução. Acreditamos que até janeiro tenhamos retorno da Casa Civil.
AGÊNCIA DC NEWS – De qual universo estamos falando?
ANDERSON FESTA – O polo industrial é vital para a cidade. A gente está falando de um impacto social de ordem estratosférica. São 15,9 mil empregos impactados, de 40 a 60 empresas. A gente espera que haja sensibilidade.
AGÊNCIA DC NEWS – Qual é o tamanho do polo?
ANDERSON FESTA – O polo é composto de 228 empresas, com praticamente R$ 9 bilhões de faturamento anual. É o maior polo industrial da cidade de São Paulo.
AGÊNCIA DC NEWS – As empresas atingidas pelo projeto oficial representam quanto desse faturamento?
ANDERSON FESTA – Ainda não fizemos essa conta, mas calculo que de 30% a 40%.
AGÊNCIA DC NEWS – Qual o problema do projeto oficial?
ANDERSON FESTA – O estudo apresentado pela SPI não é conclusivo. Ele fala de área mínima de desapropriação, que pode mudar. Não temos segurança nenhuma. Os 100 mil metros quadrados [anunciados] para nós já trazem uma situação caótica, mas pode ser ainda pior.
AGÊNCIA DC NEWS – Não se trata apenas da área escolhida, mas também da extensão dela?
ANDERSON FESTA –E isso tem criado muita tensão por parte dos trabalhadores com esse projeto. E a nossa entidade entende que o governo tem discursado pela geração de empregos, pela manutenção de empresas, por reindustrializar a cidade. E não o contrário.
AGÊNCIA DC NEWS – As alternativas que a associação apresentou são mais viáveis?
ANDERSON FESTA – As áreas que sugerimos são áreas que praticamente não estão habitadas, praticamente não têm empresas. Um dos terrenos é do Dnit [Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes], que é federal, e está degradado. Você resolveria três problemas: abrigaria o pátio, daria uma moradia digna para as pessoas que invadiram a área e não teria impacto com a desapropriação. A segunda alternativa é a Companhia Antarctica. [A sugestão de usar a antiga fábrica de bebidas, cuja área pertence a uma empresa de logística, havia sido apresentada em estudo do Conselho de Política Urbana da ACSP].
AGÊNCIA DC NEWS – Não houve análise adequada?
ANDERSON FESTA – A gente acredita que não houve.
AGÊNCIA DC NEWS – Por quê?
ANDERSON FESTA – Por exemplo. Essas áreas que a gente está sugerindo não receberam avaliação de engenharia, de impacto.
AGÊNCIA DC NEWS – E as áreas da proposta oficial receberam?
ANDERSON FESTA – No estudo que foi apresentado, as estimativas oficiais não contemplam integralmente itens de indenização, não há estudo aprofundado nem dos impactos econômicos. Uma série de itens não estão previstos. Tem ausência de elementos que comprometem sua robustez. Esse projeto não reflete o custo real.
AGÊNCIA DC NEWS – O problema não se limita à questão da mobilidade, então?
ANDERSON FESTA – O nosso foco não é discutir mobilidade, mas consistência técnica.
AGÊNCIA DC NEWS – A obra, em si, é necessária?
ANDERSON FESTA – Somos a favor do metrô. Agora, a questão técnica deixa muito a desejar. Estamos apresentando alternativas, não apenas refutando [o estudo do governo]. A gente acredita que o governo seja sensível. Acreditamos que até outras audiências públicas possam ser necessárias para discussão do tema. É um tema de muita complexidade e profundidade para um estudo muito superficial.
AGÊNCIA DC NEWS – Vocês estão otimistas?
ANDERSON FESTA – Após a solicitação de abertura de processo administrativo e apresentação das alegações junto à SPI, aguardamos que as alternativas apresentadas ao governo do estado sejam realmente discutidas e apreciadas. Temos expectativa de que haja a realocação do espaço.