SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A anistia aos perpetradores dos atos golpistas do 8 de janeiro de 2023, quando as sedes dos três Poderes foram vandalizadas por bolsonaristas que se opunham à posse de Lula (PT), é rejeitada por 55% dos brasileiros. Outros 35%, por sua vez, aprovam a ideia.
É o que mostra a quarta rodada sobre o tema feita por pesquisadores do Datafolha, na terça (29) e na quarta-feira (30). Ela ouviu 2.004 pessoas e tem margem de erro de dois pontos para mais ou menos, indicando estabilidade de cenário ante o registrado em abril passado.
Ali, 56% eram contra e 37% a favor da anistia, numa mudança ante o patamar registrado nas duas aferições de 2024. Em março do ano passado, os números eram 63% e 31%, respectivamente, e em dezembro, 62% e 33%.
A queda entre os contrários à anistia, ainda que eles ainda sejam majoritários, acompanhou a intensa campanha do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele protagonizou atos de rua cada vez menores pedindo anistia aos seus apoiadores no 8 de Janeiro e patrocinou uma tentativa de emplacar o tema no Congresso, de olho na própria pele.
Bolsonaro está usando tornozeleira eletrônica e vive sob restrições depois que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, identificou o risco de ele deixar o Brasil antes de ser julgado pela trama golpista de 2022 -processo que engloba fatos anteriores ao 8 de Janeiro, mas no qual o evento aparece como desaguadouro.
Se for condenado, como o mundo político e a comunidade jurídica acreditam, o ex-presidente pode pegar de 12 a 43 anos de cadeia, restando saber se irá para a prisão domiciliar devido à idade de 70 anos e seus problemas de saúde.
Na rodada passada, havia também o impacto do caso da cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos. Ela foi presa por participar dos atos golpistas e concentrações anteriores, mas ganhou notoriedade por ter pintado com batom a expressão “perdeu, mané” na estátua da Justiça em frente ao Supremo.
A frase foi empregada pelo hoje presidente do STF Luís Roberto Barroso contra manifestantes que o criticaram em Nova York após a derrota de Bolsonaro para Lula (PT) em 2022. Ao todo, a corte condenou ao menos 480 réus em mais de 1.500 ações penais, com 155 presos.
Agora, a disputa de Bolsonaro foi elevada a crise internacional, com o apoio dado a ele pelo aliado americano Donald Trump. A má repercussão do episódio praticamente enterrou de vez as chances de a anistia prosperar no Congresso.
O presidente dos Estados Unidos puniu o Brasil com tarifas de importações mais altas do que as impostas ao resto do mundo, chegando a 50% apesar de exceções importantes a alguns setores, alegando que o país persegue o ex-mandatário.
Além disso, Trump aplicou medidas contra Moraes, que foram da perda do visto americano à inclusão numa lista de sanções econômicas destinadas a violadores de direitos humanos, terroristas e corruptos, algo que ainda deve ser judicializado.
Inelegível até 2030 por sua campanha contra o sistema eleitoral em 2022, Bolsonaro ainda conta com a vitória de algum aliado na eleição presidencial do ano que vem. Pré-candidatos como o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) já disseram que iriam anistiá-lo se eleitos, mas essa hipótese iria bater de frente com a jurisprudência do Supremo para casos de tentativa de golpe.