SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Quem tem mantenha, e quem não tem compre.” A declaração da CEO do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, sobre as ações da estatal (BBAS3) vem após uma forte queda no lucro, com o aumento na inadimplência de seus clientes. Essa visão, no entanto, difere da maioria dos bancos de investimento, que se mantêm neutros quanto ao papel. Ou seja, não recomendam nem compra, nem venda.
A presidente do BB diz que o banco tem gerado bons dividendos a seus acionistas, somando um dividend yield (DY) de 50% desde 2023 dividend yield é o ganho de um investimento em ação apenas com os dividendos distribuídos.
No período, o CDI acumula ganho de 33%, e o Ibovespa, de 26,7%. Considerando a alta de 19% da ação do banco no período, a rentabilidade total é ainda maior.
“A soma do que nós já pagamos de dividendos nessa gestão nos últimos dois anos e meio é maior do que a soma dos últimos cinco anos anteriores”, disse Tarciana, na sexta-feira (15), ao comentar o resultado do banco no segundo trimestre.
O BB é, historicamente, um dos maiores pagadores de proventos aos acionistas, ao lado de Petrobras, demais bancos e empresas de energia elétrica.
Com a necessidade de seu maior acionista, a União, reduzir a dívida pública, a distribuição de lucro das estatais se torna imperativa. No último ano, o BB havia aumentado essa distribuição para 45% do lucro. Porém, com a queda no resultado, o banco reduziu esse montante para 30%, o que equivale a um DY de 6%.
“Essa redução do DY, em alguma medida, já era esperada. Faz sentido, dado o nível de deterioração nos resultados, com o capital mais pressionado. É um DY bem abaixo dos dois dígitos que o banco entregava, então para quem investe buscando dividendos a atratividade caiu bastante”, afirma Bernardo Guttmann, analista da XP Investimentos a corretora é neutra quando à ação do BB.
No primeiro semestre deste ano, o BB teve um lucro líquido ajustado de R$ 11,2 bilhões, 40,7% menor que o registrado no mesmo período do ano passado e abaixo do esperado pelo mercado.
Em junho, o RSPL (Retorno sobre o Patrimônio Líquido), que mede a rentabilidade do banco, despencou para 8,4%, ante 21,6% registrados há um ano e 16,7% dos três primeiros meses de 2025.
A administração espera um lucro entre R$ 21 e 25 bilhões este ano, uma queda de pelo menos R$ 13 bilhões em relação ao ano passado.
Para Guttmann, a mensagem na apresentação do BB para investidores foi de uma recuperação lenta e gradual, o tom foi de cautela. “Ainda pode piorar antes de melhorar”, diz.
Para o BTG, a nova estimativa do BB é otimista. O banco é neutro quanto à ação, porém, estima que em 12 meses o BB possa ir a R$ 24, alta de 16% em relação à cotação da última sexta, de R$ 20,65.
O Citi também vê otimismo na previsão da diretoria da estatal. “De fato, parece mais viável na extremidade inferior da faixa de orientação [R$ 21 bilhões], o que, em termos de avaliação, representaria o banco ainda sendo negociado a cerca de 5,5 vezes P/L de 2025”, diz relatório do banco.
P/L (preço em relação ao lucro) é uma das maneiras de se avaliar uma ação. Ele reflete a razão do preço do papel sobre o lucro por ação da empresa. Quanto maior o resultado desta conta, chamado de múltiplo, mais caro o papel.
No caso do BB, o lucro de R$ 21 bilhões seria um P/L de 5,5 considerando o atual patamar da ação. Ou seja, considerando a distribuição do lucro para cada ação, o investimento se pagaria em 5,5 anos, abaixo da média do mercado. O Bradesco tem um P/L de 8. O Santander, de 8,5, o Itaú de 9,5 e o Nubank, de 25,6.
“Apesar do P/L parecer barato nesse preço, se os resultados continuarem piorando, isso ainda será caro”, diz Frederico Figueiredo, da Miura Investimentos.
Já a Genial lnvestimentos recomenda manter o papel, com preço-alvo de R$ 22,80, previsão de valorização de 14,9%.
“Embora os múltiplos atuais sejam atrativos, mantemos postura cautelosa diante da visibilidade limitada para melhora no curto prazo. O case de recuperação depende da reversão do ciclo de crédito no agronegócio, o que pode destravar valor a partir de 2026. Um eventual cenário de alternância presidencial também pode atuar como catalisador no mesmo período”, dizem os analistas da Genial.
O BB enfrenta o pior índice de atrasos dos clientes do agronegócio da sua história, com 3,49% da carteira. O resultado é impulsionado por pedidos de recuperação judicial de grandes produtores de soja, milho e bovinos, prejudicados pela seca de 2023 e pelas enchentes no Sul em 2024, além da queda nos preços dos grãos e da alta na Selic.
“Essas RJs no agro têm impacto em cadeia. Não é só o produtor que quebra. Fornecedores, transportadores e outros elos também sentem”, diz Guttmann, da XP.
Por ser líder no financiamento do agronegócio, distribuindo 50% do crédito, o BB é o banco mais impactado neste ciclo negativo.
O importante, segundo analistas, é acompanhar a qualidade do crédito do setor para investir no BB. Se a inadimplência do sistema financeiro subir, é um indício de que a recuperação da estatal pode ser mais lenta. Se estabilizar, pode ser um bom sinal.
“O desafio é que o banco precisa calibrar a rentabilidade com qualidade de crédito. Isso, nesse momento, não é trivial”, afirma Guttmann.