[AGÊNCIA DC NEWS]. A combinação de aumento de área, oferta e produtividade da batata fez os preços da hortaliça despencarem em julho. A queda nas cotações, em 11 das maiores Centrais de Abastecimento (Ceasa) no Brasil, chegou a 31,6% no período, pelo segundo mês consecutivo de baixa, de acordo com a estimativa da Companhia Nacional do Abastecimento (Conab). Mas a base de comparação era alta. Em 2024, a batata teve o melhor ano da série histórica, com preços três vezes maiores do que os atuais. “Hoje, nós estamos com excesso de oferta e os preços estão bastante depreciados”, disse o presidente do conselho da Associação Brasileira de Batata In Natura (Abbin), Marcos Boschini. “É uma vantagem para o consumidor e varejistas, que podem consumir e vender batata a preços módicos”, disse Em contrapartida, porém, “há prejuízo na lavoura”.
O quilo da batata está cotado a R$ 1,80. A produção prevista para este ano é de 4,1 milhões de toneladas, 10,8% maior do que os 3,7 milhões de toneladas do ano passado. Quanto à área plantada, aumentou 9,7%, de 124,8 mil hectares para 137 mil hectares. O principal motivo para o aumento da oferta foi o incremento na produtividade, que cresceu de 28 quilos para 30 quilos por hectare, ou 10,7%, segundo dados da associação. “O clima correu bem e nós estamos tendo um incremento na produtividade”, disse Boschini. Ele destaca investimentos em fertilizantes, defensivos agrícolas e maquinário como vetores do aumento nesse indicador. “A colheita mecanizada também aumentou e vem sendo bastante difundida de uns cinco anos para cá.”
A Abbin é responsável por difundir o consumo da batata no Brasil e posicioná-la no mercado interno. O tubérculo ainda enfrenta, segundo a entidade, certa resistência da parte dos consumidores, apesar de ser um produto comum na maioria dos lares brasileiros. “Nossa principal demanda são as críticas que a batata recebe”, disse o conselheiro. Entre as críticas, estariam que a batata engorda e “que não é um alimento adequado”. Ele destaca que batata frita é um prato gorduroso, por exemplo, mas o vegetal em si tem ótimas propriedades nutricionais, como o potássio. “É um trabalho que fazemos junto a nutricionistas e endocrinologistas para desmistificar essas questões.” Outro ponto de atenção, segundo o executivo, reside na falta de investimento em infraestrutura e logística para que os caminhos dentro do Brasil acompanhem o incremento na produção.
Segundo levantamento do Itaú BBA e endossado por Boschini, há um déficit de R$ 102 bilhões em investimentos (públicos e privados) para que as vias do Brasil acompanhem o desempenho dos campos. “Pode parecer um número gigantesco, mas ele revela uma das maiores barreiras do agronegócio brasileiro”, disse. De acordo com ele, os desafios de logística e armazenagem tem forçado produtores a venderem sua safra mais cedo, a preços menores.
MÁXIMAS EM 2024 – Conforme o Centro de Pesquisas em Economia Aplicada (Cepea), em São Paulo, na comparação entre julho de 2024 e o mesmo mês deste ano, os preços da batata despencaram de R$ 140,6 a R$ 155,5 a saca de 25 quilos para R$ 42,1 a R$ 47,3, ou seja, algo próximo de 70%. “O ano de 2024 foi histórico para os preços de batata, talvez o melhor ano das últimas três décadas”, afirmou Boschini. O executivo explica que a batata “sempre tem anos bons”, causando o aumento da área nos anos seguintes e o recuo dos preços. Ele usa como exemplo os anos de 2015 e 2016 como bons e, logo em seguida, 2017 e 2018 como anos ruins, que levaram à primeira recuperação judicial de um bataticultor brasileiro no final de 2018, segundo a associação.
Em relação ao alcance da cultura no país, o representante destaca sua estabilidade, diferente de outras culturas, como a soja, o milho e a cana-de-açúcar, que se expandem vastamente a cada nova safra. “Nos últimos dez anos, a área de batata não tem variado muito”, disse. “Ela se manteve em torno de 110 a 130 mil hectares por ano.” Boschini também destaca que a Chapada Diamantina, na Bahia, é a região com maior potencial para o desenvolvimento da produção de batatas. O estado como um todo está empatado com São Paulo em segundo e terceiro lugares em volume de produção, cada um com 13,1% da oferta nacional. O ranking é liderado por Minas Gerais (47,9%). “A Chapada Diamantina vem apresentando altas produtividades pela sua condição edafoclimática (solo e clima), pelo crescimento das lavouras e a disponibilidade hídrica”, afirmou. Ou seja, as barragens estão cheias e eles estão expandindo a área nos últimos anos. “Talvez seja, hoje, não só o melhor lugar do país, mas do mundo, para a produção de batatas.” Em Minas, ainda de acordo com o representante, as regiões que se destacam na produção do tubérculo são o Sul e Triângulo Mineiro.