Argentina autoriza extradição de suspeito de tráfico que financiou aliado de Milei

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BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Após três anos de silêncio, a Justiça da Argentina autorizou nesta terça-feira (7) a extradição de Federico “Fred” Machado, suspeito de envolvimento com tráfico de drogas, para os Estados Unidos, na esteira do escândalo que derrubou o principal candidato de Javier Milei nas eleições legislativas para a província de Buenos Aires.

Machado é acusado nos EUA de crimes relacionados a tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e fraude, além de ter contribuído com fundos não declarados para a campanha presidencial do deputado José Luis Espert em 2019, aliado de Milei e que encabeçava a lista de deputados para o pleito de 26 de outubro. Espert desistiu da disputa no último domingo (5).

A Suprema Corte tomou sua decisão de forma unânime, com a confirmação de que as condições para a extradição estão atendidas. Horas depois, a Presidência informou em uma nota que vai acatar a decisão da Justiça.

Diferentemente do que ocorre no Brasil, a lei permite que autoridades extraditem cidadãos argentinos, exceto quando não houver um tratado a respeito e a pessoa optar por ser julgada no país.

A situação era curiosa, pois o advogado que representou Machado durante o processo de extradição, Francisco Oneto, também é o defensor pessoal de Milei.

Na sua primeira entrevista após a renúncia de Espert, nesta terça-feira, Machado pediu que a questão eleitoral não influenciasse na decisão sobre a extradição.

Ele também disse que conhecia o deputado e que deu a ele um valor maior que os US$ 200 mil (cerca de R$ 1 milhão) que aparecem em um extrato do Bank of America divulgado na semana passada.

“Seu erro foi negar [que me conhecia]”, disse quando questionado sobre as tentativas do ex-candidato de se desvincular dele. “Há fotos, há testemunhas. Se ele tivesse dito ‘sim, eu o conheci; ele me ajudou e depois se meteu em problemas’, ninguém o teria crucificado. Mas ele preferiu negar.”

Após dar diferentes versões, Espert chegou a reconhecer que havia recebido os dólares de Machado para prestar serviços de consultoria em uma mineradora da Guatemala. “Ele não mente quando diz que houve um contrato, eu fiz isso em 2019, são mais de US$ 200 mil. Eu o contratei para ajudá-lo.”

Também disse que conheceu Espert em 2019, durante sua candidatura presidencial. Machado afirmou que não tinha interesse em política, mas ficou impressionado com as ideias liberais dele.

Machado está preso desde 16 de abril de 2021, após ser detido em Neuquén por uma solicitação internacional. É mantido em prisão domiciliar em Viedma, na província de Río Negro. Com a nova decisão da Corte, sua situação pode mudar, podendo ser ordenada sua detenção em uma prisão regular.

O juiz Gustavo Villanueva decidiu pela extradição em 12 de abril de 2022, mas a defesa de Machado recorreu. Em 4 de abril de 2023, o procurador-geral da Argentina se manifestou a favor da extradição, e o caso seguiu para a Suprema Corte.

Na semana passada, a Corte instruiu Villanueva a solicitar esclarecimentos à Justiça dos Estados Unidos, que retornou afirmando que o pedido de extradição permanece válido. Com essa resposta dos EUA, o juiz de Neuquén enviou novamente o caso à Corte, que assim deu luz verde para a extradição.

Milei tinha dez dias para responder. Como o governo não levantou objeções, Machado deve deixar o país dentro de 30 dias após a comunicação oficial. O juiz Villanueva novamente participará do processo, conforme necessário.

Simultaneamente, o partido de Milei, A Liberdade Avança, tenta retirar das cédulas eleitorais o rosto de Espert e pede que ele seja substituído pelo deputado Diego Santilli.

A Justiça convocou as 15 coalizões políticas que concorrerão nas eleições para opinarem sobre o tema nesta quarta-feira (8) e pediu que seja apresentado um plano para o pagamento dos custos de reimpressão, estimados em US$ 10 milhões (cerca de R$ 55 milhões). A tendência é que os adversários de Milei exijam que o partido governista pague pelos gastos extras.

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