ARTIGO, por Cleide Silva: "A pergunta no setor automotivo é qual marca será a primeira vítima das chinesas"

Uma image de notas de 20 reais
Planta industrial da chinesa GWM em Iracemápolis (SP)
(Rubens Cavallari/Folhapress)
  • As chinesas, que nos anos 2000 tiveram passagem desastrosa no país, agora vêm com produtos de qualidade, alta tecnologia e preço competitivo
  • Vendas de veículos nacionais nos dez primeiros meses têm alta de 1,3% ante 2024. Já as de importados, puxadas pelas chinesas, crescem 9,3%
Por Cleide Silva

As marcas chinesas recém-chegadas ao Brasil se juntam a 12 grupos formados principalmente por montadoras europeias, japonesas e americanas e vários importadores. Todas disputam um mercado previsto para este ano em 2,6 milhões de automóveis e comerciais leves. O número é 5,6% maior ante o ano passado, mas segue muito aquém do potencial que já teve, de 3,8 milhões de unidades vendidas em 2013. Da leva de gigantes que surgiram na China há poucos anos, nem todas devem sobreviver. Mas, nas conversas de bastidores entre executivos e jornalistas do setor, o assunto do momento é qual marca será a primeira vítima das chinesas. Qual será a primeira a transferir todo o seu capital para uma chinesa? Ou seguir o caminho da Ford, que hoje é só importadora?

A Anfavea (associação das fabricantes) não fez ainda sua previsão para 2026, mas, pelo andar da economia, não deve ser muito diferente. No mercado, já se fala em 2,4 milhões de unidades, levando-se em conta que o juro deve continuar alto. Além disso, será ano de eleições e de Copa do Mundo, ações que normalmente desestimulam o consumidor.

A briga entre novatas e veteranas deve se acirrar ainda mais pelas fatias de um bolo menor. Se a disputa for por preços, como ocorreu recentemente, é bom para o consumidor, mas ruim para as empresas, que ficam sem capital.

Escolhas do Editor

Os dados da Anfavea dão um sinal do que vem pela frente. De janeiro a outubro, as vendas de veículos nacionais cresceram 1,3% ante 2024, com 1,66 milhão de unidades. Já as de importados, puxadas pelas marcas da China, aumentaram 9,3%, para 402 mil automóveis e comerciais leves.

As chinesas, que nos anos 2000 tiveram passagem desastrosa pelo país, agora vêm com produtos de qualidade, alta tecnologia e preços competitivos, encurralando as tradicionais donas do jogo.

Exemplo da “nova invasão” está no tradicional Salão do Automóvel, que voltou a ocorrer em São Paulo depois de sete anos de suspensão. Das 26 marcas expostas, dez eram chinesas.  

Num primeiro momento, o que pode sustentar o grupo das marcas tradicionais é o fato de as entrantes terem como foco os elétricos e híbridos. Estudos indicam que modelos a combustão vão sobreviver ainda por muito tempo. As novatas chinesas também devem entrar nesse segmento, inclusive com modelos flex, hoje trunfo de quem está aqui há mais tempo. Um tabuleiro em que haverá muitos lances estratégicos por parte de todos os players. Mas a pergunta incomoda se mantém: qual marca será a primeira vítima das chinesas?

CLEIDE SILVA
Jornalista formada pela Universidade Metodista em 1985, atuou por 27 anos em O Estado de S.Paulo, como repórter de Economia, cobrindo principalmente o setor automotivo. Tem também passagens pelos jornais Diário do Grande ABC (repórter por sete anos cobrindo o setor automotivo e a área sindical) e Diário do Povo (editora de Economia por quatro anos).

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