São Paulo, 12 de agosto de 2025 – O governo de Donald Trump está considerando mudanças naforma como o governo federal coleta e divulga dados de emprego, segundo autoridades da Casa Branca,após a decisão do presidente de demitir, no início deste mês, a comissária do Bureau of LaborStatistics (BLS, órgão responsável pelas estatísticas de trabalho) na esteira de números fracosde geração de vagas. As informações são da agência de notícias Dow Jones.
Em reuniões a portas fechadas nos últimos dias, assessores da Casa Branca e autoridades doDepartamento do Trabalho discutiram novas opções para coleta de dados, assim como tecnologiascapazes de tornar o processo mais eficiente. Um dos objetivos, segundo assessores, é melhorar astaxas de resposta às pesquisas do BLS.
Trump tem reclamado, publicamente e em privado, que os dados dos relatórios de emprego sãoelaborados para prejudicá-lo politicamente, criticando as grandes revisões nas estatísticas quedificultam sua narrativa de que a economia está em forte crescimento em seu segundo mandato. Opresidente disse a assessores que não quer revisões tão grandes no futuro.
A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou hoje que Trump está examinando os meios emétodos por trás dos dados de emprego.
Qualquer mudança nos relatórios, divulgados na primeira sexta-feira de cada mês, poderá gerarsuspeitas de que Trump tenta manipular os números para benefício político. O presidente, que hámuito questiona dados que não se alinham à sua visão, também tem buscado exercer mais controlesobre agências historicamente independentes e afastar servidores de carreira que consideradesleais.
Trump demitiu a comissária Erika McEntarfer poucas horas depois de o BLS divulgar uma forterevisão para baixo no número de empregos criados em maio e junho. Em julho, a economia gerou 73mil vagas, segundo o BLS, abaixo das expectativas. Nesta semana, Trump anunciou que indicará E.J.Antoni, apoiador do presidente e crítico do BLS, para substituir McEntarfer.
Em entrevista à Fox News nesta semana, Antoni disse que o BLS deveria suspender a divulgação dosrelatórios mensais de emprego até que o processo fosse corrigido. Segundo ele, o BLS deveria pararde divulgar os relatórios mensais, mas continuar publicando os dados trimestrais, que são maisprecisos, embora menos oportunos. Ele argumentou que decisores importantes, de Wall Street aWashington, dependem desses números, e a falta de confiança nos dados tem consequências de longoalcance.
Um funcionário da Casa Branca disse que Antoni concedeu a entrevista antes de saber que seriaescolhido para o cargo e que seus comentários não representam a política oficial do BLS. Antoni,economista da Heritage Foundation e comentarista de rádio conservador, não respondeu a pedidos decomentário.
A porta-voz Taylor Rogers afirmou que Antoni vai priorizar o aumento das taxas de resposta àspesquisas e a modernização dos métodos de coleta de dados para melhorar a precisão do BLS.
Ex-comissários do BLS afirmaram que a demissão de McEntarfer cria um problema de confiança para aagência e aumentará o ceticismo sobre quaisquer mudanças feitas. William Beach, que comandou oBLS no primeiro mandato de Trump, disse: A demissão de Erika tornou o trabalho ainda mais difícil.É preciso restaurar a confiança no produto da agência. Quer se concorde ou não com o presidente,agora a questão da confiança está colocada sobre a mesa.
Segundo Beach, foi uma falha da Casa Branca não ter informado Trump de que o comissário nãocontrola os números. Ele disse que a manipulação dos dados por razões políticas prejudicaria acredibilidade junto a Wall Street e ao mundo, e rapidamente se tornaria um problema público.
Funcionários do BLS afirmaram que o processo de coleta de dados permanece amplamente inalterado:mensalmente, são entrevistados cerca de 60 mil domicílios e 120 mil empresas, incluindo muitas dasmaiores do país. Os números passam por análises de especialistas antes da elaboração dosrelatórios, que chegam ao comissário na terça ou quarta-feira para revisão preliminar e nuncasão alterados por ele, segundo ex-dirigentes.
Tanto Beach quanto Erica Groshen, comissária do BLS entre 2013 e 2017, disseram que as pesquisasenfrentam uma queda acentuada nas taxas de resposta hoje abaixo de 70% e que aumentar afrequência e a abrangência das coletas poderia reduzir as grandes revisões.
Groshen acrescentou que qualquer mudança deveria ser feita de forma apartidária: Há muitasmaneiras pelas quais o BLS quer e eventualmente vai mudar as coisas. Eles não conseguiram atéagora porque não tiveram financiamento.
Darlan de Azevedo – darlan.azevedo@cma.com.br (Safras News)
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