Varejo prevê fim de ano mais cauteloso após queda nas contratações temporárias até agosto

Uma image de notas de 20 reais
Oferta de vagas este ano deve se concentrar no setor de logística e entrega
(Eduardo Knapp/Folhapress)
  • Saldo de contratações temporárias até agosto cai 21%, segundo o Caged; indústria lidera redução no número de vagas temporárias
  • Comércio paulista deve abrir 25 mil vagas no fim do ano, 14% a menos que em 2024, um sinal de desaceleração esperada no fim do ano
Por Victor Marques

[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
Com o desemprego em 5,6% – o menor patamar desde o início da série histórica do IBGE, em 2012 – e o número de trabalhadores autônomos subindo 28% entre 2019 e 2025 ao alcançar 32 milhões de pessoas, o mercado de trabalho brasileiro, até aqui aquecido, dá sinais de perda de fôlego. Até agosto, o saldo de contratações temporárias e intermitentes caiu 21% em relação ao mesmo período de 2024, segundo dados do Conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Foram 914 mil admissões e 855,5 mil desligamentos, o que resultou em 58,5 mil novos postos, contra 74,7 mil no ano anterior. O movimento, segundo analistas, reflete uma combinação de fatores: o baixo desemprego estrutural, que mantém o nível de rotatividade elevado e encarece a reposição de mão de obra; a migração crescente para o trabalho autônomo, que reduz a disponibilidade de profissionais no regime formal; e o aumento do custo operacional das empresas, pressionado pela inflação e pela perda de ritmo da economia. O resultado é um mercado que continua contratando, mas com margens cada vez menores para ampliar o saldo líquido de empregos.

Em entrevista à AGÊNCIA DC NEWS, Paula Montagner, subsecretaria de Estatísticas e Estudos do Trabalho, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), disse que a reversão do saldo para números negativos se atribui majoritariamente aos números da indústria. “A indústria registrou menos contratações esse ano do que nos anos anteriores”, afirmou. O saldo da indústria no ano passado foi de 5,7 mil trabalhadores, contra 5,2 mil neste ano, queda de 8,7%.  Já o comércio, segundo ela, ainda apresenta resultados melhores que no ano passado. Os dados do painel do Caged apontam saldo negativo de 3,7 mil trabalhadores no ano passado, contra 2,3 mil negativos neste ano – uma redução no déficit de 37,8%. Paula explica que os resultados podem ser atribuídos ao crescimento do comércio neste ano. “Isso reflete a resiliência do varejo em 2025, além de estar associado ao aumento de atividades no último trimestre”, disse. E o maior apelo comercial do Dia das Crianças, Black Friday e Natal e Ano Novo, inclusive, são fatores que devem ajudar na contratação geral de temporários este ano. No ano passado, entre setembro e dezembro, o saldo de temporários no comércio foi de 5,9 mil, com 16 mil admissões e 10 mil desligamentos.

Para este ano, o cenário deve ser mais comedido. A expectativa de aberturas de postos para o varejo para o fim do ano é de 25 mil novos postos, segundo o Sindilojas-SP, redução de 14% sobre um ano antes, quando o segmento abriu 29 mil postos de trabalho temporário entre outubro e novembro. Segundo o sindicato, a diferença reflete uma desaceleração no ritmo de vendas observada na transição do primeiro para o segundo semestre. A capital paulista deve concentrar 7 mil dessas vagas, cerca de 28% do total. Em dezembro de 2024, o faturamento bruto do varejo paulista foi 19% maior que a média dos outros meses do ano. 

Escolhas do Editor

A expectativa é de que 40% das contratações temporárias fiquem concentradas em vestuário, calçados, artigos de viagem e acessórios. Já o setor supermercadista deve responder por cerca de 25% das novas vagas. Os demais segmentos completam a distribuição. As funções destaque devem ser de vendedores e atendentes, que juntos devem representar metade das contratações. Para o presidente do Sindilojas-SP, Aldo Nuñez Macri, o cenário mostra um fim de ano positivo, mas mais cauteloso. “A geração de empregos será relevante, mas em patamar um pouco menor que o de anos anteriores.” De acordo com ele, isso de deve a conjuntura econômica mais desafiadora para o consumo das famílias. “Ainda assim, o comércio terá papel importante na abertura de oportunidades de trabalho”, afirmou. A entidade avalia que a taxa de efetivação dos temporários no início de 2026 deve se manter em torno de 10%, número estável em relação a anos anteriores. Entre as varejistas que já anunciaram vagas de curta duração estão a Americanas (5 mil vagas); Centauro (1 mil), Ri Happy (1,3 mil)

E-COMMERCE – E a tendência maior de vendas no último trimestre não está impulsionando somente as contratações temporárias no comércio. Paula, do Caged, afirma também que a maior tendência de contratações está no setor logístico. Entre 2017 e 2024, o número de temporários contratados para a posição de auxiliar de logística cresceu, 4229%. Em 2017, a quantidade de temporários para a posição era de 1 mil, já em 2024, foi de 46,6 mil. Segundo ela, a tendência é atribuída ao crescimento do e-commerce. “Não é todo o Brasil que têm uma 25 de Março, então grande parte das compras são online”, afirmou. “Isso impulsiona o número de contratações no setor logístico.” No ano passado, em comunicado para a imprensa, a Amazon anunciou a abertura de 6.500 vagas temporárias para atender à alta demanda da Black Friday e das festas de fim de ano. Neste ano, a Shopee abriu 10 mil vagas, entre temporárias e permanentes, para reforçar o time na temporada de vendas de fim de ano.

Evolução da contratação de auxiliares de logística temporários no Brasil

MAIS LIDAS

Voltar ao topo