Atentado contra senador na Colômbia completa um mês sem explicação clara

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O atentado contra o senador colombiano Miguel Uribe, 39, completou um mês nesta segunda-feira (7) com perguntas em aberto e sem hipóteses claras sobre o planejamento e as motivações do crime. O caso deixa em suspenso a embrionária corrida para as eleições de maio de 2026, na qual o pré-candidato à Presidência, alvo de um ataque a tiros, aparece à frente em uma pesquisa de intenções de voto.

O mais recente desdobramento do caso, no entanto, pode dar pistas importantes para as investigações. No sábado (5), a polícia colombiana capturou Elder José Arteaga Hernández, conhecido como El Costeño, apontado por outros suspeitos como responsável por planejar a tentativa de assassinato —o que o tornaria uma peça-chave para chegar ao possível autor intelectual do crime.

A prisão ocorreu um dia após a Interpol colocar Costeño na lista de difusão vermelha a pedido de autoridades colombianas. Naquele momento, acreditava-se que o suspeito havia saído do país, mas ele foi capturado em Engativá, região de Bogotá perto de Modelia, bairro da capital onde Uribe foi baleado com dois tiros na cabeça e um na perna durante um evento político.

A lista vermelha é o mecanismo para difundir a identidade de um foragido da Justiça aos 196 países-membros da organização, solicitando colaboração policial.

Em entrevista coletiva no domingo (6), o general da polícia Carlos Fernando Triana afirmou que a captura é “extremamente importante e relevante” para o país. “Agora estamos atrás dos mentores desse ato que ameaçou a integridade do senador Miguel Uribe”, afirmou ele.

Trata-se do quinto detido nas investigações —além de Costeño, estão detidos o próprio atirador, um adolescente de 14 anos; William Fernando González Cruz, que aparece em vídeos gravados no dia do ataque dentro de um carro no bairro Modelia; Katherine Martínez, também chamada de Gabriela, que teria entregue a arma ao adolescente; e Carlos Eduardo Mora González, que conduzia o veículo no qual Gabriela estava.

O primeiro a ser preso foi o próprio autor dos disparos, atingido por um tiro na perna durante a perseguição após o atentado. “Perdão, fiz isso por dinheiro, pela minha família”, teria afirmado ao ser contido, confirmando a suspeita de que havia agido a mando de outras pessoas.

Já Carlos González, capturado dias depois, afirma que não sabia nem sequer quem era a vítima e diz ter agido em nome de Costeño —suposto marido de Gabriela, presa no dia 16 de junho. Três dias depois, autoridades detiveram William Cruz, que teria participado de reuniões com os outros suspeitos.

Paralelamente à investigação a respeito dos possíveis envolvidos no crime, autoridades analisam as armas usadas no atentado. A pistola entregue por Gabriela ao adolescente e usada para efetuar os disparos era uma Glock de 9 milímetros modificada para atirar em rajadas, ou seja, em vários tiros de uma vez.

A arma foi comprada no Arizona, nos Estados Unidos, no dia 6 de agosto de 2020, e passou pela Flórida antes de chegar à Colômbia, mas o trajeto até o país sul-americano ainda não está claro.

Dias após o ataque, a procuradora-geral Luz Adriana Camargo afirmou que a investigação tentava descobrir se a pistola já havia sido usada em outros delitos. “Essa costuma ser uma prova que nos dá muitas pistas a respeito do grupo criminoso que pode estar por trás do atentado”, afirmou.

Há ainda dúvidas sobre a quantidade de atiradores, já que apenas metade das 12 cápsulas de bala recuperadas na cena do crime são da Glock usada pelo adolescente —as seis restantes seriam de uma pistola Jericho, que tampouco correspondem às armas dos seguranças de Uribe.

O crime, que reviveu o passado de violência política da Colômbia dos anos 1980, suspendeu a corrida presidencial recém-iniciada na qual o senador se encaminhava para ser um dos principais nomes da oposição a Gustavo Petro, o primeiro presidente de esquerda do país sul-americano da história recente.

A tortuosa condução do caso pelo governo foi mais um motivo de desgaste para o líder, que coleciona crises desde que assumiu o cargo, em 2022.

O mais recente imbróglio se deu na última quarta (2), quando o chefe de gabinete de Petro, Alfredo Saade, compartilhou na rede social X a informação falsa de que um homem havia visto Uribe em uma cadeira de rodas na Fundación Santa Fe, na qual o senador está internado desde o último dia 7.

“Apesar das diferenças com o senador, fiz isso com amor e alegria. À família, peço perdão publicamente”, afirmou dois dias depois.

Gustavo Bolívar, candidato do Pacto Histórico, coalizão que levou Petro ao poder, aparece em terceiro lugar nas intenções de voto de uma pesquisa realizada pela Guarumo y EcoAnalítica de 1º a 5 de julho.

Em um cenário com mais de 60 possíveis candidatos à Presidência, ele pontua 10,5%, atrás da também opositora Vicky Dávila, com 11,5%, e de Uribe, que lidera o levantamento com 13,7% das intenções de voto. Eles estão em empate técnico dentro da margem de erro de 2,2 pontos percentuais.

A família do senador optou por preservar seu prognóstico neurológico, divulgando apenas que o estado de saúde dele é grave. Na última quinta-feira (3), o político passou pelo que provavelmente foi a sua quinta cirurgia. Durante a manhã, sua mulher, Maria Claudia Tarazona, afirmou nas redes sociais que o marido havia saído bem do procedimento e estava estável —sem dar detalhes, como de costume.

No dia 24 de junho, a família de Uribe processou Petro por supostamente ter feito “discursos estigmatizantes e de ódio” contra o senador antes do ataque. A denúncia foi encaminhada a uma comissão da Câmara dos Deputados e pode seguir à Suprema Corte, responsável por julgar presidentes no país.

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