SÃO PAULO, SP, RIO DE JANEIRO, RJ, CURITIBA, PR, BELÉM, PA E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Os atos bolsonaristas realizados pelo país neste domingo (3) contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), e a favor de anistia a Jair Bolsonaro (PL), réu acusado de golpismo, foram marcados pela exaltação a Donald Trump e pela ausência do próprio ex-presidente inelegível e de governadores cotados para substituí-lo nas urnas em 2026, como Tarcísio de Freitas (Republicanos).
A dispersão dos protestos por ao menos 20 capitais e cidades do interior de todas as regiões, além da falta de Bolsonaro e de Tarcísio, que marcou um procedimento médico na mesma data, acenderam um alerta entre os organizadores de que as manifestações pudessem ser esvaziadas, temor que não se concretizou.
No ato principal, na avenida Paulista, em São Paulo, o público foi de 37,6 mil pessoas, segundo contagem realizada pelo Monitor do Debate Político do Cebrap e pela ONG More in Common às 15h33, no auge da concentração, a partir de fotos tiradas por drones e sistemas de inteligência artificial.
Na última manifestação, em 29 de junho, o público medido foi de 12,4 mil. Já em fevereiro do ano passado, no mesmo local, o monitor estimou 185 mil pessoas em defesa de Bolsonaro.
Os atos acontecem quatro dias depois de Trump impor sanções financeiras a Moraes, com base na Lei Magnitsky, e decretar o tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros. As medidas do presidente americano, incentivadas pelo deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está nos EUA, têm o objetivo de pressionar o STF para livrar Bolsonaro do julgamento por tentativa de golpe, previsto para setembro.
Em várias capitais, além de adereços verdes e amarelos e a bandeira do Brasil, os manifestantes levavam bandeiras dos EUA e de Israel e cartazes de agradecimento a Trump. O presidente Lula (PT) também foi alvo dos bolsonaristas.
O próprio ex-presidente, no entanto, não participou pois, desde o último dia 18, tem que cumprir medidas restritivas impostas por Moraes, como usar tornozeleira eletrônica e não sair de sua casa, em Brasília, aos fins de semana. As medidas foram impostas no âmbito da investigação sobre a atuação de Eduardo nos EUA.
Na avenida Paulista, o carro de som reuniu o prefeito Ricardo Nunes (MDB), o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, o pastor Silas Malafaia e o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), além de outros políticos.
Malafaia criticou os presidenciáveis da direita que não compareceram, afirmando que eles arrumaram desculpas. “Vão enganar trouxa. Eu não sou trouxa. Estão com medo do STF? Por isso não chegaram até aqui? Arrumaram desculpa. Por isso, minha gente, que 2026 é Bolsonaro”, disse.
Além de Tarcísio, outros governadores Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), Romeu Zema (Novo-MG) e Ratinho Junior (PSD-PR) estiveram ausentes, ao contrário do ato de abril. No Rio, o governador Cláudio Castro (PL) participou.
Durante a tarde, o governo paulista divulgou que o procedimento médico de Tarcísio, uma radioablação por ultrassonografia, ocorreu sem problemas e que ele receberia alta à noite. Cotado para substituir Bolsonaro na corrida presidencial, Tarcísio tenta se equilibrar entre a lealdade ao bolsonarismo e o verniz de moderação, o que lhe causou arranhões na imagem na crise do tarifaço.
Também proibido de usar redes sociais, Bolsonaro acompanhou as manifestações de casa e afirmou em mensagem divulgada em lista de transmissão: “obrigado a todos”, “pela nossa liberdade”. Um vídeo mostra o ex-presidente vendo pelo celular o ato em Belém, onde a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) participou.
Nos atos do Rio e Belo Horizonte, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e Nikolas, respectivamente, divulgaram no microfone falas de Bolsonaro pelo celular. No telefonema com o filho, o ex-presidente se limitou a dizer: “Obrigado a todos. É pela nossa liberdade, nosso futuro, nosso Brasil. Sempre estaremos juntos”.
Em São Paulo, Eduardo Bolsonaro participou por chamada de vídeo, e foi feita uma chamada de vídeo também com Bolsonaro, que viu o público, mas não falou nada.
O vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) participou em Criciúma (Santa Catarina) há a possibilidade de que ele saia candidato ao Senado pelo estado em 2026.
O prefeito Ricardo Nunes disse à Folha de S.Paulo que a manifestação teve como objetivo pedir “tranquilidade e paz” e que Tarcísio fez falta. “Ele precisou fazer uma cirurgia, vou visitá-lo daqui a pouco. Se tivesse condições, estaria aqui.”
No Rio, no ato que ocupou dois quarteirões da orla em Copacabana, Castro defendeu Bolsonaro, apesar da inelegibilidade, como “única opção” para a eleição de 2026.
Em Brasília, os manifestantes se reuniram próximos à sede do Banco Central. Bolsonaristas trouxeram a frase “Thank you Trump” (obrigado Trump, em inglês). O ato não chegou a ocupar o equivalente a uma superquadra da avenida.
Em Curitiba, o ato ocupou cerca de duas quadras do calçadão da rua 15 de Novembro, no centro. Políticos se revezaram nos discursos, com frases como “Supremo é o povo e soberano só o senhor Jesus”, “parabéns presidente Trump” e “Lula ladrão”.
A organização de atos em diferentes cidades, segundo bolsonaristas, seria uma tentativa de tornar mais acessíveis as manifestações e possibilitar que parlamentares tivessem protagonismo em seus redutos.