O Centro figura entre os lugares mais emblemáticos da cidade de São Paulo. Ainda que o fluxo diário de pessoas se aproxime de 2 milhões ainda há alguma resistência da população em residir na região. Segundo José Augusto Viana Neto, presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Estado de São Paulo (Creci-SP), para voltar a atrair moradores é necessário um combo que inclui incentivo público, melhora da zeladoria e retrofit. De acordo com ele, já é possível notar um esforço do poder público de acelerar o projeto de reabitação da região central, mas ainda levará um tempo para que a melhora das condições seja realmente sentidas. “Acredito que em cinco anos já veremos reflexos positivos, e em dez anos teremos uma situação muito diferente da atual.”
De acordo com a Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento (Smul), entre 2021 e 2024, foram autorizadas a construção de 236 empreendimentos residenciais no perímetro da Subprefeitura da Sé, totalizando 32.257 novos apartamentos distribuídos pelos distritos Sé, República, Bela Vista, Santa Cecília, Bom Retiro, Consolação, Liberdade e Cambuci. “Já temos um público paulistano que vê a região com simpatia. A preocupação é apenas com o retorno da população e a questão da segurança e limpeza”, afirmou.
Confira na entrevista completa.
AGÊNCIA DC NEWS – Como você vê a situação atual de moradia na região central
José Augusto Viana Neto – O número de pessoas que passam pelo centro é grande, mesmo que a aparência atual não seja muito boa. Em bairros distantes ou até em cidades do interior, não há o mesmo fluxo de pessoas que o centro de São Paulo tem. O que faz o comércio funcionar são essas pessoas. Porém, o que ainda falta são moradores.
AGÊNCIA DC NEWS – Como está a situação de venda e locação de imóveis no centro?
JJosé Augusto Viana Neto – Nossas pesquisas indicam um movimento equilibrado. Não temos tido grandes picos de alta ou baixa. O número de placas de “aluga-se” diminuiu, e grandes empresas estão ocupando lojas que estavam fechadas há anos. A revitalização já começou pela própria comunidade, e o centro tem um capital comercial que não se encontra em outros lugares. Está valendo a pena para os empreendedores.
AGÊNCIA DC NEWS – Considerando a situação atual, como você avalia o preço do metro quadrado na região central?
José Augusto Viana Neto – O centro tem características próprias. Algumas áreas têm um valor de metro quadrado mais alto e estável, enquanto outras ainda não se valorizaram devido à falta de definição do perfil da região. Áreas como a Rua Aurora, Rua Vitória e Rua Santa Efigênia ainda precisam de mais investimento. Por outro lado, regiões como a Rua Boa Vista, Rua 15 de Novembro e Rua Direita estão mais depreciadas, mas há áreas como o miolo da Rua 24 de Maio, Conselheiro Crispiniano e Xavier de Toledo que estão se recuperando e valorizando.
AGÊNCIA DC NEWS – O que pode facilitar o retorno da população? A lei do retrofit vai ajudar?
José Augusto Viana Neto – Eu acredito muito que o projeto dará certo porque temos uma região com uma infraestrutura maravilhosa. Já temos um público paulistano que vê a região com simpatia. A preocupação é apenas com o retorno da população e a questão da segurança e limpeza. A partir do momento em que houver credibilidade na segurança e as pichações forem eliminadas, acredito que o retorno dessa população se dará com facilidade. Até porque, para os comerciantes, uma das coisas mais cobiçadas no centro é o número de pessoas circulando. São Paulo tem uma infraestrutura maravilhosa e uma arquitetura muito bonita, o que atrai as pessoas. Acredito que, com a lei do retrofit e a revitalização dos prédios, veremos uma mudança positiva. A previsão de estabelecimentos comerciais na base dos prédios também será um grande atrativo.
AGÊNCIA DC NEWS – Fora segurança e zeladoria, o que mais falta em termos de incentivo econômico?
José Augusto Viana Neto– Os incentivos fiscais atuais são de grande importância e despertam o interesse dos comerciantes. Além disso, a Associação Comercial deve promover workshops, visitas técnicas e passeios monitorados pelo centro para atrair comerciantes e empresas a abrirem filiais na região.
AGÊNCIA DC NEWS – Em quantos anos veremos o centro mais revitalizado?
José Augusto Viana Neto – Eu imaginava que já estaríamos em uma situação melhor. Arriscar uma previsão é difícil, devido à complexidade das questões envolvidas, como a população de rua, segurança e pichações. Porém, vejo que as autoridades estão interessadas em resolver esses problemas para que a ocupação aconteça. Acredito que em cinco anos já veremos reflexos positivos, e em dez anos teremos uma situação muito diferente da atual.
AGÊNCIA DC NEWS – O que você acha sobre a mudança do Governo do Estado para o centro?
José Augusto Viana Neto – Acredito que a revitalização antecede essa mudança. A revitalização já está acontecendo. Muitos prédios foram revitalizados e estão dando certo. Algumas regiões do centro já mostram progresso, como a Rua 24 de Maio, Conselheiro Crispiniano e Barão de Itapetininga, onde há lojas estabelecidas e um movimento crescente.
AGÊNCIA DC NEWS – Como você vê a continuidade desse projeto caso haja mudança na administração?
José Augusto Viana Neto – Mudanças sempre são traumáticas. Se um novo prefeito não tiver intimidade com o projeto, precisará ser conscientizado antes de decidir avançar. Mesmo com uma nova administração, muitos funcionários concursados continuarão trabalhando nesses projetos.
AGÊNCIA DC NEWS – Esse movimento também pode estimular novos núcleos de varejo pela região?
José Augusto Viana Neto – Acredito que sim. Se um grupo de empresários decidir transformar uma rua em uma “Rua das Grifes”, seria um projeto excelente, como um shopping a céu aberto. A região da República, por exemplo, seria muito agradável para isso. O número de turistas na área central é grande, e um projeto assim teria grande sucesso.