[AGÊNCIA DC NEWS]. No último ano, a alta na venda de máquinas de costura para uso doméstico pela japonesa Brother foi de 74%. Apesar de o propósito da empresa ser o consumidor doméstico, Paulo Akashi, diretor de vendas da marca, diz que parte significativa dos produtos são para pequenos empreendedores individuais. “Existe uma parcela importante que compra por hobby. Mas a maioria vem de costureiros e costureiras”, disse.
As tradicionais costureiras de bairro são parte essencial do mercado têxtil nacional. Segundo Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), elas atuam de forma autônoma e representam, na maioria das vezes, uma segunda renda para mulheres que trabalham menos de 30 horas semanais e estão em vulnerabilidade social – uma forma de alcançarem autonomia econômica e social. “A indústria têxtil é diversa e envolve desde grandes indústrias com alterações industriais até a produção domiciliar”, afirmou.
Conforme a entidade, o segmento têxtil emprega cerca de 2 milhões de pessoas no Brasil, divididos entre atividades industriais formais e costura autônoma. O estudo Mulheres na Confecção, de setembro de 2022, feito pela ONU em parceria com o Ministério Público do Trabalho, olha para esse universo de costureiras. Revela que um a cada quatro empregos de costura no país está no estado de São Paulo, e 12% do total na região metropolitana da capital. As mulheres são a maioria, 62% exercem a profissão na própria residência e de todas as mulheres 80% são mães. O estudo mostra ainda uma distinção por nacionalidade – 50,5% das brasileiras estão satisfeitas com seu trabalho, número que cai para 18,6% entre as estrangeiras.
Segundo Fauze Yunes, presidente da Associação dos Lojistas do Brás (Alobrás), bairro reconhecido pelo turismo têxtil e que movimenta em torno de R$ 30 bilhões ao ano, o setor enfrenta, com certa constância, casos de pessoas, majoritariamente imigrantes, trabalhando em condições análogas à escravidão ou de jornadas de trabalho exaustivas. Yunes afirma que, junto aos seus mais de 500 associados, não há ações diretas de capacitação, formalização ou profissionalização, mas esses assuntos são diretamente discutidos e tratados com o subprefeito da Mooca, Marcus Vinicius Valério, para negociar apoio do poder público e aumentar a formalidade no setor. Atualmente, o Brás tem aproximadamente 6 mil lojas regularizadas em suas 55 ruas comerciais – e, conforme a Alobrás, emprega formalmente 300 mil pessoas.
Em um ponto, tanto a Abit quanto a Alobras concordam: a solução está em programas de conscientização, profissionalização e fiscalização. Pimentel diz que a Abit tem parceria com o Senai para oferecer cursos profissionalizantes nas áreas têxtil e moda. A unidade Francisco Matarazzo, que fica no Brás, é focada no setor. “Nós precisamos criar condições para que esses negócios se formalizem, se qualifiquem”, afirmou Pimentel. Ele disse ainda que, na esfera pública, as medidas também devem partir dos municípios e estados, não apenas do governo federal. “Isso é algo que deve ser combatido e trabalhado para que essas pessoas venham para o mercado formal.”
GERAÇÃO Z – No lado oposto desse universo de costureiras em situação de informalidade e vulnerabilidade trabalhista, o segundo público que mais compra máquinas de costura hoje são jovens da geração Z (nascidos entre 1997 e 2012). De acordo com Paulo Akashi, da Brother, isso estaria ligado ao fato de ser uma geração mais consciente quanto à sustentabilidade – e também pelo interesse na alta personalização de objetos do cotidiano. “O upcycling [reutilizar uma peça de forma customizada e personalizada] tem sido muito implementado por esse público e por estilistas”, disse Akashi. No upcycling, a transformação chega inclusive a mudar a estrutura da peça – uma saia pode virar bolsa, por exemplo. “É um mercado que tem crescido muito nos últimos anos. Essa geração tem procurado voltar para atividades manuais.”