Bancos brasileiros entre fogo cruzado, novidades do tarifaço e outros destaques do mercado

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O que você precisa saber para entender a situação delicada em que se encontram os bancos brasileiros, mais novidades do tarifaço e outros destaques do mercado nesta quarta-feira (20).

**EM FOGO CRUZADO, TODA BALA É PERDIDA**

No total, os bancos perderam R$ 41,3 bilhões em valor de mercado depois das negociações na bolsa brasileira nesta terça-feira (19). O que pode ter acontecido para as instituições financeiras saírem tão prejudicadas das negociações? A resposta é longa.

Um imbróglio econômico, político e judicial tem colocado incertezas no futuro das instituições financeiras brasileiras. O protagonista do enrosco é Alexandre de Moraes.

CANTINHO DO CASTIGO

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) virou alvo da Lei Magnitsky em 30 de julho.

A legislação impõe sanções a violadores dos direitos humanos e, na visão de Donald Trump, Moraes e os ministros da corte suprema estão restringindo demais o ex-presidente Jair Bolsonaro ao julgá-lo por tentativa de golpe.

A aplicação da lei impõe sanções econômicas e de circulação ao atingido: Moraes não pode mais ter um visto americano.

Ainda, o impede de ter contas e fazer negócios com empresas americanas ou que atuem nos Estados Unidos —e aí é que são elas. Não se sabe bem o que isso significa e quais os limites da determinação.

COMO ASSIM?

Dá para deduzir que o magistrado não poderá usar cartões de bandeiras como a Visa ou a Mastercard, ainda que isso ainda não tenha sido determinado, ou abrir contas em instituições como o Bank of America, nativamente americanas.

SIM, MAS…

Quase todos os bancos brasileiros possuem filiais ou negócios nos EUA, captam recursos em dólares e estão conectados com sistemas internacionais (como o Swift, que permite transações em diferentes moedas).

Isso coloca uma pulga atrás da orelha dos banqueiros brasileiros: se eles permitirem que Moraes e outros magistrados tenham contas ou investimentos neles, eles serão sancionados por Washington?

Essa é uma situação que os bancos querem evitar. As punições podem vir em forma de multas, restrições de negócios ou exclusão de sistemas dolarizados —nada que as instituições queiram descobrir.

PISANDO EM OVOS

Para tentar chegar a alguma conclusão sobre o assunto, os bancos chamaram os ministros do STF para conversar. Spoiler: ninguém saiu feliz da sala de reunião.

De um lado, os representantes das instituições financeiras tentavam convencer os magistrados a guardar uma parte de seus recursos em cooperativas de créditos, menos expostas ao sistema financeiro internacional.

Os juízes, contudo, não gostaram nada dessa história. Enxergaram a solução como uma rendição às vontades de Trump e dos americanos —com as quais não concordam, em primeiro lugar.

ÚLTIMO PREGO NO CAIXÃO

Flávio Dino, também ministro do STF, usou uma ação sobre a tragédia de Mariana, que aconteceu em Minas Gerais há 10 anos, para tentar blindar o colega dos efeitos da Lei Magnitsky.

Ele determinou que ordens judiciais e executivas de governos estrangeiros só têm validade no Brasil se confirmadas pelo Supremo.

Com isso, colocou mais uma pulga atrás da orelha dos bancos —o STF pode sancioná-los se decidirem excluir Moraes da sua clientela? Os investidores também sentiram o clima de incerteza e derrubaram as ações de instituições financeiras no pregão de ontem.

Em resumo: a sanção a Moraes cria um problemão para o sistema financeiro brasileiro. Os bancos estão na berlinda. Se forem sancionados, seriam afetadas empresas que precisam de crédito externo, garantias ou que façam qualquer operação de gestão de seus ativos financeiros com transações internacionais.

Isso pode, no limite, tornar impossíveis transações internacionais mediadas por bancos brasileiros com sede nos EUA ou relacionadas a instituições financeiras, empresas e pessoas sujeitos à jurisdição americana —o que seria uma catástrofe econômica.

O cenário limite não é o provável, mas o mercado deve continuar com os cabelos em pé.

**BATE-BOLA**

Já que ocupamos mais espaço do que o normal para explicar o imbróglio que envolve os bancos, Moraes e Trump, vamos para um resumo do que rolou de importante no tarifaço:

Mais taxas sobre o aço. Washington ampliou as tarifas para mais de 400 produtos, entre eles autopeças, produtos químicos, plásticos e componentes de móveis.

“Nos vemos no tribunal”. Os EUA aceitaram o pedido de consulta do Brasil na OMC (Organização Mundial do Comércio). Com isso, os americanos abrem a possibilidade de uma reunião com a delegação brasileira.

Dólar para cima, bolsa para baixo. Com o peso dos bancos, o principal índice da bolsa brasileira, o Ibovespa, caiu 2,10%. O dólar teve alta de 1,23% e terminou a terça-feira cotado a R$ 5,500.

**OS 1% CADA VEZ MAIS RICOS**

Já ouviu falar que dinheiro chama dinheiro? Não é mágica nem mistério: o ditado é realidade no Brasil —o que mostra um cenário difícil ao combate da desigualdade de renda.

O país registrou aumento significativo no nível de concentração de renda de 2017 a 2023, sobretudo no topo da pirâmide, explicado principalmente pela substituição da renda do trabalho pelos lucros e dividendos isentos de Imposto de Renda.

NO MICROSCÓPIO

Os economistas Frederico Nascimento Dutra, Priscila Kaiser Monteiro e Sérgio Wulff Gobetti analisaram declarações do IRPF (Imposto de Renda da Pessoa Física).

Com base no que viram, eles afirmam que houve “uma mudança estrutural” que se agravou no pós-pandemia.

ESTRUTURAL? COMO?

O rendimento das pessoas que estão entre o 1% mais rico da população cresceu 4,4% ao ano de 2017 a 2023.

O número está bem acima da expansão na renda média das famílias brasileiras —apenas 1,4% acima da inflação.

CHEIO DE OURO

O ritmo se intensifica entre as pessoas que estão nos estratos ainda mais elevados.

O crescimento foi de 6,9% para quem está no 0,1% de maior renda. E vai a 7,9% para os brasileiros que estão no chamado Top 0,01%.

O QUE ACONTECEU?

Um dado relevante extraído dos números da Receita é o aumento no valor dos lucros e dividendos distribuídos aos sócios de empresas, que explica a maioria do aumento da concentração de renda.

Para o 0,1% mais rico, por exemplo, 66% do ganho de participação vem desse tipo de rendimento.

No mesmo período, houve queda na contribuição vinda da renda de salários, “sinal de um forte processo de pejotização”, segundo o estudo.

E MAIS

Uma hipótese levantada pelos economistas é a de que a inflação doméstica elevada, somada à alta dos preços internacionais de algumas commodities, possa ter impulsionado os lucros obtidos por grandes empresários e exportadores.

Estados voltados ao agronegócio, como os do Centro-Oeste, estão entre aqueles em que a renda do “top 1%” mais avançou.

**QUEM DEIXOU?**

Alguém esqueceu de avisar o governo brasileiro que abriria um concurso global para identificação de sítios arqueológicos na Amazônia. A OpenAI, empresa que gere o ChatGPT, tem causado mal-estar entre grupos de pesquisadores do país com a iniciativa repentina.

E PEDIR AUTORIZAÇÃO, NADA?

O governo brasileiro, por meio do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), pediu explicações à OpenAI sobre a ideia da empresa —que não consultou os órgãos oficiais antes de lançar a ideia.

A pasta, que diz “observar com preocupação” a iniciativa, também solicita que não se divulguem mapas com a localização desses sítios até um acordo com órgãos competentes.

TÚNEL DO TEMPO

O concurso se intitula OpenAI to Z Challenge, em referência à lenda da cidade perdida de Z, que o explorador britânico Percy Harrison Fawcett acreditava existir em algum lugar na floresta em Mato Grosso.

Ele, o filho e um amigo desapareceram no Alto Xingu enquanto buscavam o tal lugar mítico, há cem anos —e a empresa de inteligência artificial lançou o desafio próximo ao aniversário da expedição.

E o que o ChatGPT tem a ver com isso? A ideia da companhia é que os aventureiros usem a ferramenta de IA junto a bases de dados abertos, com imagens de satélite, diários coloniais, relatos orais indígenas, entre outros, para fazer descobertas em especial na Amazônia brasileira, mas também em países vizinhos.

A empresa vai distribuir US$ 400 mil (R$ 2,4 milhões) em prêmios, divididos entre dinheiro e créditos para usar a API do modelo de IA.

E qual o problema? Calma, gafanhoto, você não acha que já existem muitos especialistas trabalhando nos estudos da floresta amazônica? Grupos de arqueólogos protestam pelo fato de o desafio não mencionar diretrizes éticas para esse tipo de pesquisa, que incluem a busca de aval das populações locais.

Uma convenção da OIT (Organização Internacional do Trabalho), formulada antes da popularização da IA, garante aos indígenas o direito à “consulta livre, prévia e informada” quanto a pesquisas que afetem seu território.

A empresa afirma que os participantes vão utilizar exclusivamente dados que já são públicos e promete que o trabalho deles não será usado para treinar modelos de IA nem para fins comerciais.

**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**

Mais um passo. A Câmara Legislativa do Distrito Federal autorizou BRB a comprar o Banco Master. O projeto segue para a aprovação do governador distrital, mas ainda precisa do aval do Banco Central.

Aumentado a clientela. O Brasil fechou um acordo com a Indonésia para a exportação de carne bovina com osso, miúdo e outros —trato importante em um momento de incerteza do setor com o tarifaço.

Abrindo as asinhas. A parceria com a Air Europa permitiu que a Azul começasse a operar em 10 novas cidades europeias, na Itália, Espanha e Portugal.

Investigação. A CPI do INSS mira consignado e irmão de Lula quatro meses após escândalo estourar. A oposição tenta reavivar escândalo que veio à tona em abril.

Falando em moda… a febre dos bonecos Labubu fez o lucro da Pop Mart, rede chinesa que fabrica o acessório, disparar 397% no primeiro semestre.

Vista para o nada. “Cadê a janela que estava aqui?”, se perguntaram os passageiros da Delta e da United Airlines. As companhias são acusadas de vender assentos na janela sem janelas.

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