O setor de bares e restaurantes prevê um final de ano movimentado. Segundo levantamento da Abrasel, 78% dos empresários entrevistados esperam aumento nas vendas em comparação com o mesmo período de 2023. Esse otimismo reflete a expectativa de crescimento no poder de compra impulsionado pelo pagamento do 13º salário em um mercado de trabalho altamente aquecido – a taxa de desocupação está 6,4% no trimestre encerrado em setembro, a segunda menor desde dezembro de 2013 (6,3%). Esse cenário positivo chega em um momento importante, pois 62% dos estabelecimentos dizem operar sem lucro, enfrentando desafios como a pressão da inflação e o aumento dos custos operacionais, que reduzem as margens de lucro.
O levantamento também revela dados sobre o impacto das apostas online, conhecidas como bets, no setor de alimentação fora do lar. Cerca de 62% dos empresários notaram redução na frequência dos consumidores nos estabelecimentos. Desses, 60% acreditam que isso ocorreu após a liberação das bets no Brasil e 86% relacionam essa queda aos hábitos de aposta online. “Os serviços de apostas e jogos estão desviando cada vez mais receitas que poderiam ser direcionadas ao consumo na economia”, disse Paulo Solmucci, presdente-executivo da Abrasel. Para ele, com o aumento da renda média no país, setores como comércio e serviços poderiam estar registrando resultados melhores. No entanto, quando as pessoas destinam seu dinheiro para as apostas, elas acabam reduzindo o poder de compra, o que resulta em menos atividades de lazer, e frequentar bares e restaurantes.
Além dos impactos nas finanças e na escolha de consumo dos clientes, a pesquisa mostra que as apostas online afetam também os colaboradores. Cerca de 63% dos empresários percebem mudanças no comportamento dos funcionários devido ao envolvimento com apostas esportivas, o que vem trazendo desafios para a gestão de equipes. “Com as bets, os funcionários estão se endividando, faltando ao trabalho e tendo problemas psicológicos que afetam suas relações interpessoais”, afirmou Solmucci. Ainda segundo a pesquisa, 44% dos donos de bares e restaurantes acreditam que as apostas online têm influência na gestão ou no resultado de seus negócios.
CICLO VICIOSO – Segundo Solmucci, além de prejudicar o bem-estar mental dos colaboradores, isso também compromete diretamente a qualidade do serviço prestado, criando um ciclo vicioso que diminui a produtividade e gera insegurança financeira. O presidente do Conselho da Abrasel São Paulo, Joaquim Saraiva, levantou alguns pontos que podem contribuir para essa dificuldade com as apostas online. Para ele, o principal é a conscientização. “É importante mantermos os funcionários informados dos efeitos nocivos e possível vício que as apostas podem gerar, com efeito devastadores no orçamento familiar”, afirmou.
Em outubro, a Abrasel assinou, junto a outras instituições representantes dos setores de comércio e serviços, um manifesto pedindo a regulamentação das propagandas e do acesso aos jogos de apostas online. O documento apontava ações que podem ser implementadas imediatamente para conter o crescimento desenfreado das bets, como o bloqueio de cartões de crédito para apostas e uma tributação maior na operação. “No Brasil, a oferta de crédito é muito acima da capacidade de pagamento dos consumidores, o que cria situações de endividamento”, disse a associação em comunicado.
CONTRATAÇÕES – Pelo lado positivo, por causa da expectativa de aumento na demanda no final do ano, as contratações em bares e restaurantes também ganham força. Segundo a pesquisa da Abrasel, 40% dos empresários pretendem ampliar o quadro de funcionários. “Com mais colaboradores, os estabelecimentos estarão mais bem equipados para lidar com a alta de clientes e proporcionar uma experiência positiva”, afirmou Solmucci. Para atrair novos talentos, os empresários estão adotando diversas estratégias.
Cerca de 40% dos que planejam contratar afirmam que implementarão premiações por desempenho, criando um ambiente de competitividade saudável. Além disso, 26% deles estão investindo em cursos e treinamentos para capacitar suas equipes, enquanto 23% planejam oferecer salários acima da média do mercado para se destacar na atração de profissionais qualificados.
Pelo lado dos clientes, Joaquim Saraiva acrescentou que os estabelecimentos estão investindo em estratégias focadas no final do ano, como pacotes atrativos para confraternizações de empresas e grupos de amigos, ceias de Natal via delivery, funcionamento para jantares de Natal e réveillon e até abertura para almoço no dia 1 de janeiro.