Black Friday mina rentabilidade e esvazia o Natal, mas é difícil mudar, diz diretor da LG

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A próxima Black Friday será a última para as geladeiras de baixa eficiência energética. A partir de junho de 2026, o varejo só poderá vender geladeira com o novo selo aprovado pelo Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia), que garantem eficiência até 20% maior que o padrão anterior, dependendo da classe e da categoria do produto, segundo a Eletros (Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos).

A indústria, por sua vez, só poderá fabricar geladeiras com a classificação antiga até o próximo 31 de dezembro.

Hoje a tabela de selos parece um tanto confusa: começa em A+++ (indicação dos eletrodomésticos mais eficientes), seguida por A++, A+, A, B, C, D e E (o menos eficiente). A partir de 2026, vão sair da fábrica apenas com a classificação A, B e C. O Inmetro deve fiscalizar o cumprimento das novas regras.

Já faz alguns anos que a multinacional coreana LG comercializa no Brasil apenas produtos importados com classificação A+++. Mas está preocupada com a próxima Black Friday.

“O varejo pode procurar liquidar os eletrodomésticos de menor eficiência energética, deixando os mais eficientes em segundo plano”, diz Roberto Barboza, vice-presidente de vendas de linha branca da LG Brasil. Ainda assim, a marca tem como meta crescer entre 8% e 9% em relação à ultima Black Friday.

A data é a época do ano mais importante para o setor de eletrodomésticos, respondendo por cerca de 35% das vendas anuais da LG, que antecipa lançamentos para aproveitar o mês de novembro. Mas para garantir um volume maior, é preciso vender com margens baixas.

“A Black Friday mina a rentabilidade de todo mundo, varejo e indústria, mas é difícil mudar”, diz ele, lembrando que os consumidores se acostumaram à data promocional. “A Black Friday esvaziou o Natal. O setor de eletrodomésticos têm um mês de Black e depois só uma campanha de saldão na primeira semana de janeiro.”

Segundo Barboza, existe a preocupação de trazer mais vendas a dezembro, o que exige novas ativações do varejo em parceria a indústria. O fabricante define metas com cada varejista, trabalhando um mix de produtos que costuma variar de uma rede ou marketplace para outro. “Se eu vendi metade do que esperávamos vender, fazemos ações de ponto de venda, envolvendo preço e mídia ao longo do mês de dezembro. A última opção é o saldão de janeiro.”

A filial da multinacional coreana, porém, deve garantir margens melhores em 2026, quando inaugura uma nova fábrica em Fazenda Rio Grande, na região metropolitana de Curitiba. Com investimentos de R$ 1,5 bilhão, a nova planta vai produzir em um primeiro momento cerca de 15 modelos de geladeiras, para concorrer de frente com as líderes Whirlpool (marcas Brastemp e Consul) e Electrolux, que têm produção local. O plano da LG é seguir com a fabricação local de máquinas lava-e-seca.

“Hoje trabalho com modelos importados e só consigo colocar 60 geladeiras em um contêiner”, diz Barboza. Com isso, o produto mais em conta da marca, um refrigerador de 375 litros, é oferecido em torno de R$ 3.300. Um modelo similar da Consul, por exemplo, de 340 litros, sai por R$ 2.400.

A LG já tem um complexo industrial na Zona Franca de Manaus, onde produz aparelhos de micro-ondas, ar-condicionado, TV e áudio. Em todo o país, soma 3.000 funcionários diretos. Em 2021, quando tomou a decisão de sair do mercado de celulares, fechou a sua fábrica em Taubaté (SP). De acordo com Barboza, a concorrência feroz com a Samsung em nível global em torno dos smartphones impactava a rentabilidade da LG, que preferiu investir em baterias veiculares.

No Brasil, a LG já conseguiu superar a Samsung em geladeiras: no acumulado de janeiro a agosto deste ano, atingiu participação de 3,7% em volume, contra 2,2% da Samsung, que também importa o produto. Os dados são da consultoria NielsenIQ, que faz a medição das vendas de eletrodomésticos. Em 2024, foram comercializadas no Brasil 4,8 milhões de geladeiras, um negócio de R$ 16,4 bilhões, que avançou 16% sobre 2023.

“A LG não toma decisão de investir em um novo segmento até que ela tenha a certeza de que pode se tornar uma das líderes do mercado”, afirma Barboza. “Hoje, as duas líderes [Whirlpool e Electrolux] concentram 75% das vendas. Mas tinham 85% há cinco anos e vão ter cada vez menos daqui para frente.”

Quem também quer um pedaço deste mercado é a chinesa Midea. Com fábrica de refrigeradores e lavadoras em Pouso Alegre (MG), inaugurada em dezembro passado, a sua estratégia é trabalhar em uma faixa de preço um pouco menor que a das líderes.

Diferentemente da LG, no entanto, a marca –que na América Latina se uniu à americana Carrier– não está incomodada com a venda de produtos de menor eficiência energética nesta Black Friday.

“Se eu tiver a oportunidade de liquidar agora os meus produtos que levam o selo antigo, melhor”, diz Simone Camargo, diretora de marketing da Midea Carrier.

A executiva, porém, compartilha da percepção da LG, de que o Natal perdeu relevância para a venda de eletrodomésticos. Para esta Black Friday, a meta da Midea é aumentar as vendas em dois dígitos.

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