Bolsonaristas minimizam impactos após Trump ignorar Bolsonaro em telefonema a Lula

Uma image de notas de 20 reais

Imagem gerada por IA

BRASÍLIA, DF, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Donald Trump não citou o nome de Jair Bolsonaro (PL) no telefonema desta segunda-feira (6), de cerca de 30 minutos, com Lula (PT), apesar de o julgamento do ex-presidente no STF ter sido um dos argumentos usados pelo governo dos EUA para aplicação de sanções contra o Brasil.

A relação amistosa entre o presidente americano e o brasileiro foi minimizada por bolsonaristas, que buscaram destacar o que apontam um revés político para Lula: a indicação do secretário de Estado, Marco Rubio, da ala mais ideológica do governo Trump, para a continuidade das negociações.

Na conversa, Lula pediu a Trump a retirada do tarifaço imposto pelo republicano ao Brasil. O petista também solicitou que Trump suspenda “medidas restritivas aplicadas contra autoridades brasileiras” —o republicano cassou vistos de auxiliares de Lula e autorizou sanções financeiras contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

Moraes também não foi nominalmente citado, segundo testemunhas da conversa. Ainda segundo relatos, a conversa transcorreu de forma descontraída. Lula chegou a dizer que não tinha inimigos. Em resposta, Trump disse que os tem.

O bolsonarista Paulo Figueiredo, parceiro do deputado Eduardo Bolsonaro (PL) na ofensiva por sanções de Trump, minimizou os impactos da ligação entre os dois presidentes. Em publicação na rede social X, disse que “a luz no fim do túnel é um trem”.”Trump colocou MARCO RÚBIO para NEGOCIAR com o Brasil. Zero de avanço! O grau de desconexão com a realidade é patológico”, escreveu.

Figueiredo também repostou análise do jornalista Brian Winter que classifica Rubio como “um cético de longa data em relação a Lula”. O texto diz ainda que o secretário de Estado pode “insistir em demandas relacionadas à Venezuela, China e muito mais”.

O ex-secretário de Comunicação da Presidência Fábio Wajngarten fez uma comparação irônica com a indicação do deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP) para ser o relator do projeto de anistia, rebatizado posteriormente como projeto da dosimetria das penas.

“A indicação por parte do governo [Donald] Trump do secretário Rubio para que ele seja a interlocução com o governo brasileiro tem exatamente o mesmo poderio que indicar Paulinho da Força e Aécio [Neves] para aprovação da anistia”, afirmou.

“Aguardem as cenas dos próximos capítulos, peguem a pipoca”, acrescentou.

Na conversa com Trump, como prova de sua disposição ao diálogo, Lula lembrou que, em seus primeiros governos, manteve bom relacionamento com o ex-presidente americano George W. Bush, também republicano.

No final, os dois presidentes trocaram seus números de telefone para que possam se falar sem intermediários. No telefonema, Trump e Lula falaram até do vigor físico.

Já de início, Lula comentou estar prestes a completar 80 anos, sendo seis meses mais velho que Trump. O presidente americano disse ter vigor de 40 anos, segundo relatos. Lula, por sua vez, afirmou ser movido por uma causa.

Como antecipou Mônica Bergamo, o republicano disse que o encontro que tiveram na Assembleia Geral da ONU, no mês passado, foi uma das “poucas coisas boas” que aconteceram a ele no evento. No telefonema desta segunda, Trump voltou da se queixar dos problemas técnicos enfrentados durante seu discurso, como do teleprompter.

Crítico da ONU, Trump reclamou, em seu discurso na Assembleia, até mesmo da escada rolante, que não funcionou quando ele e a primeira-dama dos EUA, Melania Trump, tiveram que usá-la.

Ainda segundo relatos, Lula pediu que as sanções fossem suspensas para que possam negociar a partir do zero. O americano teria respondido que submeterá a proposta a seu secretariado.

De acordo com comunicado do Palácio do Planalto, Trump escalou seu secretário de Estado, Marco Rubio, para dar sequência às negociações com autoridades brasileiras sobre o tema. Ambos líderes concordaram ainda em realizar uma reunião presencial em breve, e Lula sugeriu a cúpula da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático), no final de outubro na Malásia, como uma opção.

Ainda segundo o comunicado, Lula se colocou à disposição para viajar aos Estados Unidos e encontrar-se com Trump.

“O presidente Trump designou o secretário de Estado Marco Rubio para dar sequência às negociações com o vice-presidente Geraldo Alckmin, o chanceler Mauro Vieira e o ministro da Fazenda Fernando Haddad. Ambos os líderes acordaram encontrar-se pessoalmente em breve. O presidente Lula aventou a possibilidade de encontro na Cúpula da Asean, na Malásia; reiterou convite a Trump para participar da COP30, em Belém (PA); e também se dispôs a viajar aos Estados Unidos”, afirmou o Palácio do Planalto.

A nota do governo descreve que a conversa telefônica durou 30 minutos e ocorreu “em tom amistoso”. Lula e Trump “relembraram a boa química que tiveram em Nova York por ocasião da Assembleia Geral da ONU”, diz o Planalto.

MAIS LIDAS

Voltar ao topo