BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) planeja pedir ao STF (Supremo Tribunal Federal) para ficar em prisão domiciliar caso seja condenado no julgamento da trama golpista, previsto para terminar esta semana na corte.
Somadas, as penas dos crimes imputados ao ex-mandatário chegam a mais de 40 anos. Mas, de acordo com pessoas que mantêm acesso a Bolsonaro, a ideia é extinguir todas as tentativas de recursos. E, se não for possível reverter a condenação, pedir a prisão domiciliar por questões de saúde.
O ex-presidente já está em prisão domiciliar desde o início de agosto, por descumprir medidas cautelares determinadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF.
O julgamento pela 1ª Turma do STF deve terminar nesta sexta-feira (12). Uma eventual prisão, porém, só ocorreria em novembro, nos cálculos dos aliados do ex-presidente. Sua defesa poderia solicitar que ele permanecesse em domiciliar com os laudos médicos feitos até aqui ou, inclusive, solicitar um novo relatório.
Hoje as maiores dúvidas dizem respeito à dosimetria (tempo de prisão) e onde o STF determinaria que ele cumprisse a pena em casa, na carceragem da PF (Polícia Federal) ou na Papuda, o complexo penitenciário de Brasília.
Um interlocutor próximo ao ex-presidente diz acreditar que o Supremo não colocará Bolsonaro para cumprir sentença fora de casa porque haveria risco de morte, e isso politicamente seria ruim para todos.
Além disso, aliados relatam que seu quadro psicológico está abalado, ainda que não cheguem a classificar como depressão.
O caminho para pavimentar o pedido vem sendo traçado nas últimas semanas. O movimento começou quando Bolsonaro decidiu não ir ao STF acompanhar seu julgamento seus advogados alegaram que a ausência se deu por motivos de saúde. Como as sessões eram muito longas, ele não aguentaria permanecer o tempo todo no tribunal, devido às crises de soluço e vômitos, segundo aliados.
No mais recente episódio, seus advogados pediram na segunda-feira (8) a Moraes autorização para que Bolsonaro faça um procedimento cirúrgico na pele no domingo (14), após o término do julgamento.
O objetivo é investigar se manchas que têm surgido no corpo do ex-presidente são um possível câncer de pele. Algumas pintas serão retiradas para biópsia.
O ex-presidente já passou pelo mesmo procedimento em 2019, durante seu primeiro ano na Presidência da República. O resultado na época foi negativo.
“Não deu nada. Se fosse câncer, qual o problema? Falaria. Foi câncer? Tem que cortar a orelha? Tira, pô. Não estou preocupado com isso”, disse Bolsonaro na época.
Aliados e familiares vêm dando declarações públicas sobre a situação de saúde de Bolsonaro.
“Eu que acompanho o dia a dia dele, que ele sofre o tempo todo com soluço, passando mal, vomitando. Se [os ministros do STF] botarem ele na cadeia, é porque querem matar o Bolsonaro. Eu espero que não exista esse espírito no Supremo, de querer matar o presidente”, disse o senador Ciro Nogueira (PP-PI) em entrevista recente à Folha.
Ele afirmou ainda que o ex-presidente está muito pior do que em 2022, quando perdeu a reeleição, teve erisipela e ficou deprimido no Palácio da Alvorada.
“Está triste. Não está se alimentando bem. Isso é uma preocupação que eu tenho. Ele está muito debilitado. Tirar o celular do Bolsonaro, que é o tempo todo se comunicando. E uma das coisas que mais dava vitalidade a ele é a rua”, disse o ex-chefe da Casa Civil.
Além disso, Bolsonaro emagreceu segundo relatos como o de seu filho Carlos Bolsonaro (PL), que é vereador pelo Rio de Janeiro.
“O velho [Bolsonaro] está magro, não tem vontade de se alimentar e segue enfrentando intermináveis crises de soluço e vômitos. Dói demais ver tudo isso, mas sinto como obrigação compartilhar um pouco da realidade do momento com todos que estão sofrendo junto conosco”, disse Carlos no último dia 29.
Desde que está preso, Moraes autorizou filhos e cunhados a f azerem visitas sem necessidade de pedir autorização. As demais, precisam passar pelo rito do Judiciário. Dos que estiveram lá no último mês, os relatos são os mesmos: encontraram um Bolsonaro desanimado, indignado e fragilizado.
Alguns buscaram destacar o lado positivo. A senadora Damares Alves (Republicanos-DF), por exemplo, disse que ele estava sereno, ainda que soluçando muito.
Já o presidente do PL, afirmou no último dia 25 que Bolsonaro estava muito abatido. “Mas, se estivesse livre, ele sarava na hora. O estado moral dele é por causa disso”, afirmou.
O próprio Bolsonaro já dá como certa uma condenação. Em entrevista à Folha em março, o ex-presidente já havia dito que uma prisão representaria o fim da sua vida.