BRASÍLIA DF (FOLHAPRESS) – O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se esquivou nesta quinta-feira (17) de qualquer responsabilidade pela decisão de Donald Trump de sobretaxar o Brasil. Ele ainda agradeceu a Deus pela eleição do aliado nos Estados Unidos e culpou o governo Lula (PT) pelo entrave comercial e político com os americanos.
A estratégia de se esquivar é comum a Bolsonaro. Em interrogatório recente no STF (Supremo Tribunal Federal), por exemplo, ele classificou de “malucos” seus apoiadores que acamparam diante de quartéis em 2022 para protestar contra a eleição de Lula e cobrar uma intervenção militar no país.
Foi o próprio Bolsonaro, porém, que incentivou a criação e a manutenção dos acampamentos golpistas que se alastraram pelo país e deram origem aos ataques do 8 de Janeiro.
Nesta quinta-feira, pressionado pela sobretaxa de 50% aos produtos importados brasileiros, Bolsonaro disse não ter “essa liberdade toda” com Trump, mas pediu a devolução do passaporte dele para ir aos EUA negociar com o republicano.
Mesmo tendo sido citado por Trump na carta em que o Brasil foi comunicado do tarifaço, Bolsonaro atacou o governo Lula e disse que as taxas não estão sendo aplicadas somente ao Brasil desconsiderando assim as diferenças de alíquota, na comparação com outros países.
O ex-presidente também ignorou os apelos de sanção feitos pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) aos Estados Unidos, onde está desde março para pressionar o governo americano a tomar medidas contra o STF (Supremo Tribunal Federal) diante da investigação da trama golpista.
“Não é com o Brasil, é com o mundo. Graças a deus o Trump foi eleito, podemos sonhar aqui no Brasil em restabelecer nossa democracia. Eduardo está lutando lá para restabelecer nossa liberdade. Não temos mais liberdade”, disse Bolsonaro.
Segundo Bolsonaro, Eduardo deve continuar nos Estados Unidos. O prazo de afastamento dado a ele pela Câmara dos Deputados acaba neste domingo (20). Após esse período, o deputado pode ser penalizado por faltas e até mesmo perder o mandato parlamentar.
“Pelo que eu sei, ele não vem para cá [para o Brasil]. Ele vai ser preso no aeroporto. Ele está conversando, está no Capitólio [Congresso dos Estados Unidos], está com pessoas próximas ao Trump”, disse o ex-presidente.
A situação política de Bolsonaro, acusado de tentar um golpe de Estado, foi citada por Trump na carta em que anunciou a sobretaxa de 50% sobre os produtos brasileiros importados. Segundo o republicano, o Brasil está fazendo “uma coisa horrível” com o ex-presidente.
Bolsonaro ainda questionou se a exigência por Trump da aprovação de anistia aos envolvidos pelos ataques em 8 de Janeiro o que poderia incluir ele próprio seria pedir muito para reverter a sobretaxa aos produtos brasileiros.
“‘O Trump quer anistia.’ Eu não sei o que ele quer, pergunte para ele. […] Vamos supor que ele queira anistia. É muito? […] É muito, se ele pedir isso aí? Botar na balança”, disse o ex-presidente.
Mais isolado politicamente, o ex-presidente foi nesta quinta ao gabinete no Senado do filho mais velho, Flávio Bolsonaro (PL-RJ), e respondeu a perguntas da imprensa durante cerca de 40 minutos. Bolsonaro disse que hoje não tem condições de negociar, mas poderia ter sucesso indo aos Estados Unidos.
“Eu acho que teria sucesso tendo uma audiência com o presidente Trump. Acho que teria sucesso. Estou à disposição”, declarou Bolsonaro, ao ser perguntado se havia pedido a devolução do passaporte.
Bolsonaro também elogiou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), alvo de duros ataques de Eduardo. O ex-presidente disse que o governador está fazendo mais do que o governo Lula, mas não conseguirá resolver a situação do país.
“Tarcísio está fazendo a parte dele, parabéns para o Tarcísio. Ele está buscando o apoio de exportadores, de empresários, é uma voz importante, o estado de São Paulo. Estado de São Paulo tem quase 40% do PIB”, disse.
“Mas ele não vai, o Trump, no meu entender, resolver a questão de exportadores de São Paulo. É o Brasil como um todo. O Tarcísio faz mais do que, nem sei o nome, o cara do Itamaraty. É tão insignificante que nem sei o nome dele”, concluiu, em referência ao chanceler Mauro Vieira.