[AGÊNCIA DC NEWS]. A “prévia” da inflação oficial registrou em agosto a primeira queda em mais de dois anos, desde julho de 2023. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) ficou negativo em 0,14%, ante 0,33% positivo em julho e 0,19% em agosto do ano passado. Com isso, o indicador soma 3,26% no ano. Em 12 meses, desacelerou para 4,95%. Apenas a energia elétrica residencial contribuiu com -0,20 ponto percentual no resultado mensal, devido à incorporação do chamado Bônus de Itaipu (Lei 10.438, de 2022, artigo 21) nas contas de luz. A alimentação no domicílio (-0,53%) teve queda pelo terceiro mês seguido.
Apesar do “respiro”, o analista Sidney Lima, da Ouro Preto Investimentos, observa que muitos fatores são temporários. “Como o Bônus de Itaipu e ajustes sazonais em alimentos e transporte, o que eleva o riso de reversão”, afirmou. Segundo ele, setores mais sensíveis à inflação, como alimentação, energia e transporte, absorverão o alívio no curto prazo. “E o consumidor deve sentir a diferença no bolso, sobretudo nas despesas domésticas”. Para ele, que usou a expressão “degelo inflacionário”, o resultado não elimina a necessidade de vigilância, pelo Banco Central, “sobre a inflação acumulada e os serviços subjacentes”. Na reunião mais recente, em 29 e 30 de julho, o Comitê de Política Monetária (Copom) interrompeu um ciclo de altas e manteve a taxa básica de juros em 15% ao ano. O próximo encontro será em 16 e 17 de setembro.
Para o CEO da Asset Bank, Gustavo Assis, o resultado indica que os preços no Brasil seguem muito sensíveis a choques específicos, como alimentos e combustíveis, “mas não indica uma mudança estrutural no quadro inflacionário”, disse. No entendimento do executivo, do ponto de vista de empresas e investidores, o dado reforça a importância de analisar tendências de médio e longo prazo, “em vez de se guiar apenas por leituras pontuais.”
Na analise por setor, quatro dos nove grupos que compõem o IPCA-15 tiveram deflação. Incluindo os três de maior peso: Habitação (-1,13% e -0,17 ponto percentual), Alimentação e Bebidas (-0,53% e -0,12 ponto) e Transportes (-0,47% e -0,10 ponto). No primeiro, o IBGE destaca a redução de 4,93% da energia elétrica em agosto, mesmo com a bandeira tarifária vermelha patamar 2 e com reajustes em Belém, Curitiba, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo. Ainda nesse grupo, a taxa de água e esgoto subiu 0,29% (reajuste em Salvador) e o gás encanado aumentou 0,17% (aumento em Curitiba e redução no Rio).
No outro grupo, o instituto apurou variação de -1,02% na alimentação no domicílio. Cita as quedas de preços de itens como manga (-20,99%), batata inglesa (-18,77%), cebola (-13,83%), tomate (-7,71%), arroz (-3,12%) e carnes (-0,94%). A alimentação fora do lar subiu 0,71%: +1,44% para o lanche e +0,40% na refeição. Em Transportes, foram registradas quedas nos preços médios das passagens aéreas (-2,59%), do automóvel novo (-1,32%) e da gasolina (-1,14%), além do etanol (-1,98%), do óleo diesel (-0,20%) e do gás veicular (-0,25%). O IBGE destaca ainda “o reflexo da gratuidade concedida aos domingos e feriados no metrô e no ônibus urbano de Brasília, entre outras regiões. No campo das altas, os jogos de azar, que integram o grupo Despesas Pessoais, tiveram alta de 11,45%. Em Saúde e Cuidados Pessoais, aumentos em itens de higiene pessoal (1,07% e 0,04 ponto) e do plano de saúde (0,51% e 0,02 ponto).
O IPCA-15 teve deflação em oito das nove áreas pesquisadas. A exceção foi justamente a região metropolitana de São Paulo, que tem peso de 33,45% no indicador total: aumento de 0,13%, após alta de 0,40% em julho. A menor taxa foi a de Belém (-0,61%). O IPCA e o INPC deste mês serão divulgados em 10 de setembro.